domingo, 1 de fevereiro de 2009

O Xadrez na Escola

O xadrez não é só um jogo, não é só uma arte e nem é só uma ciência. O xadrez é a mistura de todos estes elementos com um pouco de tempero. E é por esse e por muitos outros motivos que o xadrez é considerado uma ótima matéria para ser aplicada na escola.

Você deve estar perguntando? No que o xadrez influência na educação? Abaixo estão alguns links que podem ajudar a descobrir o porque disso:

1- A criança e as atividades lúdicas
2- Por que jogar xadrez?
3- O valor educativo do xadrez
4- O xadrez como disciplina escolar

A criança e as atividades lúdicas
Em princípio, devemos entender o jogo como uma atividade que obedece ao impulso mais profundo e básico da essência animal. Essa atividade se inicia em nossas vidas com os mais elementares movimentos, complicando-se até dominar a enorme complexidade do corpo humano.

Os primeiros jogos que a criança faz são os chamados jogos de exercício, utilizando como principal objetivo seu próprio corpo. Os bebês chupam suas mãos, emitem sons e repetem diversos movimentos sem finalidade utilitária.

A transição dos jogos de exercícios para os simbólicos marca o início de percepção de representações exteriores e a reprodução de um esquema sensório-motor fora de seus contextos.

Podemos dizer que o jogo simbólico é um jogo de exercício em que o que é exercitada é a imaginação.

Ao chegar ao período das operações concretas (por volta dos 7 anos de idade) a criança, pelas aquisições que fez, pode jogar atendo-se a normas. Surgem então os jogos de regras, e ela terá que abandonar a arbitrariedade que governava seus jogos para adaptar-se a um código comum podendo ser criado por iniciativa própria ou por outras pessoas, mas que deverá acatar limites porque a violação das regras traz consigo um castigo.

Isso ajudará as crianças a aceitar o ponto de vista das demais, a limitar sua própria liberdade em favor dos outros, a ceder, a discutir e a compreender.

Quando se praticam jogos de grupo a experiência se engrandece, já que a sociabilidade é agregada à vida da criança, surgindo assim os primeiros sentimentos morais e a consciência de grupo.

Quando a criança joga compromete toda sua personalidade, não o faz apenas para passar o tempo.

Pode-se dizer, sem dúvida, que o jogo é o "trabalho da infância" ao qual a criança dedica-se com prazer. É fácil perceber, diante disso, o inegável valor educativo que a prática lúdica possui.

Muitos psicólogos afirmam que os primeiros anos são os mais importantes na vida do homem, sendo que a atividade central manifestada é o jogo. É notável o que se pode aprender construindo seus próprios jogos, utilizando conceitos de plano inclinado, polias, velocidades etc., coisas que só serão ensinadas muito depois no período escolar.

O erro que muitos professores cometem é não valorizar em toda sua extensão essa atividade, extraindo o que ela contém de educativo. Podemos sentir na criança que seu ingresso na escola é algo muito diferente de tudo que ela fez até então, que terá obrigações a cumprir, que sua vida dedicada ao jogo terá uma mudança brusca.

Temos que aprender a diferenciar o que significa o jogo para o adulto e para a criança. Para nós adultos, porque assim nos educaram, o jogo é o que fazemos quando não se tem alguma coisa mais importante e desejamos preencher horas vazias com algum lazer. Para as crianças é todo um compromisso no qual lutam e se esforçam se algo não sai como querem.

Por que jogar xadrez?
O xadrez é o segundo esporte mais praticado no mundo, abaixo apenas do futebol. É um grande impulsionador da imaginação, que também contribui para o desenvolvimento da memória, da capacidade de concentração e da velocidade de raciocínio. Foi constatado que o xadrez desempenha um importante papel socializante, por ensinar a lidar com a derrota e com a vitória, mostrando que a derrota não é sinônimo de fracasso nem vitória é sinônimo de sucesso.

O xadrez é capaz de mostrar as conseqüências de atitudes displicentes, que não tenham sido previamente calculadas e, por conseguinte, estimula o hábito de refletir antes de agir, além de ensinar a arcar com as responsabilidades dos próprios atos.

O xadrez é uma arte de grande beleza e apresenta imensa riqueza de possibilidades. É um passatempo agradável e instrutivo que entreteve grandes personalidades de nossa história como Napoleão, Einstein, Voltaire, Goethe, Montesquieu, Benjamin Franklin, Victor Hugo, Machado de Assis e Monteiro Lobato – para citar apenas alguns. E hoje é um esporte que pode ser jogado não presencialmente, através de redes de computadores como a Internet, estando o adversário em qualquer lugar do planeta, e por isso o que mais cresce em adeptos, sendo já considerado o esporte do novo milênio.

Se quisermos também uma explicação científica que mostre os benefícios práticos que podem ser alcançados pela prática desse esporte, poderíamos apresentar opiniões e pesquisas de pedagogos, psicólogos, intelectuais e instrutores de xadrez. Resumindo os resultados, conclui-se o xadrez contribui para o desenvolvimento das faculdades mentais.

Num estudo realizado na ex-Alemanha Oriental, comparando o desenvolvimento de grupos de estudantes de diversas idades, separando-os em dois grupos: os que jogavam e os que não jogavam Xadrez, concluiu-se que:
* O xadrez estimula a atividade intelectual e estabiliza a personalidade de crianças e jovens durante seu crescimento. Isso é evidente, sobretudo, na puberdade: crianças que jogam xadrez apresentam menos crises decorrentes das transformações dessa fase etária do que as que não jogam.
* O raciocínio lógico e a capacidade de cálculo são estimulados, produzindo excelentes resultados no desempenho escolar, com destaque particularmente notável nos casos da Física e da Matemática.
* Em aspectos gerais, os alunos que jogam xadrez apresentam nítida superioridade em força de vontade, tenacidade, memória e concentração.
* O xadrez ensina a criança a avaliar as conseqüências dos seus atos, tornando-as mais prudentes e responsáveis.

Também em pesquisas realizadas na Inglaterra, chegou-se à conclusão de que a concentração e a habilidade em formular e posteriormente concretizar planos no tabuleiro contribui significativamente para a tomada de decisões e execução das mesmas no jogo muito mais importante, que é o jogo da vida.

No caso das crianças e jovens, o xadrez estimula o desenvolvimento intelectual; no caso dos adultos e idosos, o xadrez contribui preservando por mais tempo a agilidade mental.

Educar o raciocínio
O xadrez merece crédito, porque ensina às crianças o mais importante na solução de um problema, que é saber olhar e entender a realidade que se apresenta.

E, além disso, aprender que as peças no xadrez não têm valores absolutos, que se deve controlar a posição das demais peças, tanto as próprias quanto as do adversário, para armar uma estratégia. Ter a percepção de flexibilidade e reversibilidade do pensamento que ordena o jogo.

Quantas vezes podemos notar crianças fracassando em matemática, por exemplo, ao não entenderem o que o enunciado do problema lhes diz? Não sabem analisá-lo, aprendem fórmulas de memória; quando encontram textos diferentes não acham a resposta correta.

Deve-se conseguir que as crianças encontrem seu próprio sistema de ação e, para isso, tem-se que evitar, sempre que possível, as soluções mecanizadas.

Assim, na escola secundária, com os dados de um teorema e sua idéia, a demonstração pode ser encontrada pelo aluno, porém, para que isso aconteça, é importante um certo treino na escola fundamental.

Nossa idéia é que em uma época na qual os conhecimentos nos ultrapassam em quantidade e a vida é efêmera, a melhor ferramenta que a criança pode obter em sua escolaridade é um pensamento organizado.

O valor educativo do xadrez
Partindo da premissa de que o desenvolvimento do raciocínio é elemento fundamental para que a cidadania se efetive, apresentamos o jogo de xadrez como complemento à educação escolar.

Esta atividade proporciona não apenas mais uma opção de lazer, mas a possibilidade de valorizar o raciocínio através de um exercício lúdico. Segundo Charles Partos, mestre internacional suíço, o aprendizado e a prática do xadrez desenvolvem as seguintes habilidades:
1. a atenção e a concentração;
2. o julgamento e o planejamento;
3. a imaginação e a antecipação;
4. a memória;
5. a vontade de vencer, a paciência e o autocontrole;
6. o espírito de decisão e a coragem;
7. a lógica matemática, o raciocínio analítico e sintético;
8. a criatividade;
9. a inteligência;
10. a organização metódica do estudo;
11. o interesse pelas línguas estrangeiras.

Deve-se ter em mente que o xadrez reproduz uma situação de guerra, mas num contexto lúdico. Cada jogador funciona como um general na condução de um exército. Suas decisões são fundamentais para ganhar ou perder a partida, reproduzindo em escala diminuta o que poderia acontecer em uma batalha.

Acreditamos que o projeto Xadrez na Escola pode desenvolver as habilidades cognitivas citadas, bem como democratizar este jogo-arte-ciência, cuja origem e história perdem-se no tempo.

Atualmente no Brasil, a transcendentalidade no currículo escolar tem sido um dos aspectos mais positivos para a educação integral. Nesse aspecto, o Xadrez tem demonstrado, nos países em que é adotado como disciplina curricular, ser tão importante quanto as disciplinas artísticas e científicas, pois enquanto esporte desenvolve habilidades; enquanto arte estimula a imaginação diante de inúmeras possibilidades que se apresentam; enquanto ciência exige acurado estudo teórico e a elaboração de cálculos precisos.

QUADRO COMPARATIVO DAS CARACTERÍSTICAS DO XADREZ E SUAS IMPLICAÇÕES EDUCATIVAS

Características do xadrez:
* Concentração enquanto imóvel na cadeira
* Fornecer um número de movimentos num determinado tempo
* Movimentar peças após exaustiva análise de lances seguintes
* Encontrado um lance, procurar outro melhor
* De uma posição em princípio igual, direcionar a uma conclusão brilhante (combinação)
* O resultado indica quem tinha o melhor plano
* Entre várias possibilidades, escolher uma única, sem ajuda externa
* Um movimento deve ser conseqüência lógica do anterior, devendo apresentar o seguinte.

Implicações nos aspectos educacionais e de formação do caráter:
* Desenvolvimento do autocontrole psicofísico
* Avaliação da hierarquia do problema e a locação do tempo disponível
* Desenvolvimento da capacidade para pensamento abrangente e profundo
* Empenho no progresso contínuo
* Criatividade e imaginação
* Respeito à opinião do interlocutor
* Capacidade para o processo de tomar decisões com autonomia
* Capacidade para o pensamento e execução lógicos, autoconsistência e fluidez de raciocínio.

"A impossibilidade de conhecer o melhor lance em uma partida de xadrez é que eleva o xadrez de um jogo científico para uma forma de arte, um meio de expressão individual”.John R. Bowman (físico)

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