terça-feira, 16 de junho de 2009

1º Torneio Internacional de Xadrez Online

Interessante iniciativa do site Mundial Chess que permitirá a participação de qualquer enxadrista interessado, independente do seu nível técnico, de qualquer lugar do mundo.

A disputa será realizada em três torneios distintos de xadrez:


1º Torneio Internacional Online para jogadores sem Elo (FIDE);
1º Torneio Internacional Online para jogadores com até 2200 pontos Elo (FIDE);
1º Torneio Internacional Online para jogadores com mais de 2201 pontos Elo (FIDE).

Todos os torneios serão disputados no sistema suíço de emparceiramento, com partidas de 30 minutos, 15 minutos, 3 minutos e morte súbita até definir o vencedor final.

É do conhecimento de todos que existem muitos torneios de xadrez online, mas a menos que eu esteja enganado, nenhum que tenha sido dotado com prêmios de mais de 130.000 euros.
Alem disso, os ganhadores poderão disputar uma partida de xadrez ao-vivo contra uma das estrelas do xadrez mundial participantes do VIII Festival Internacional de Xadrez de Benidorn.


É importante destacar que tanto a viagem a Benidorn como a estadia no Grande Hotel Bali estão incluídas no prêmio.

O período de pré-inscrição já está aberto e (assim como demais informações) pode ser feito no endereço: http://www.mundialchess.com/chessonline/es

(by Mario Vaz)

domingo, 7 de junho de 2009

Ciladas na abertura – o peão envenenado

No tema “peão envenenado” a dama ganha um peão em troca do atraso no desenvolvimento de suas peças e de ficar em uma situação delicada, exposta a ameaças por parte das peças inimigas.Seguem abaixo algumas miniaturas onde a dama captura o chamado “peão envenenado” e acaba se dando mal.

Vaisser, Anatoli - Mutzner, Andreas [A80] Mendrisio, 1989
1.d4 f5 2.Nc3 Nf6 3.Bg5 d5


4.Bxf6 exf6 5.e3 c6 6.Bd3 Qb6


7.a3 Qxb2 8.Na4 [Este lance é uma idéia típica neste tipo de posição em que o peão de b2 é atacado pela dama do adversário. Protegendo a casa b4 a dama, caso capture o peão, não terá como escapar]

7... Qxb2? [o correto é: 7...Bd6] 8.Na4 1-0


Nieto, Luis - Moreno, W [A43] Lima, 2007
1.d4 c5 2.Nf3 cxd4 3.Nxd4 d5


4.e3 [o melhor é: 4.g3] e5

5.Nf3 [o melhor é: 5.Bb5+ Bd7

6.Bxd7+ Qxd7 7.Nf3 Nc6] Nc6

6.c4 d4 7.a3 a5 8.Be2 Bf5

9.Qb3 d3 10.Qxb7 Nge7

11.Bd1 Rb8 1-0

Nesta partida é o jogador com as peças brancas que se arrisca capturando o peão de b7 e sua dama acaba sofrendo as conseqüências.
Na posição final, se as brancas jogam 12.Qa6, as negras jogam 12...Rb6 e a dama não tem como escapar.


Ragger, Markus - Herbers, Charles [C45] Dos Hermanas, 2004
1.e4 Nc6 2.Nf3 e5 3.d4 exd4

4.Nxd4 Bc5 5.Be3 Qf6

6.Nb5? (o correto é: 6.c3) Bxe3

7.fxe3 Qxb2? (o correto é: 7...Qh4+)

8.N1c3 Nb4 9.Rb1 Nxc2+ 10.Kf2 0-1


Luther, Thomas - Kersten, Uwe [B97] Bad Zwesten, 2002
1.e4 c5 2.Nf3 d6 3.d4 cxd4

4.Nxd4 Nf6 5.Nc3 a6 6.Bg5 e6

7.f4 Qb6 8.Qd2 Qxb2 9.Nb3

9...Nbd7? (o correto é: 9...Qa3)

10.Bxf6 gxf6 11.Be2 Nc5

12.0–0 Bd7 13.Rab1 Nxb3?

(o correto é: 13...Qa3) 14.axb3 Qa3

15.b4 Rc8 16.Rb3 1-0

(by Mario Vaz)

Estão trapaceando no xadrez atual?

Esta é a pergunta que muitos enxadristas estão fazendo hoje em dia desde o momento em que alguns dos melhores jogadores do mundo começaram a acusar-se mutuamente, a partir de 2005, levantando uma enorme nuvem de suspeita em torno do mundo do xadrez, o que pode trazer muito dano no futuro, pois começaremos a duvidar de qualquer jogador que se destaque dos demais.

As acusações mais importantes começaram após o Campeonato Mundial de São Luis, onde Topalov não encontrou um rival e seu jogo foi muito superior aos demais.

Foi uma relativa surpresa para o mundo do xadrez, pois até então Topalov já havia demonstrado ser um bom jogador, porém seu domínio “esmagador” sobre os adversários recordou os tempos de Kasparov.

Jogadores como Morozevich e Svidler expressaram suas duvidas a respeito das partidas de Topalov, por serem demasiado perfeitas e parecidas com o que sugeriam alguns programas de xadrez. Também comentaram que as medidas de segurança tomadas pela organização foram escassas, o que facilitaria bastante que alguém fizesse algum tipo de trapaça.

É claro que foram somente especulações sem um fundamento baseado em fatos ou informações reais. Talvez a ausência de Kasparov tenha sido uma motivação a mais para que Topalov subisse alguns degraus de seu nível de jogo...

O episódio seguinte, uma vergonha para o mundo do xadrez, foi a disputa entre Kramnik e Topalov pela reunificação do titulo mundial, talvez a mais importante após os tensos duelos entre Kasparov e Karpov.

O fato é que durante o match, Kramnik foi uma dezena de vezes ao banheiro durante as partidas
e este estranho comportamento levantou muitas suspeitas na equipe do búlgaro, que acusou Kramnik de mover as peças rapidamente todas as vezes que voltava do banheiro e, sempre, com lances muito bons.

O comportamento de Kramnik, realmente, foi muito estranho, mas não foram encontradas provas conclusivas que demonstrassem que ele estivesse trapaceando. Mas sem duvidas, a discussão posterior entre os membros das duas equipes mancharam e envergonharam os enxadristas do planeta.

Por ultimo temo o importante torneio Corus 2007 quando, novamente, o suspeito voltou a ser Veselin Topalov. Uma importante revista enxadrística publicou que durante a 2ª e a 3ª rodada o representante de Topalov teve um comportamento, no mínimo, estranho. Segundo se observou, Danialov saia da sala para falar em seu celular de tempos em tempos e sempre que regressava ao salão dos jogos, fazia sinais “secretos” a Topalov para que este realizasse lances recomendados por um forte programa de xadrez – lances estes que eram passados a Danialov, acredita-se, durante suas chamadas telefônicas. Sem duvida, acusações graves, porém mais uma vez sem provas cabais.

Além destes, alguns outros casos envolvendo jogadores mais modestos também foram registrados. Um destes é o do jogador da Índia, Diwakar P. Singh (foto ao lado), que conseguiu a façanha de somar 260 pontos no seu Elo em um curtíssimo prazo de tempo. Por tratar-se de algo bastante difícil, a Federação de Xadrez do seu país resolveu fazer uma investigação. A conclusão a que se chegou é que Diwakar realizava jogadas praticamente iguais às feitas pelo programa Deep Junior. Outro fato importante é que em 2006, Diwakar, venceu o campeonato indiano, mas em 2007, já com um rigoroso controle por parte da organização da competição com vistas a evitar o uso de aparatos eletrônicos, para a surpresa geral, Diwakar terminou a competição na modesta 25ª colocação. Neste caso especifico, parece que a grande progressão do jogador não se deveu a um “milagre”, mas sim à “divina” ajuda de um programa.

Não se pode questionar que o fato de que os programas de xadrez ajudam, e muito, os jogadores a dar um salto na qualidade no nível de jogo, mas, como tudo na vida, também tem o seu lado ruim. Cada vez mais os jogadores trabalham com programas no seu dia-a-dia, o que os ajuda a progredir com muito mais rapidez. Mas é verdade também que o uso dos computadores está gerando jogadores com um estilo artificial, especialistas em aberturas, porém, a muitos, falta o mais importante: talento. Não existe a preocupação em estudar profundamente as partidas dos torneios. A maioria apenas olha ligeiramente alguns jogos e procura jogar aberturas sólidas onde possa conseguir um empate rápido. Enfim, o medo de perder gera o medo de ganhar.

Há algumas décadas atrás os jogadores não dispunham de computadores para treinar ou analisar partidas e, desta forma, pegavam um tabuleiro, colocavam as peças e punham-se a move-las. Este sim era o xadrez puro, onde quem tinha talento saía-se melhor.

Como praticante do xadrez também me incomoda o uso generalizado de programas em alguns sites de jogos on-line. É muito chato para quem gosta de jogar xadrez descobrir que não está jogando contra o Alberto, a Regina, mas sim contra o Fritz.

Sempre me pergunto que tipo de experiência, qual o real valor de conhecimento este tipo de procedimento agrega ao jogador que joga partidas com o auxilio de programas.

Fico pensando no dia em que sentar frente a frente com um adversário, em um torneio ao vivo, e começar a desconfiar dos lances precisos e seguros dele. De repente começarei a pensar com meus botões: esse cara joga tudo isso mesmo, ou o Sr. Fritz está lhe passando as jogadas?
(by Mario Vaz)

domingo, 31 de maio de 2009

ADÃO - Um conto de ficção científica

Ano 2130, os robôs fazem parte do cotidiano das pessoas. A busca incessante pela inteligência artificial alavancou a produção tecnológica de tal forma que 95% da população mundial tinham algum robô em sua casa ou em seu corpo. O começo foi com órgãos artificiais implantados, máquinas controladas pelos pulsos cerebrais. Depois vieram os primeiros robôs autônomos que seguiam uma lógica pré-definida. Vieram os robôs que aprendiam, moldando sua lógica conforme sua experiência. Até que veio um robô chamado Mark.

A FIDE (Federação Internacional de Xadrez) adotara regras cada vez mais rígidas, pois houve inúmeras fraudes relacionadas às máquinas. Os campeonatos mundiais exigiam a ausência total de computadores e robôs no ambiente de jogo. Como um cérebro artificial nunca funcionou em um humano até o momento, a cabeça era escaneada para verificar se não havia ali um processador ao invés do órgão. Não que a diferença entre um humano e um robô não pudesse ser notada de cara, porém o procedimento já era utilizado prevendo novidades.

Mark era um invento secreto do CPM (Conselho Político Mundial), um robô único, o primeiro com um cérebro artificial idêntico a um humano. Em sua memória fora gravado a simulação de reações humanas a fatos, desde uma coceira no nariz se houvesse algo o irritando, até sorrisos com o êxito. Externamente seu corpo era idêntico a um humano, era aquecido a 36 graus, e o sistema de resfriamento era igual ao humano, o suor. Seu sistema se alimentava como os humanos e ele tinha baterias com autonomia para meses sem alimento.

Mark também aprendia como os outros, porém, não tinha as limitações que o impedia de tomar decisões prejudiciais aos humanos, programa comum nos robôs. Seus criadores instalaram nele um dispositivo remoto que desativaria seu cérebro caso necessário. Ele fora submetido a uma série de situações cotidianas, foi com cuidado integrado à sociedade como um humano.

Depois de dois anos vivendo como homem, Mark havia aprendido inúmeras coisas com sua curiosidade aguçada. Mesmo não tendo o programa para ser inofensivo aos humanos, não havia nenhum registro de agressividade ou animosidade. Ele ficara mais gentil e sorridente com o tempo, surpreendeu os técnicos da CPM quando resolveu comprar um cachorro e fez alguns amigos, em geral vizinhos de sua casa numa rua de classe média de Los Angeles.

Mark arrumara emprego em uma loja de roupas masculinas. Foi promovido em 6 meses, pois rapidamente se tornara o funcionário mais capaz da loja. A elegância com que se vestia e vestia os outros chegava a intrigar, afinal sua memória original não tinha nada sobre isso. Nas folgas ele aprendeu a jogar xadrez, freqüentando os Shoppings Center da cidade, local aonde enxadristas se reuniam para jogar. Com o tempo ele passou a ser um dos melhores jogadores. Os outros o encorajavam a participar de um campeonato da FIDE, pois seu xadrez era muito bom.

Porém Mark achava injusto sendo um robô, participar como homem. Ele sabia das regras que a FIDE impunha aos inscritos, restringindo o uso de máquinas de qualquer espécie. Mas o xadrez era o início do auto-questionamento em relação a sua existência. Poderia ser ele um novo humano, um novo ser que habitaria a terra em conjunto com os homens? Ele não pensava como um robô, os robôs eram totalmente dependentes de comandos, se ocorresse algo diferente do seu entendimento eles simplesmente paravam estáticos até que um humano os orientasse. Ele não, ele era independente. Ele sentia tristeza por não ser um homem, sentia um vazio existencial, sentia medo de falhar e ser desativado. Por isso procurava sempre ser gentil, sempre obedecer às leis humanas.

Com o tempo Mark passou a buscar novos desafios no xadrez, afinal ninguém iria puni-lo por ganhar, no tabuleiro ele não tinha medo, não sentia tristeza. Tomou a decisão de sua existência inscrevendo-se no torneio estadual. Era recheado de jovens estudantes que não foram páreo para ele em nenhum momento. Venceu todas as partidas que disputou e chamou a atenção dos dirigentes da FIDE que o convidaram para participar do campeonato mundial em Nova York.

Mark pediu licença de uma semana no trabalho para participar do torneio que contaria com grandes mestres do mundo todo. Ele participou das seletivas com os campeões regionais alcançando a fase final. Venceu 18 partidas de vinte a serem disputadas, empatou uma e jogaria contra o russo Pavlov o maior mestre em atividade, que tinha vencido as 19 partidas que disputou.

O jogo foi fantástico, a multidão de pessoas assistindo olhavam maravilhadas para aquele novo mestre enfrentando o maior deles. O fim de jogo foi com torre e dois peões para cada um. Mark com as pretas, estava encurralado pelo rei e peões de Pavlov que tentava de todo jeito com sua torre dar o mate. As combinações aconteceram e era o último lance de Pavlov. Ele devia mover a torre até c8 dando enfim o mate em Mark.

Porém, na hora de mexer a peça, Pavlov tocara antes em seu rei sem a intenção de movê-lo. Um movimento do rei inverteria o jogo e deixaria Mark a duas jogadas do mate. Pavlov olhou para Mark com semblante receoso, olhou para o juiz que indicou que o rei deveria ser movimentado. No momento em que Pavlov movia sua mão até o rei, Mark derrubou o seu desistindo da partida. Pavlov com um sorriso aprovou a atitude e estendeu a mão para cumprimentar Mark que esquecera que era um robô e aceitou a derrota como humano.

Ali ficou claro para ele seu papel na existência, era mostrar a humanidade o quanto suas máquinas eram humanas, passíveis de erro e dignas de respeito.

Mark pediu sua desclassificação do campeonato aos juízes alegando que trapaceou. Fora questionado sobre sua trapaça.

- Utilizei uma máquina para jogar, devo ser desclassificado.
- Mas como? Todos foram escaneados, que máquina você utilizou? –
questionou um dos juízes.
- Eu.
- Você?
- Sim, sou um robô.
- Impossível!
- Sim, sou um robô da CPM, um projeto secreto.

Naquele instante ele fora desativado pela CPM, o que pareceu um desmaio às pessoas. O vice-campeonato foi confirmado para aquele mestre de passagem tão meteórica pelo xadrez. Suas últimas palavras foram desconsideradas pois técnicos envolvidos em seu projeto passaram por médicos atribuindo o fato a um devaneio momentâneo aos juízes. Ele foi declarado oficialmente morto como homem, Mark, o Adão.

Autor: Igor Rykovski, São Paulo/SP - Brasil, 29 anos, Escritor Semi-profissional

Este conto foi igualmente publicado por José Feldman, em Singrando Horizontes, com a inclusão do quadro O quadro The Game (O Jogo) pertencente a Henryette Weijmar Schultz, retirado de Ala de Rei.

(by Mario Vaz)

sábado, 30 de maio de 2009

Os Peões e as Partidas de Xadrez

Raramente a fase final de uma partida de xadrez acontece sem a presença de peões.

Philidor (François-André Danican Philidor), Grande Mestre do passado já dizia que “o peão é a alma do xadrez”.

Mais tarde, Fine (Reuben Fine) completou esta frase dizendo que “se o peão é alma do xadrez, no final ele é também nove décimos do corpo”.

Com efeito, o peão, com sua aparência frágil e movimentos limitados, irrompe com grande força nos finais de jogo, tornando-se valioso, tanto pela possibilidade de promovê-lo a uma peça de maior valor quanto pela sua posição estratégica que normalmente dita o rumo dos acontecimentos.

Mas os peões também podem ser surpreendentes no inicio de uma partida.

Abaixo podemos ver duas partidas de xadrez em que o jogador com as peças brancas se impõe de uma forma muito rápida, mas com a nota curiosa de que o faz realizando quase que exclusivamente movimentos de peões.

Borochow, Harry - Fine, Reuben [Pasadena, 1932]

1.e4 Nf6 2.e5 Nd5 3.d4 Nc6

4.c4 Nb6 5.d5 Nxe5 6.c5 Nbc4

7.f4 e6 8.Qd4 Qh4+ 9.g3 Qh6

10.Nc3 exd5 11.fxe5 1–0


Kujoth - Bauer, Fashing (1950)

1.e4 c5 2.b4 cxb4 3.a3 Cc6

4.axb4 Cf6 5.b5 Cb8 6.e5 Dc7

7.d4 Cd5 8.c4 Cb6 9.c5 Cd5

10.b6 Dc6 11.Txa7 1-0

(by Mario)

terça-feira, 26 de maio de 2009

O sistema Elo e a primeira listagem

Foto: Arpad Elo, o criador do sistema de classificação da FIDE


Resumindo-se bastante, o sistema de pontuação Elo é um método que se utiliza para medir e calcular a força relativa e a habilidade dos jogadores de xadrez.

Também pode ser utilizado, por exemplo, para medir a força dos praticantes de outros esportes de dois jogadores, como damas ou go.

A escala para a classificação internacional começa em 2000 pontos, de maneira que a classificação de um Mestre Internacional se situa em torno dos 2400 pontos e a de um Grande Mestre Internacional supera aos 2500 pontos.

O que muita gente não sabe é que se escrevemos ELO com letras maiúsculas, o estaremos fazendo incorretamente, já que ELO não é uma sigla, mas sim a pronúncia do nome do criador do sistema, Arpad Elo (1903-1992), um professor Física, nascido na Hungria, que dava aulas em Wisconsin (Estados Unidos).

Foi no ano de 1969 que Arpad Elo calculou a primeira classificação da Federação Internacional de Xadrez (FIDE), com base nos resultados que os 210 Mestres e Grandes Mestres Internacionais obtiveram entre 1966 e 1968. Posteriormente, e de forma imediata, incorporou também os resultados das partidas disputadas em 1969. Desta forma, a primeira listagem Elo foi publicada no ano de 1970.

A primera clasificação Elo da FIDE em 1970 tinha nas primeiras cinco colocações os seguintes jogadores:

C.....Nome.......................Fed......Elo
1.....Bobby Fischer........USA....2720
2.....Boris Spassky........RUS....2690
3.....Viktor Kortchnoi......RUS....2680
4.....Mikhail Botvinnik......RUS....2660
5.....Tigran Petrossian....RUS....2650

by PEPELU

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Um ator que amava o xadrez

(by: Javier Cordero Fernández)
Não está mais entre nós, fomos surpreendidos com a sua morte em janeiro do ano passado, mas foi uma pessoa que amava e desfrutava o jogo de xadrez.
Estamos nos referindo a Heath Ledger, ator que alcançou fama mundial com o filme Brokeback Mountain, desempenho com o qual foi indicado para um Oscar.

Heath veio ao mundo na cidade australiana de Perth, em 4 de abril de 1979. A vocação para a interpretação veio ainda quando criança, mas antes que isso acontecesse já tinha descoberto um jogo cheio de profundidade e beleza que lhe cativou e nunca mais o deixou... o jogo de xadrez.

Nosso protagonista participou de vários torneios de xadrez infantil, chegando a vencer o campeonato estadual sub-10. Mas isso não durou muito, pois Heath decidiu deixar a sua “carreira nos tabuleiros” para dedicar-se a outra profissão: a de ator. Todos sabemos como é difícil o percurso a ser percorrido para converter-se em um jogador profissional de xadrez profissional, por isso não é de se estranhar que Heath visse mais futuro situando-se por trás das câmeras. O xadrez foi relegado a um segundo plano, mas nunca abandonou sua prática ao nível de amador.

O seu inicio no cinema não foi muito brilhante, algo que acontece com a maioria dos atores. Os papéis que recebia não eram muito brilhantes e a fama, naquele momento, recusava-se a visitá-lo. Por isso decidiu fazer uma mudança drástica na situação e, assim sendo, resolveu se mudar para os Estados Unidos, país onde acreditava existiriam muito mais oportunidades para poder triunfar.

O trabalho e a perseverança começaram a dar frutos, especialmente através de papéis de ator coadjuvante que lhe permitiram tornar-se conhecido. O ano de 2005 é o ano da sua explosão, protagonizando nada menos do que 4 filmes, incluindo entre eles Brokeback Mountain, filme que marcaria a sua carreira e a sua vida. Como sabem, este filme é sobre a relação de dois vaqueiros homossexuais nos anos 60, sem dúvida uma história difícil, especialmente para certos setores da sociedade americana que enraizada de preconceitos desde muitas décadas atrás. Como eu disse anteriormente, foi indicado para um Oscar pela atuação neste filme, além de receber vários prêmios, incluindo o de melhor ator de 2005 (prêmio outorgado pelos críticos de Nova York) e o mesmo prêmio, outorgado pela academia australiana.


Sua fama cresceu e em 2007 teve seu primeiro papel em uma superprodução, dando vida ao vilão Coringa no filme "The Dark Knight", o mais recente sobre o herói Batman. A grande interpretação deste famoso vilão o ajudou a ganhar o Oscar de melhor ator, além de muitos outros prêmios, alguns deles postumamente (como o Globo de Ouro).

O peso da fama começou a interferir na sua vida, pois nem todas as pessoas podem suportar perder sua independência e anonimato. Basta ver quantos astros da musica, do esporte e do cinema que fogem o tempo todo de repórteres e fotógrafos. Heath Ledger morreu na manhã do dia 22 de janeiro de 2008 por uma overdose de pílulas para dormir, sem que tenha sido possível demonstrar que foi um suicídio.

Mas vamos falar um pouco a respeito da sua paixão pelo xadrez, um vício, segundo suas próprias palavras. Apesar de abandonar a prática do xadrez de torneios, seguiu praticando o jogo na sua vida diária, informação passada por ele em muitas entrevistas, afirmando que jogava ao menos uma partida por dia. Heath tinha o hábito de freqüentar o parque Washington Square, em Nova Iorque, para jogar xadrez.

Neste parque existem muitas mesas com tabuleiros pintados em sua superfície, de modo que qualquer pessoa pode jogar ao ar livre, algo muito comum nos Estados Unidos e deveria ser imitado em nosso país, já que é muito difícil ver este tipo de mesa em parques ou outros locais públicos nas cidades brasileiras.

As pessoas que compartilhavam o tabuleiro com o ator comentam que ele não tinha um nível muito alto, mas que jogava com muito entusiasmo e alegria. Seguindo a tradição do local, costumava apostar alguns dólares cada partida (dizem inclusive, que esta era a forma que Humphrey Bogart sobreviveu durante momentos difíceis de sua vida).

Ledger era uma pessoa que desfrutava o xadrez jogando com muita alegria e também com algum sarcasmo, já que gostava de fazer comentário irônicos a seus adversários (tais como: "oh, muito bom este lance... se queres perder, é claro”).

Querendo mostrar seu agradecimento ao jogo que tantas horas de boa diversão lhe dava, Ledger estava trabalhando em um projeto (que seria a sua estréia como diretor) intitulado "O Gambito da Dama", uma adaptação do romance de Walter Tevis, que conta uma estória estreitamente relacionada ao jogo de xadrez, mostrando uma menina órfã que se torna um gênio do xadrez, mas infelizmente sua morte prematura nos privou do filme.

Após a sua morte, em sua cidade natal, com o objetivo de prestar-lhe uma homenagem, 3 esculturas do artista Ron Gomboc foram colocadas na praia onde ele costumava jogar xadrez.

Duas delas relacionadas ao jogo de xadrez (como se vê na foto) e a terceira o símbolo de yin e yang, associado à sua crença na filosofia oriental.

Além disso, na última escultura pode ser lida a seguinte inscrição, a partir de uma carta de Khalil Gibran (também relacionado com a filosofia oriental):

Somente quando beber do rio do silencio cantarás a verdade.
Quando tiveres alcançado o alto da montanha, então iniciará a subida.
Quando a terra firmar seus pés, então, realmente dançarás.

O que os fãs do xadrez podem aprender com Heath Ledger é o seu entusiasmo para com o jogo. Existem momentos em que, por uma ou outra razão, não sabemos como desfrutar dos nossos passatempos favoritos. Heath quando se sentava em frente a um tabuleiro e começa a mover as peças, desfrutava do jogo certo de que ao menos naqueles momentos todos os seus problemas desapareciam.

domingo, 10 de maio de 2009

Xeque-mate. Padrões

(by Pepelu)

Uma partida de xadrez pode terminar de várias maneiras:
- queda da seta do relógio, do nosso ou do adversário;
- empate de comum acordo ou empate técnico;
- rei afogado
;
- um dos jogadores se rende, pois percebe que tem uma posição irremediavelmente perdida.

- Mas uma das maneiras de terminar uma partida que, na maioria dos casos atrai mais o público enxadrista e, possivelmente, de muita beleza é a posição de xeque-mate.

A Wikipedia define o Xeque Mate como: "Xeque mate é uma alteração da expressão árabe [ash-]shah mat, que significa, literalmente, [o] rei está morto".

Não importa o rótulo que damos ao xadrez: ciência, arte ou esporte. Na prática do xadrez existe um objetivo claro, e que devemos perseguir, pois com ele ganhamos a partida: "Dar xeque mate no rei”.

O xeque ao nosso rei ou no rei do adversário é uma ameaça para capturar o rei. Em jogos amistosos, no geral, podemos avisar que uma das nossas peças está dando xeque no rei adversário, mas nos jogos oficiais de torneio, não é necessário alertar o cheque, uma vez que "supostamente" o adversário deve saber pela posição das peças no tabuleiro.

Para se livrar da ameaça de xeque-mate, temos várias opções:

a) Capturar a peça que está nos dando cheque.

b) Interpor uma peça própria, na coluna, linha ou diagonal de onde estão nos atacando. Sempre e quando o xeque não é dado por um cavalo, uma vez que o cavalo salta por cima das peças e não é possível colocar uma peça se interpondo ao xeque de cavalo.

c) Mover o rei para uma casa que não está sendo atacada.

Um destas três maneiras serve para evitar um xeque, mas se não podemos fazer qualquer uma dessas três ações, e não podemos eliminar a ameaça de xeque mediante uma jogada legal, então o xeque é um "Xeque Mate" e termina a partida, pois o rei não pode eliminar a ameaça de forma alguma... CAÇAMOS O REI, OBJETIVO CUMPRIDO!

No entanto, não é fácil chegar a uma posição de xeque-mate e raramente as posições de xeque-mate são uma série de ações aleatórias. Para chegar ao xeque-mate, precisamos de uma combinação de estratégia e tática. Sem esses dois elementos, nunca vamos entender o verdadeiro entremeio das combinações das peças de xadrez, não entenderemos as partidas dos jogadores profissionais, e deixaremos que o erro do adversário ou que a sorte assuma o controle do nosso jogo.

Como cita Garry Kasparov em seu livro, Como a vida imita xadrez: "A estratégia representa o fim e a tática o meio".

A estratégia é o curso de ações (seqüência de movimentos) conscientemente desejadas e determinadas que buscam uma finalidade que nos aproxime de nossos objetivos. Assim, como explicado acima, o objetivo do xadrez é capturar o rei, portanto, a estratégia no xadrez está a implementar um sistema que visa capturar o rei contrário.

A tática é o conjunto de ações específicas nas quais nossas peças se combinam para alcançar um objetivo. Digamos que a tática é a execução das nossas ameaças.

Muitas vezes em nossa vida cotidiana, necessitamos da estratégia e da tática para realizar determinadas ações. Por exemplo, para conseguir um trabalho qualitativamente melhor, precisamos de um plano (estratégia): encontrar um emprego em nosso setor, selecionar as empresas que nos interessam, um tempo adequado para a pesquisa, buscar nos melhores portais de emprego, etc. Mas também necessitamos a tática: na entrevista, temos de convencer nosso interlocutor que somos a pessoa que ele está procurando.

Não podemos esperar que o trabalho venha até nós, não fazer nada para encontra-lo ou simplesmente não planejar adequadamente a busca. O trabalho até pode chegar a nós, a sorte pode fazer que o encontremos, mas na maioria dos casos, o sucesso não chegará se não planejarmos adequadamente.

Se entendermos a importância da estratégia e táctica, não será difícil compreender porque é tão importante o estudo da teoria no xadrez, o conhecimento de posições típicas, e a análise das próprias partidas.

O melhor para entender esses conceitos comentados é colocar uma posição típica de xeque-mate.

Posição número 1

Esta posição reflete uma posição típica de mate. Para tentar englobar posições típicas no xadrez, vamos chamá-las de "temas". No caso, este é um tema tático de ataque ao roque. Se olharmos para a posição, o rei negro está isolado na casa h8. Também podemos observar que o rei não tem muitas casas para onde se mover, já que tem diante de si os peões de h7 e g7, os quais, inclusive, não estão defendidos por nenhuma peça negra. Assim podemos dizer que o roque negro é débil.

A posição do branco também é delicada, já que o rei está em uma coluna aberta sem qualquer proteção, contudo, suas peças ocupam diagonais e colunas, portanto, e dessa forma são mais dinâmicas e podem entrar em ação rapidamente.

Se nesta posição fosse a vez das negras jogar, teriam uma vantagem decisiva, pois tomariam o cavalo de “e7” e teriam vantagem material e iniciativa. No xadrez o tempo é fundamental e, para o azar das negras, o lance é das brancas.

Assim, o branco precisa de uma combinação tática, que crie uma posição favorável ou ganhadora. Para tanto, não deve hesitar em sacrificar material, se os cálculos estão corretos. Neste caso:

1.Qg8+ Rxg8 (o rei não pode capturar a dama em g8 porque está protegida pelo cavalo de e7) 2.Ng6+ hxg6 (única porque o rei não pode mover-se, está preso em h8 e não existe outra jogada legal para sair do xeque) 3.Rh1++ (xeque mate!).

Uma técnica, quando não vemos uma combinação que nos dá uma vantagem, é a de isolar do tabuleiro e da nossa mente as peças que não estão envolvidas na ação. Neste exemplo, de ataque ao roque, o tabuleiro ficaria assim:

Posição número 1 simplificada

Qual a forma mais fácil de visualizar uma combinação?

Para ter uma visão geral da partida é necessário que todas as peças que estão no jogo estejam na nossa mente e no nosso tabuleiro, mas para uma ação concreta podemos isolar as peças que estão envolvidas na combinação. A visão global e a visão específica é o mesmo que estratégia e táctica.

Para quem deseja trabalhar um pouco a visão concreta (tática) recomendo o livro Cadernos Práticos de Xadrez – Ataques ao Roque [ http://www.agapea.com/libros/ATAQUES-AL-ENROQUE-CUADERNO-PRACTICO-AJEDREZ-5-isbn-8479026251-i.htm ], de Antonio Gude.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Simultânea de Xadrez

Um grupo formado por 20 experimentados jogadores da cidade de São Caetano do Sul – SP, enfrentou o jovem Mestre Internacional Krikor Sevag Mekhitarian em uma simultânea na manhã do sábado, 25 de abril, nas dependências da unidade SESC São Caetano.
Foto (by: Fábio Zampietro) da esquerda para a direita: Paulo e Gilván. De pé: Waldomiro, Vagner, Ribamar, Toshiaki, Maraz, Elias, Krikor, Fábio, Vicentin, Mario Vaz, Erivaldo e Pedro Paulo.
O resultado final foi o seguinte:
- 1 derrota (Marcos Vicentin),
- 2 empates (Mario Vaz Jr e Elias Curiacos) e
- 17 vitórias (Luis Novazzi, Pedro Paulo Parreira, Carlos Camacho, Lourinaldo Estevan, Ribamar de Freitas, Gilvan Mascarenhas, Fábio Bernardo, Paulo Henrique Pinto, Waldomiro Machado Jr, Ricardo Maraz, Erivaldo Pegoraro, Vagner Rufino, Toshiaki Ikeda, Luiz Roberto Pereira, Ramiro Chagas, Fabio Yoshio Kashino e Fabio Adriano de Oliveira).

Muito simpático e cordial, ao final de cada partida Krikor fazia uma análise rápida comentando e incentivando comentários do próprio jogador a respeito de um ou outro lance. Terminada a simultânea agradeceu a todos e colocou-se à disposição para responder perguntas ou fazer uma análise mais completa das partidas dos jogadores que tivessem interesse.

Foto (by: Fábio Zampietro): visão parcial do salão - Krikor e os participantes

Abaixo a partida que tive a oportunidade de jogar:

Mekhitarian, Krikor Sevag - Vaz Jr, Mario [B07 - Pirc Defence: Miscellaneous Systems] Simultâmea - SESC São Caetano, 25.04.2009 [analysis by: Deep Shredder 10 UCI (1800s)]

1.e4 d6 2.d4 Nf6 3.Nc3 c6 4.f4 Qa5 5.Bd3 e5 6.Nf3 Bg4 7.Be3 Nbd7 8.0–0 Be7 9.h3 Bh5 10.g4
[10.Qe1 exf4 (10...Bxf3 11.Rxf3 Qc7 12.Ne2 d5 13.Ng3 dxe4 14.Bxe4 Nxe4 15.Nxe4 f5 16.Nd2 e4 17.Rf1 Nb6 18.c4 Bf6 19.Rc1 Qf7 20.Qe2 0–0 21.Rfd1 Kh8 22.Nb3 Rad8 23.Nc5 Rg8 24.a4 g5 25.a5 Dole-Van den Heever Cape Town, 2007 0–1 (37)) 11.Bxf4 Bg6 12.e5 dxe5 13.dxe5 Nd5 14.e6 Qb6+ 15.Kh1 fxe6 16.Bxg6+ hxg6 17.Bg5 N5f6 18.Qxe6 Qxb2 19.Bxf6 gxf6 20.Rab1 Qxc3 21.Rxb7 0–0–0 22.Rfb1 Rxh3+ 23.Qxh3 f5 24.Qh2 f4 Browne-Benjamin Modesto, 1995 1–0 (49)]

10...exf4 11.Bxf4 Bg6 12.Qd2
[12.Qe1 Qd8 (12...0–0 13.Nd5 Qd8 14.Nxe7+ Qxe7 15.Qb4 c5 16.Qxb7 c4 17.Bxc4 Bxe4 18.Rae1 Rfb8 19.Qa6 Rb6 20.Qa3 Nf8 21.g5 Qc7 22.gxf6 Qxc4 23.Rxe4 Qxc2 24.Nd2 Rxb2 25.fxg7 Ng6 26.Qxd6 Rb6 27.Qd5 Petrov-Morrison Ohrid, 2001 1–0 (32)) 13.Nh4 0–0 14.Nxg6 hxg6 15.e5 dxe5 16.dxe5 Bc5+ 17.Kg2 Re8 18.Qg3 Nd5 19.Nxd5 cxd5 20.Qf3 Bd4 21.Bxg6 Nxe5 22.Bxe5 Rxe5 23.Qxf7+ Kh8 24.Rae1 Rxe1 25.Rxe1 Qf8 26.Rd1 Qxf7 Mikac-Stubljar Nova Gorica, 2004 1–0 (40)]

12...0–0 13.Rae1 Rae8 [13...Rfe8 14.Rf2 com brancas um pouco melhor]

14.Qh2 [14.Nd5 Qxd2 15.Nxe7+ Rxe7 16.Nxd2 Re6 +-]

14...Qb4? [14...Qb6 15.Bxd6 Bxd6 16.Qxd6 com brancas um pouco melhor]

15.Bc1 [melhor seria: 15.a3!? Qb6 (15...Qxb2?? 16.Na4 Qa2 (16...Qxa3 17.Ra1 Qxa1 (17...Nxg4 18.hxg4 Qb4 19.Bd2+-) 18.Rxa1 Bxe4 19.Qe2 d5+-) 17.Ra1 Nxg4 18.Rxa2 Nxh2 19.Kxh2+-) 16.g5+-]

15...h6 [assegurando g5]

16.a3 [16.Kg2 c5 17.e5 Bxd3 18.cxd3 dxe5 19.dxe5 Nh7 com brancas um pouco melhor]

16...Qb6=

Foto (by: Fábio Zampietro): Krikor analisando a posição após 16...Qb6


17.Kh1 d5? [melhor seria: 17...c5 permitiria às negras jogar 18.Qf2 Bd8=]

18.e5 [com brancas melhor]

Foto (by: Fábio Zampietro): Krikor jogando 18.e5

18...Bxd3 [melhor seria: 18...Nh7!? 19.e6 Ndf6 20.Bxg6 fxg6 com brancas um pouco melhor]

19.exf6+- Bxf6 20.cxd3 Bxd4 21.Qd6 [21.Na4 Qa5 22.b4 Qxa4 23.Nxd4 f6+-]

21...Rxe1 22.Rxe1 Bxc3 23.bxc3 Qf2 24.Qf4 Qc2 25.Qd2 Qa4 [25...Qxd2 26.Bxd2 Nc5 27.Re7 Nxd3 28.Rxb7+-]

26.Qf4 [26.Nd4!? pode ser o caminho mais curto 26...Nc5+-]

26...Qc2


Foto (by: Fábio Zampietro): após 26...Qc2, Krikor agacha-se e faz o seguinte comentário: que Dama pentelha! rssss...


27.Re7 [melhor seria: 27.Qd2!? Qxd2 28.Bxd2+-]

27...Nc5 [com brancas melhor] 28.Qd2 Qb1 29.Re1 [melhor seria: 29.Ne1!? Nb3 30.Qb2 Qxc1 31.Qxb3 com brancas melhor]

29...Nxd3= 30.Rd1 [30.Rf1 Re8=]

30...Nxc1 [30...Nc5!? 31.Kg2 f5 com negras um pouco melhor]. As negras ofereceram empate e as brancas aceitaram ½–½. Neste momento seis partidas já tinha terminado, todas com vitórias do Krikor.


Foto (by: Fábio Zampietro): Krikor Sevag Mekhitarian e Mario Vaz Jr. Ao fundo: Estevam (camiseta azul) e Erivaldo (camiseta amarela)

domingo, 19 de abril de 2009

O primeiro torneio internacional de xadrez

(por Pepelu)
Foto: Adolf Anderssen

O primeiro torneio internacional de xadrez da época moderna foi jogado em Londres no ano de 1851. O incentivador e principal interessado na realização do torneio foi o inglês Howard Stauton, considerado naqueles tempos como o melhor jogador de xadrez do mundo após ter vencido o francês Saint-Amant em 1834 na cidade de Paris.

A organização da competição levou cerca de um ano e o “endinheirado” clube de xadrez St. George se encarregou de convidar os melhores enxadristas europeus da época. Somente o russo Carl Jaenisch não pode participar. O torneio constituiu-se em uma autentica maratona enxadrística sendo jogado por eliminatórias. Na primeira fase foi uma “melhor de três partidas”. Na segunda e terceira fases, uma “melhor de sete partidas” e a final em uma “melhor de oito partidas”.

Adolf Anderssen, após esmagar Stauton por 4 a 1 na semifinal, fez o mesmo com Marmaduke Wyvill ao qual venceu por 4,5 a 2,5 na final, proclamando-se brilhantemente o vencedor do torneio. A vitória do prussiano foi uma autentica surpresa, pois foi o primeiro grande triunfo da sua brilhante carreira. Nessa época, Anderssen, era conhecido apenas pela composição de alguns belos problemas de xadrez.

É importante destacar que uma das mais famosas partidas de toda a história do xadrez, "A Imortal", foi jogada durante o transcurso deste torneio no dia 21 de junho de 1851. Trata-se de uma partida amistosa jogada entre Adolf Anderssen e o francês Lionel Kieseritzki, onde o genial prussiano sacrificou um bispo, duas torres e finalmente a dama!

A Imortal do Xadrez
Por Richard Guerrero

Anderssen, Adolf - Kieseritzky, Lionel [C33 – Gambito do Rei] 'Immortal game' London, 1851

1.e4 e5 2.f4 exf4 3.Bc4
Andersen se lança à aventura com esta interessante e arriscada variante do Gambito de Rei, que permitirá a Kieseritsky dar xeque com sua dama em h4, obrigando o rei branco a mover e perdendo com isso a possibilidade de rocar, porém com a contrapartida de que a dama negra não ficará bem colocada nesta casa e facilitará o desenvolvimento das peças de Andersen. A alternativa 3.Nf3 é mais freqüente.

3...Qh4+!?
No século XIX, os jogadores costumavam responder sempre à pronta saída do bispo branco com este xeque da dama. Posteriormente, passou a preferir-se a jogada 3...Nf6!? ; e inclusive 3...d5!?

4.Kf1
Evidentemente, era um suicídio jogar 4.g3 fxg3 5.Nf3 g2+! 6.Nxh4 gxh1Q+; e tampouco é possível aqui 4.Ke2, pois seguiria 4...Qg4+ 5.Ke1 (5.Nf3 Qxg2+) 5...Qxg2]

4...b5!?
A partida nem bem começou e ambos adversários já se puseram a jogar em plano selvagem! Kieseritsky não hesita em oferecer imediatamente o peão de vantagem, a fim de desviar o "terrível" bispo branco da perigosa diagonal que aponta a "f7" , enquanto aproveitam para facilitar o desenvolvimento de seu flanco de dama.

5.Bxb5
Como sabemos, nessa gloriosa época, todo o mundo aceitava um gambito, tanto com brancas como com negras, e quem não o fazia era tachado de covarde e de indigno, e ganhava o desprezo de todos seus rivais...

5...Nf6 6.Nf3
Agora podemos comprovar que a dama negra não ficou bem colocada e deve perder tempos em sua retirada.

6...Qh6
6...Qh5!? cravando o cavalo branco, parece mais apropriado nesta posição.

7.d3
Melhor seria 7.Nc3! reservando a possibilidade de jogar d4!

7...Nh5?!
Kieseritsky se lança ao ataque imediatamente e ameaça ganhar a torre de h1 com Ng3+!, porém é uma ameaça muito fácil de parar, e já sabemos que não é bom jogar várias vezes uma mesma peça na abertura quando ainda não se completou o desenvolvimento...

8.Nh4?
Uma rara forma de se defender da ameaça negra! Anderssen, com seu peculiar estilo, defende atacando e salta com seu cavalo a h4, com a idéia de depois saltar a f5 e fustigar, assim, novamente a dama negra. A idéia é boa, porém as negras também jogam! Melhor seria jogar 8.Rg1! com a idéia g4! Procurando explorar a cravada do peão f.

8...Qg5!
Kieseritsky ameaça, agora, simultaneamente o cavalo de h4 e o bispo de b5!

9.Nf5
Único lance para não perder peça.

9...c6?
E agora, o romântico russo deixa escapar uma boa oportunidade para ficar com uma clara vantagem jogando 9...g6! 10.Nd4 (10.h4 Qf6!; 10.g4? gxf5! 11.gxh5 fxe4) 10...Bg7! o que teria criado muitos problemas para as brancas.

10.g4?
E o selvagem Andersen (com o perdão!), nem breve nem simplista, volta a complicar a vida de maneira ruim, quando tinha uma jogada fácil: 10.Ba4! com bom jogo para as brancas.

10...Nf6?!
Nova imprecisão de Kieseritsky. Era muito melhor 10...g6! 11.gxh5 (se 11.Nd4 Bg7! 12.c3 Bxd4 13.cxd4 Qxb5 14.Nc3 Qb6 15.gxh5 Qxd4 com vantagem) 11...gxf5 com clara vantagem das negras; em troca 10...cxb5? 11.gxh5 ajudava evidentemente as brancas, ao abrir-lhes a coluna "g" para sua torre.

11.Rg1!
Alucinante! Andersen, ao lado do qual o General Patton podia passar por covarde, demonstra uma vez mais que os tinha muito bem postos! Passa, olimpicamente, por seu bispo ameaçado e defende seu peão "g" para buscar encerrar a dama negra. E há que dizer que, dadas as circunstâncias, é sua melhor opção, posto que do contrário as negras ficariam com uma cômoda e clara vantagem.

11...cxb5?Por incrível que pareça, as negras não deveriam capturar o bispo oferecido, e não porque lhes vá ficar encerrada a dama, senão porque, devido à captura, vai se desencadear um terrível e decisivo ataque das brancas, que vai pulverizar a posição das negras. Porém, quem podia prevê-lo neste momento? Nem Kieseritsky, nem nenhum outro jogador da historia do xadrez poderia ver tão longe! É absolutamente inimaginável. Por isso é tão maravilhosa esta partida! [se: 11...h5! 12.h4 (12.gxh5 Qxh5) 12...Qg6 e as negras teriam conservado uma ligeira vantagem]

12.h4!
Começa o assédio!

12...Qg6 13.h5! Qg5 14.Qf3!
Com a fortíssima ameaça imediata Bxf4, ganhando a dama negra.

14...Ng8
Kisieritsky abre o único caminho por onde pode retirar sua dama.

15.Bxf4 Qf6
Se 15...Qd8 se chegaria a uma ridícula e cômica situação das negras, na qual todas suas peças teriam voltado à posição de origem! Depois de 16.Nc3! o ataque branco "se jogaria só".

16.Nc3!
Apontando tanto a "d5" como a "b5"!

16...Bc5
Kieseritsky não encontra a defesa salvadora... porque não há! As negras tem muitas jogadas a escolher, porém nenhuma boa! Queriam, por exemplo, jogar a típica 16...Bb4, imobilizando o terrível cavalo branco, porém aqui o rei não esta em "e1"! E a jogada não serviria para nada.

17.Nd5!?
Mais contundente era 17.d4! com ataque "aplastante", já que não é possível 17...Bxd4 por 18.Nd5! e as negras perdem tudo!

17...Qxb2 18.Bd6?
Todos os comentaristas qualificam esta espetacular jogada de Anderssen de excelente e não hesitam em colocar dois sinais de admiração; porém, depois de analisar longamente esta posição, cheguei à conclusão de que é ruim! (lamentavelmente, já que gostaria que fosse boa!) Porque cheguei a uma clara refutação: 18.Nc7+! é em minha opinião o caminho que leva à vitória. 18...Kd8 (18...Kf8 19.Re1!) 19.Re1! Bxg1 20.Nxa8! recuperando a peça a menos (cai o bispo de "g1" ou o cavalo de "b8"!), e mantendo muito vivo o ataque ao rei rival.]

18...Bxg1 19.e5 Qxa1+ 20.Ke2 Na6 21.Nxg7+ Kd8 22.Qf6+ Nxf6 23.Be7# 1–0
Poderia dizer-se que esta partida tem muitos erros por ambos os lados, porém é inegável que é absolutamente espetacular! Me alegro de que Anderssen tenha jogado 18.Bd6 porque, do contrário, nunca teríamos podido desfrutar deste final tão maravilhoso.

sábado, 11 de abril de 2009

Curiosidade - Aberturas de Xadrez

Origem do nome da Defesa Francesa
A primeira referencia aos movimentos iniciais da defesa francesa foi realizada no livro de Luis Ramires de LucenaRepetición de Amores y Arte de Ajedrez”, publicado em Salamanca, 1497.

Neste livro Lucena se limita a mencionar que depois de 1.e4 e6, a melhor resposta para as brancas é 2.d4. Resposta que, apesar de haver passado quinhentos anos, segue sendo considerada como a melhor continuação para um grande numero de enxadristas.

A denominação de “Defesa Francesa” data do século XIX quando, em 1836, se celebrou um encontro postal entre o Clube de Xadrez de Paris e o Clube de Xadrez Westminster de Londres e os jogadores parisienses usaram a dita defesa com a qual conseguiram a vitória ao final do match.

Pierre C. F. de Saint Amant (1800-1872), um dos mais fortes jogadores de xadrez da época e famoso por seus encontros contra o inglês Stauton em 1843, assessorava aos parisienses, ainda que, George Walker (1803-1879), notável enxadrista e autor de vários livros de xadrez, fazia o mesmo com os jogadores londrinos.

Os jogadores do Clube de Xadrez de Paris elegeram a Defesa Francesa para evitar o jogo aberto característico do xadrez romântico daquela época. Desta forma, evitaram, por exemplo, as terríveis complicações do Gambito do Rei.

É de se destacar, também, que o famoso enxadrista francês Deschapelles (1780-1847) não quis participar do match justamente pelo fato de a defesa francesa ter sido eleita como arma defensiva, pois segundo ele a francesa era uma defesa maçante.

A Defesa Francesa sempre teve adeptos entre os principais jogadores de xadrez, incluindo entre eles os campeões mundiais Capablanca, Alekhine e Botvinnik.

Curiosidade - Os peões e as partidas de xadrez

(por: Pepelu)

Na continuação veremos um par de partidas surpreendentes
nas quais as brancas se impoêm de forma muito rápida, porém com a nota curiosa de que em ambas as partidas o vencedor realizou quase que tão somente lances de peões!

Borochow, Harry - Fine, Reuben [B03 - Defesa Alekhine] Pasadena, 1932
1.e4 Nf6 2.e5 Nd5 3.d4 Nc6 4.c4 Nb6 5.d5 Nxe5 6.c5 Nbc4 7.f4 e6 8.Qd4 Qh4+ 9.g3 Qh6 10.Nc3 exd5 11.fxe5 1-0


Kujoth - Fashing Bauer
[B20 – Defesa Siciliana] 1950

1.e4 c5 2.b4 cxb4 3.a3 Nc6 4.axb4 Nf6 5.b5 Nb8 6.e5 Qc7 7.d4 Nd5 8.c4 Nb6 9.c5 Nd5 10.b6 Qc6 11.Rxa7 1–0

O Sacrifício Posicional

Foto: Tigran Petrosian

Talvez não seja a parte do xadrez tático mais espetacular, mas a sua execução não é simples, pois exige um bom grau de cálculo e intuição posicional. Falo do sacrifício posicional, recurso muito utilizado na atualidade, que trouxe muitas conquistas para aqueles que se atreveram a fazer.

Para abordar esta questão, é lógico procurar o jogador que melhor dominava este recurso do jogo: Tigran Petrosian. Este artigo baseia-se em 3 partidas de Petrossian, um mestre da defesa, que através de sacrifícios posicionais conseguia escapar de situações complicadas. Essa é a idéia principal de um sacrifício posicional, alterar a dinâmica de uma posição em que não há qualquer vantagem ou iniciativa.

Partida nº 1

Reshevsky, Samuel - Petrosian, Tigran [E58 – Nimzo-India: Rubinstein] Candidates Tournament Zuerich, 1953

1.d4 Nf6 2.c4 e6 3.Nc3 Bb4 4.e3 0–0 5.Bd3 d5 6.Nf3 c5 7.0–0 Nc6 8.a3 Bxc3 9.bxc3 b6 10.cxd5 exd5 11.Bb2 c4 12.Bc2 Bg4 13.Qe1 Ne4 14.Nd2 Nxd2 15.Qxd2 Bh5 16.f3 Bg6 17.e4 Qd7 18.Rae1 dxe4 19.fxe4 Rfe8 20.Qf4 b5 21.Bd1 Re7 22.Bg4 Qe8 23.e5 a5 24.Re3 Rd8 25.Rfe1 Re6 26.a4 Ne7 27.Bxe6 fxe6 28.Qf1 Nd5 29.Rf3 Bd3 30.Rxd3 cxd3 31.Qxd3 b4 32.cxb4 axb4 33.a5 Ra8 34.Ra1 Qc6 35.Bc1 Qc7 36.a6 Qb6 37.Bd2 b3 38.Qc4 h6 39.h3 b2 40.Rb1 Kh8 41.Be1 ½–½

Diagrama 1 – posição após o lance: 25.Rfe1

Vamos dar uma olhada no Diagrama 1. Salta à vista que as brancas estão melhores. Contam com o par de bispos, algo de positivo para um futuro final. Mas acima de tudo conseguiram um perigoso par de peões centrais, um deles passado, o que lhe dá o controle completo da situação.

O principal problema para as negras reside no possível avanço do peão da dama para d5 (o que no momento não é possível) mas suas peças devem estar na vigia para não permitir isso.

Petrossian julgou que em tal posição, mais cedo ou mais tarde, acabaria por perder a partida por isso jogou 25...Re6 com determinação. A entrega da qualidade é amplamente compensada pela nova situação do peão em e6, que, por sua vez, permitirá ao cavalo alojar-se em d5. Isto irá desacelerar completamente os dois peões e as brancas irão enfrentar grandes dificuldades de manobra.

Diagrama 2 – posição após o lance: 29...Bd3

A situação resultante pode ser vista no Diagrama 2. O cavalo está muito bem colocado em d5, o centro foi fechado e Petrossian domina o flanco da dama.

A qualidade não tem qualquer utilidade para Reshevsky, algo que ele percebeu de imediato, e que o levou a sacrificar a torre pelo bispo apenas 3 jogadas mais tarde.

Uma tensa luta posicional com combinações de ambos os lados, terminou com um justo empate.


Partida nº 2

Petrosian, Tigran - Gligoric, Svetozar [E94 – Índia do Rei: Clássica] Varna ol (Men), 1962

1.d4 Nf6 2.c4 g6 3.Nc3 Bg7 4.e4 d6 5.Be2 0–0 6.Nf3 e5 7.d5 Nbd7 8.0–0 Nc5 9.Qc2 a5 10.Bg5 h6 11.Be3 Nfd7 12.Nd2 f5 13.exf5 gxf5 14.f4 exf4 15.Bxf4 Ne5 16.Nf3 Ng6 17.Be3 Qe7 18.Qd2 f4 19.Bf2 Ne5 20.Nxe5 Bxe5 21.Bd4 Bf5 22.Rf2 Bg6 23.Raf1 Qg5 24.Bxe5 dxe5 25.Kh1 Ra6 26.Bf3 Raf6 27.Re1 Nd3 28.Rfe2 Nxe1 29.Qxe1 Re8 30.c5 Rff8 31.Ne4 ½–½

Diagrama 3 – posição após o lance: 26...Raf6

A situação mostrada no Diagrama 3 é muito semelhante à do jogo anterior, mas a solução neste caso é um pouco diferente.

As negras contam com dois peões ameaçadores, e a idéia mais lógica parece ser a de levar o peão de d5 peão a d4, algo bastante provável.As brancas, por sua vez, estão amarradas e à mercê do que o seu adversário decida fazer.

Petrossian sabia que, mais uma vez, teria que “tirar algo da cartola” para se sair bem desta situação tão complicada. A solução foi oferecer uma torre por uma peça menor através da jogada 27.Re1, “presente” que Gligoric aceitou com prazer.

Diagrama 4 – posição após o lance: 31.Ne4

O Diagrama 4 mostra como o jogo terminou. Vemos como Petrossian usou suas peças menores para bloquear os peões negros, algo que Aaron Nimzowitsch concebeu no início do século XX.

Parece impossível que as negras possam atacar a fortaleza branca. Vejamos: o bispo defende o peão de g2, logo, por aqui não é possível. Talvez o seja atacar pela coluna h, mas parece pouco provável uma vez que as brancas controlam as casas h4 e h5 e, além disso, sempre existe o recurso do avanço h2-h3. Por outro lado, no flanco da dama existe uma superioridade de peões brancos, pelo o que as negras tiveram que se conformar com o empate ao intuir que seguir lutando, principalmente contra Petrossian, seria uma tarefa praticamente inútil.

Partida nº 3

Petrosian, Tigran - Sosonko, Gennadi [A01 – Abertura Nimzowitsch-Larsen] Interpolis Tilburg, 1981

1.c4 e5 2.b3 Nf6 3.Bb2 Nc6 4.e3 Be7 5.a3 0–0 6.Qc2 d5 7.cxd5 Nxd5 8.Nf3 Bf6 9.d3 g6 10.Nbd2 Bg7 11.Rc1 g5 12.Nc4 Qe7 13.b4 a6 14.Nfd2 f5 15.Be2 g4 16.Nb3 Kh8 17.Nca5 Nxa5 18.Nxa5 Qf7 19.0–0 c6 20.Nc4 Qe7 21.Rfe1 Bd7 22.Bf1 Nc7 23.Nb6 Rad8 24.Qc5 Qxc5 25.Rxc5 Ne6 26.Rxe5 Bxe5 27.Bxe5+ Kg8 28.d4 Be8 29.Nc4 b5 30.Nd6 Bd7 31.Rc1 Ng5 32.Nb7 Rc8 33.Bd3 Ra8 34.Kf1 Be6 35.Bf4 Nf7 36.Ke2 Bd5 37.Bxf5 Ne5 38.Bxe5 Rxf5 39.Nd6 Rff8 40.e4 Bc4+ 41.Nxc4 bxc4 42.Rxc4 a5 43.Bd6 Rfe8 44.e5 axb4 45.Bxb4 1–0

Diagrama 5 – posição após o lance: 25...Ne6

Nesta partida o sacrifício posicional não servirá para equilibrar uma posição inferior, mas sim para obter o triunfo em uma situação de igualdade.

Olhando o Diagrama 5 encontramos uma posição em que Petrossian não está melhor, as negras estão sendo mais incisivas e têm a iniciativa. Dominam o centro e têm boas perspectivas de ataque contra o roque.

Alguém como Petrossian compreende este tipo de posição apenas com uma olhada e sabe que, se quiser ganhar, terá que fazer algo para mudar a dinâmica da partida. Este algo foi trocar uma das suas torres pelo bispo e um peão negro.

Diagrama 6 – posição após o lance: 31.Rc1

No Diagrama 6 podemos ver o progresso de Petrossian. A cadeia de peões negros foi quebrada, e agora está sob controle; o bispo impede o avanço f4, e g3 não serviria de nada. Além disso, Petrossian eliminou o bispo bom das negras e conta com seu par de bispos, que se tornou poderoso pela grande quantidade de espaço que existe ao redor do rei negro.

As brancas também dominam o centro impedindo qualquer avanço das negras. Assim como o domínio das casas negras permite ao cavalo posicionar-se em casas interessantes, como d6.

Penso que todas estas vantagens sejam suficientes para compensar a qualidade entregue. As negras pouco podem fazer para deter a avalanche que virá.


Por estas três partidas podemos compreender por que razão era tão difícil vencer Tigran Petrosian, algo que lhe deu uma fama de jogador imbatível.

O sacrifício posicional pode ser um recurso salvador em posições que não temos qualquer vantagem ou até mesmo uma forma de obter a iniciativa em posições equilibradas. É um a mais na longa lista de sacrifícios de peça que podem ser realizados, embora não o mais bonito...


Tigran Vartanovich Petrosian
nasceu em Tbilisi no dia 17/06/1929 e morre em Moscou no dia 13/08/1984.

Os seus resultados no torneio trienal, que determinava o jogador que enfrentaria o campeão do mundo, demonstram uma sólida evolução: 5º em Zurique/1953; 3º em Amsterdã/1956; 3º na Iugoslávia/1959 e 1º em Curaçao/1962. Em 1963 derrotou o então campeão mundial Mikhail Botvinnik por 12,5 a 9,5 tornando-se Campeão Mundial de Xadrez.

Em 1966 Petrosian defendeu o seu título derrotando Boris Spassky por 12,5 a 11,5. Contudo, em 1969, o mesmo Spassky derrotou-o por 12,5 a 10,5. Em 1968, a universidade de Yerevan concedeu-lhe um mestrado, tendo Tigran apresentado a tese “Lógica no Xadrez”.

Petrosian foi o único jogador a ganhar um jogo de Bobby Fischer durante os últimos jogos do torneio de candidatos de 1971, acabando com a impressionante seqüência de Fischer de dezenove vitórias consecutivas (6 ainda nos jogos do agrupamento Interzonal, 6 frente a Mark Taimanov, 6 frente a Larsen e ainda o primeiro jogo do seu match).

O seu nome batiza duas importantes aberturas: a variante Petrosian na Defesa Índia do Rei (1.d4 Nf6 2.c4 g6 3.Nc3 Bg7 4.e4 d6 5.Nf3 O-O 6.Be2 e5 7.d5) e também na Índia da Dama (1. d4 Nf6 2. c4 e6 3. Nf3 b6 4. a3).