quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O Estudo das Aberturas – parte 1 - Inglesa

Mikhail Botvinnik "Não tem sentido memorizar simplesmente as variantes das aberturas, e sim é preciso aplicar os princípios fundamentais às posições. Em muitos casos, jogar com a memorização é pior que não ter lido nenhum livro".
Um problema sério de todo jogador é o estudo e prática das aberturas numa partida e não existe conselho óbvio e de sucesso para todos. Tentarei aqui apresentar um pouco das minhas idéias a respeito do assunto. Recomendo aos meus alunos que estudem aberturas que eles não jogam com freqüência ou uso estas aberturas nas aulas. Parece uma bobagem isso, se levarmos em conta que a maioria de nós jogadores conhecemos pouco de uma só abertura (ou não entendemos nem a dominamos bem). Minha idéia é a de que é necessário aumentar a cultura geral do jogador e lhe deixar apto a se virar por conta própria em qualquer situação. È claro que precisamos conhecer mais das aberturas do nosso repertório. Aconselho a tentar entender as aberturas diferentes, nem que não as joguemos em torneios. Este conselho parece dificultar mais ainda o difícil trabalho de se estudar aberturas, pois aumenta em quantidade o material a ser estudado assim como o tempo de estudo.
Tempos atrás, antes da Internet e das atuais ferramentas da tecnologia digital, o trabalho era em cima de livros e revistas. Hoje em dia existe muito material disponível, o que ajuda muito, mas que dá mais trabalho e assusta quem começa a estudar. É fundamental saber selecionar a qualidade do material a ser estudado e priorizar o que cada jogador necessita.
Recomendo pedir ajuda a algum amigo mais forte, ou mais experiente, ou a um treinador. Acredito que, com o andar do trabalho, acostuma-se com as dificuldades e é possível estudar bem as aberturas sem auxílio de terceiros. Sendo mais objetivo, mostrarei aqui uma aula que passei a meus alunos recentemente, sobre uma situação da Abertura Inglesa logo nos primeiros lances.
Como de costume, antes de mostrar uma partida, procuro explicar a idéia geral da abertura e as possibilidades de cada uma das peças e da estrutura de peões. Neste processo, é essencial DIFERENCIAR e COMPARAR a abertura em questão das outras que o aluno conhece. Essa ótica permite transformar o desconhecido em algo digerível e racional, em vez de meros lances teóricos. Abaixo segue pequena introdução sobre a Abertura Inglesa:
Mais do que uma simples opção aos preferidos 1.e4 e 1.d4 ou para causar surpresa ou ainda atuar como ferramenta de transposição para aberturas de PD, a Inglesa tem vida própria. Pautada pela Flexibilidade tanto na estratégia como no desenvolvimento, a Inglesa busca o controle do centro à distância estruturada no esqueleto 1.c4 2.Cc3 3.g3 4.Bg2, às vezes altera-se a ordem destas jogadas ou incluímos Cf3 ou d4 logo no início deixando o fianqueto g2 de lado em troca de domínio central direto.
Um dos cuidados básicos que o condutor das brancas deve ter é evitar a sistematização de seu desenvolvimento, utilizando sempre a mesma configuração das peças não se importando com o que as pretas façam. O grande segredo abertura Inglesa é a flexibilidade para adapta-se de acordo com a disposição de peças das pretas. Não vale a pena desperdiçar este potencial decidindo de antemão como as brancas irão se comportar.

Outra faceta da abertura é sua similaridade com a Defesa Siciliana (utilizada pelas pretas contra 1.e4). Mas, na prática, devemos esquecer das aparências e tratá-las de acordo com seus diferentes objetivos.

A Siciliana é utilizada como arma de contra-ataque, cedendo espaço, iniciativa e desenvolvimento ao branco, em troca de estrutura mais sólida (que gera dividendos somente no final, se conseguir chegar até lá) e partida aguda visto que as brancas geralmente são compelidas a atacar sob risco de perder a iniciativa. Neste processo de ataque, as brancas deixam espaços vulneráveis em seu campo, avançam peões do próprio roque e podem sacrificar algum material.

A Inglesa dever ser utilizada para o domínio de espaço, casas, linhas e colunas, sendo sempre observado o dinamismo da partida, o equilíbrio da iniciativa e velocidade de apresentação das forças na luta. Para isto utiliza-se de sólida estrutura de peões, podendo ás vezes até passar um pouco da iniciativa (vantagem temporária) para as pretas, mas sempre em troca de alguma vantagem mais duradoura (melhor estrutura, par de bispos em posição promissora, domínio de casas importantes, vantagem incontestável em algum setor do tabuleiro, etc.).

Além da estrutura Siciliana, a Inglesa muitas vezes transforma-se em outras aberturas jogadas originalmente com as peças pretas (Grunfeld, Benoni, Índia do Rei, Siciliana), mas com uma jogada de vantagem. Em alguns casos, isto pode ser uma vantagem real e em outros, apenas uma ilusão. Diferenciar estas situações é uma meta importante para as brancas.

Um dos objetivos das brancas ao jogar a Inglesa é atrapalhar as intenções de certos tipos de jogadores especialistas em alguns sistemas de jogo. Por exemplo:

- jogador X sempre usa Grunfeld contra 1.d4 e provavelmente montará um esquema similar contra a Inglesa, mas sem o mesmo efeito, pois a idéia básica das pretas na Grunfeld é atacar o centro branco. Na Inglesa, as brancas podem evitar o lance d4 e esfriar os ânimos da Grunfeld.
- jogador Y Joga sempre a defesa Holandesa contra PD. Contra a Inglesa, a Holandesa sofrerá, pois não terá o controle da casa e4 (brancas podem jogar d3), e as brancas ainda podem elas mesmas promover a ruptura e4.
Mas um dos pontos mais importantes da Abertura Inglesa é a luta estratégica e a definição de planos. Considerando-a flexível e de pouco contato direto entre as peças, a definição do que fazer em cada posição da abertura muitas vezes depende da ordem das jogadas feitas pelo adversário. Neste sentido, o "não fazer" muitas vezes é essencial na Inglesa, para "não dar informação" ao adversário. Obviamente este "não fazer" não deve ser interpretado com "nada fazer", e sim como "postergar algumas decisões" (como onde desenvolver o Cg1 ou qual peão central mover), executando lances de apoio (como a3, Tb1, d3).
Desenvolvimento A Flexibilidade acima citada é observada na decisão de desenvolvimento:
- Cg1: vai a f3 economicamente ou a e2 (gasta um lance com o peão E) quando buscar liberar o Bg2 pela grande diagonal.
- Peão de "d": geralmente d3, mas quando oportuno d4 direto;
- Peão de "e" (Se Cf3 permanece em e2 e se Cge2 vai a e3 ou e4 (Triângulo de Botvinnik) que enfraquece a própria casa d4, mas é consistente e sólido).
- Cb1 usualmente vai a Cc3, mas em algumas variantes mais próximas à abertura Reti com duplo fianqueto, ele pode ir a d2 para deixar aberta a diagonal do Bb2.
- Bc1 branco, a peça mais difícil para se encontrar utilidade na Inglesa. Este bispo será posicionado conforme a estrutura de peões de ambos. Só irá a f4 ou e3 se estas casas forem estáveis para ele, ou seja, não for incomodado por peões ou cavalos. Em geral, o bispo pode ir a g5 para lutar pela casa d5, b2 para pressionar o centro á distância; até a3 para pressionar c5, d6 e a Tf8 ou simplesmente em d2, onde não faz muita coisa além de unir as torres na primeira fila, além de defender o Cc3 do Bg7 preto em muitas variantes.
- A Dama branca e Torres dependem, logicamente igual a outras aberturas, da ruptura ou troca de peões ou peças para ganharem terreno seguro para avançar território.
- Flexibilidade de rupturas:
- Ruptura d4 para desencadear ações no centro.
- Ruptura b4 para pressionar a ala da Dama apoiada pelo Bg2 e Tb1.
- Ruptura f4 para aumentar a pressão no centro junto a um possível Bb2 ou para conquistar espaço no centro e ala do rei junto a outro peão em e4.

As pretas possuem várias formações diferentes para enfrentar a Inglesa e aqui mostrarei uma delas.

Como poderá ser observado, tanto para as brancas como para as pretas, será possível escolher diferentes planos, logo o jogador que conhecer mais e DIFERENTES tipos de aberturas e estruturas de peões terá mais opções. Vejamos algumas alternativas iniciais contra a Inglesa e os primeiros lances:

*** 1.c4 c5 Benonis e Benkos 2.Cc3 Cc6 (2...Cf6 3.g3 d5 4.cxd5 Cxd5 5.Bg2 Cc7) 3.g3 g6 4.Bg2 Bg7 5.Cf3 Cf6 (5...e5 6.0–0 Cge7 7.d3 d6) 6.0–0 0–0 7.d4


*** 1...e6 Gambito Dama e Defesa Tarrasch 2.Cf3 d5;


*** 1...c6 Eslavas e Caro Kann (2.e4)

*** 1.c4 e5
A ordem de jogadas também é MUITO importante
2.g3 g6
a) Uma opção criativa seria 2...h5!? 3.Cf3 (3.h4 deixa g4 meio fraca, mas é possível.) 3...e4 4.Ch4 Be7 5.Cf5 d6 6.Cxe7 Dxe7 7.Cc3 Cf6 8.Bg2 h4;
b) 2...Cf6 3.Bg2 c6 Keres, similar a uma Siciliana Alapin;
c) 2...Cc6 normal
3.d4! exd4?!
(3...d6 Defesa Moderna 4.dxe5 dxe5 5.Dxd8+²)
4.Dxd4 Cf6 5.Cc3 Cc6 (5...Bg7 6.De5+) 6.De3+ Be7?! (¹6...De7) 7.Cd5! Cxd5 8.cxd5 Cb8 (8...Cb4 9.Dc3 f6 (9...0–0 10.Bh6) 10.e4) 9.d6! cxd6 10.Ch3 0–0 11.Dh6! Cc6 12.Cg5 Bxg5?! 13.Bxg5 f6 14.Bd2 b6 15.Bg2 Bb7 16.0–0 Larsen-Gheorghiu/Monte Carlo 1968 (38)

*** 1.c4 e5 2. Cc3 Cc6
[2...f5 Holandesa ou Siciliana Grand prix invertida 3.d4! exd4 4.Dxd4 Cc6 5.De3+ Be7 (5...De7 6.Cd5; 5...Cce7 6.b3 Cf6 7.Bb2 g6 8.Cd5) 6.Cd5;
2...Cf6 3.g3 c6 Keres ou Siciliana Alapin Invertida (3...Bb4 Smyslov ou Siciliana Rossolimo Invertida 4.Bg2 0–0 5.e4 e5 Bb4(5.Cf3)) 4.Cf3 (4.d4);
2...g6 3.g3 Bg7 4.Bg2 d6 5.Cf3 f5 6.0–0 Cf6 7.d3 c6 Siciliana Cerrada Invertida;
2...d6 3.g3 f5 4.Bg2 Cf6 5.Cf3 (5.e3 Cc6 (5...c6) ) 5...c6 (5...Cc6);
2...Bb4 pretas não se preocupam em ceder o par de bispos, em troca de desenvolvimento ou centro 3.g3 (3.Cd5 Be7 (3...Bc5))]
3.g3 [Novamente a ordem de jogadas pode fazer toda a diferença (3.Cf3 é possível e veremos mais adiante)3...g6 [3...Cf6 4.Bg2 Bc5 jogando siciliana invertida feijão com arroz, ou seja, este esquema agora é sólido...com cores invertidas (siciliana de brancas) seria passivo;
3...d6 4.Cf3 f5 5.d4! (aproveitando a oportunidade) e4 6.Cg5 h6 7.Ch3 g5 8.f3 batendo no centro]4.Bg2 Bg7 5.d3
[5.Cf3 linha mais jogada;
5.Tb1 flexível, aguardando mais acontecimentos para decidir onde desenvolver o Cg1;
5.e3 d6 6.Cge2 Be6 Hort variation, pretas querem o centro ou trocar bispos em h3, além de aguardar informação branca;
5.e4 Triângulo de Botvinnik d6 6.Cge2 Cge7 7.d3 olha a ordem de jogadas de novo...(7.0–0?! h5!? 8.h4 Cd4 ( 8...g5!? 9.hxg5 h4) 9.Cxd4? (9.d3) 9...exd4 10.Ce2 g5! 11.hxg5 d3! 12.Cf4 h4 13.Ch5 Bd4 14.Cf6+ (14.gxh4 Cg6) 14...Rf8 15.gxh4 Cg6 16.h5 Cf4 17.Df3 Ce2+ 18.Rh1 Bxf6 0–1 Franco-Akopian/Linares ESP 2001)]
5...d6 6.Tb1 f5 Com posição normal da Inglesa.

O Estudo das Aberturas - parte 2 - Inglesa

O Estudo das Aberturas - 2
Blog do Disconzi
http://rodrigodisconzi.blogspot.com/2009/01/o-estudo-das-aberturas.html

Dvoretzky: “Quando você começa a estudar uma abertura logo terá uma enorme pilha de material, um grande número de partidas e várias páginas de texto da Enciclopédia de aberturas. Mas você não sabe exatamente o que é necessário, quais são os sistemas principais e quais os secundários. Você vê as variantes, mas não sabe o que há por detrás delas. E se o treinador lhe explicasse as idéias principais e lhe ajudasse a selecioná-las, isso lhe serviria de grande apoio. Em geral, você pode esperar ajuda de um treinador. Mas é muito eficaz, também, o trabalho em dupla com algum de seus amigos, pois cada um tem idéias próprias, análises particulares de aberturas e é útil fazer um intercâmbio, estudá-las conjuntamente”.
No último post fiz uma introdução às idéias básicas da Abertura Inglesa. Porém a maioria dos leitores vai questionar: Ok, para um MI escrever aquilo é fácil, mas e para o jogador médio fazer esta “leitura” da posição inicial sem o conhecimento ou experiência prévia? Como selecionar que lances ou variantes são válidos para serem incluídos num pequeno sumário?
Obviamente isso não é fácil, mas é preciso TENTAR fazer isso com cada abertura ou variante que se pretende estudar. O processo de COMEÇAR o esforço para o entendimento de algo que não compreendemos é o passo mais importante de todo o estudo. Mesmo que o resultado de uma primeira tentativa de leitura da abertura por conta própria seja limitado, o processo de realizar algo individualmente trará uma sensação de realização, gerando mais confiança em si mesmo e no seu jogo.
Abertura Inglesa – orientação inicial 2
**** 1.c4 c5 2.Cf3 Cf6 3.g3 b6 4.Bg2 Bb7 5.0–0 e6 opção das pretas para jogador que costuma jogar a Defesa Índia da Dama contra 1.d4

*** 1.c4 Cf6 2.Cc3 e6 3.Cf3 Bb4 opção das pretas para jogador que costuma jogar a Defesa NinzoÍndia contra 1.d4
*** 1.c4 Cf6 2.Cc3 e5 3.Cf3 Cc6 Inglesa com 4 Cavalos [também é possível 3.g3, mantendo a possibilidade de Cge2 3...Bc5 sólido ou
a) 3...Bb4 lutando pelo centro ao custo de trocar este bispo;
b) 3...d5 4.cxd5 Cxd5 5.Bg2 Cb6 Siciliana Dragão Invertida (5...Cxc3 6.bxc3 Bd6 7.Tb1 quase uma Grunfeld, mas onde pretas não incomodam centro branco);]
Desta posição de 4 cavalos, podem surgir várias estruturas que são similares a outras aberturas, sendo a mais provável Siciliana com cores trocadas. Brancas decidem o que querem jogar agora de acordo com as possibilidades das pretas, que se dividem em:
- jogar ...g6 e decidir se seguem com Bg7, 0-0 e d6 ou d5.
- jogar ...Bc5 e d6 jogo tranqüilo
- jogar ...Bb4 para dobrar peões ou controlar o centro
- jogar ...d5 rapidamente para abrir linhas.
*** 1.c4 Cf6 2.Cc3 e5 3.Cf3 Cc6 4.g3 d5 Siciliana Dragão 5.cxd5 Cxd5 6.Bg2 Cb6 Ou
a) 4...g6 'Siciliana Cerrada' 5.Bg2 Bg7 6.0–0 0–0 7.d3 d6 Inglesa pura;
b) 4...Cd4!? lance estranho, que pode contrariar regras básicas da abertura, mas que tem o objetivo de eliminar peça branca da ala do rei e jogar c6 para vigiar d5. 5.Bg2 (5.Cxe5?! De7 6.f4 d6 7.Cd3 Bf5 com vantagem (7...Cg4? 8.Bg2)) 5...Cxf3+ 6.Bxf3 as pretas perdem tempo com o Cavalo, mas podem controlar d5 com c6 e talvez explorar o vulnerável Bf3. 6...Bb4 7.Db3 Bc5e a dama não está melhor em b3, pois atrapalha a ala da dama! 8.0–0 0–0 9.d3 c6;
c) 4...Bc5 jogo simples;
d) 4...Bb4 Siciliana Rossolimo, buscando dobrar peões e controlar o centro.
*** 1.c4 Cf6 2.Cc3 e5 3.Cf3 Cc6 4.a3 Siciliana mais flexível, podendo ir a todas as variantes. 4.a3 evita Bb4 e desanima Bc5, preparando b4. 'Marini Variation' 4...d5 (sólido seria 4...g6 5.g3 (cedo para 5.d4 exd4 6.Cxd4 Bg7 7.e4 0–0 8.Be2 Te8 9.f3 Cxd4 10.Dxd4 Cxe4) 5...Bg7 6.Bg2 0–0 7.0–0 d6 8.d3) 5.cxd5 Cxd5 6.Dc2 Be7 7.e3.
*** 1.c4 Cf6 2.Cc3 e5 3.Cf3 Cc6 4.d4 Saindo das sicilianas, ficando na Inglesa. 4...exd4 5.Cxd4 Bb4! 'Nenarokov variation' (5...d5 6.cxd5 Cxd5 7.Cxc6 bxc6 8.e4 Cxc3 9.Dxd8+ Rxd8 10.bxc3 leve vantagem) 6.Bg5 h6 7.Bh4 com as opções 7...Bxc3+ (ou 7...0–0 8.Tc1 Te8 (8...Ce5));
*** 1.c4 Cf6 2.Cc3 e5 3.Cf3 Cc6 4.e3 Lance ardiloso e de aparência tímida. Siciliana Paulsen praticamente evitando d5 das pretas, preparando d4 também.
4...Bb4 Rossolimo outra vez. (Ou
4...d6 5.d4 e brancas tem d5 ou dxe5 como boas opções.; ou
4...d5 5.cxd5 Cxd5 6.Bb5 Cxc3 7.bxc3 Bd6 8.d4 com iniciativa)
5.Dc2 'Romanishin' (parece prematuro 5.d4 exd4 6.exd4 d5 (6...0–0 7.d5 Ce4 8.Dc2 Df6 (8...Te8 9.Be3) 9.Bd3 (9.Dxe4 Bxc3+ 10.Cd2 Dd8 11.Be2) 9...Cxc3 10.0–0) 7.Bg5 Be6 com equilíbrio)
5...Bxc3!? Pretas gastam o par de bispos sem que brancas ameacem, só para dominar o centro (linha antiga 5...0–0 6.Cd5 Te8 7.Df5 para incomodar d6 (7...Be7 8.Cg5 (8.Cxe5 Cb4) 8...g6 9.Df3 d6 10.h3) 8.Cxf6+ gxf6 (8...Dxf6 9.Dxf6 gxf6 leve branco) 9.Dh5 confuso) 6.Dxc3 De7 7.a3 (7.Be2 d5! e o jogo preto anda fácil) 7...d5 8.d4 com equilíbrio;


*** 1.c4 Cf6 2.Cc3 e5 3.Cf3 Cc6 4.d3 Siciliana Scheweningen , mas sem a flexibilidade de poder tirar o Bf1 a c4, b5 ou d3.]
*** 1.c4 Cf6 2.Cc3 e5 3.Cf3 Cc6 4.e4 Siciliana Cerrada. Parece esdrúxula a idéia de Ninzovich, mas funciona mais do que a aparência. Também tenta formar o Triângulo de Botvinnik com d3 e e4. As Brancas entregam d4, mas pretas teriam que gastar certos tempos para ocupar a casa, enquanto isso as brancas podem contra-atacar com f4 ou b4. 'Ninzovich' 4...Bb4 Pressionando o centro e evitando d4. Vejamos as alternativas pretas normais:
[4...Bc5 5.Cxe5! Cxe5 (5...Bxf2+ 6.Rxf2 Cxe5 7.d4 Ceg4+ 8.Rg1±) 6.d4 Bb4 (6...Bd6 7.c5!) 7.dxe5 Cxe4 8.Dd4 Cxc3 (8...Cc5 9.Bd2!) 9.bxc3 Be7 10.Dg4 (10.De4!?; 10.c5 0-0 11.Bd3) 10...Rf8! 11.Dg3 d6 equilíbrio;
4...g6 5.d4! India de Rei com Cc6 cedo.;
4...Be7 5.d4! domínio central]

5.d3 d6 6.g3 Bg4 [6...0–0 7.Bg2 Bg4 8.h3 Bxf3 9.Bxf3 Bc5 (9...Cd4!? 10.Bg2 a5!? 11.0–0 Bc5 12.Tb1 c6 13.a3² Ehlvest-AdamsTerrassa 1991) 10.0–0 h6 11.Bg2 a6 12.a3 = Onischuk-Berelovich/Donetsk 1998/CBM 68/ [Ribli] (34)]

7.h3 Bxf3 8.Dxf3 Cd4 9.Dd1 c6 10.Bg2 a6 [10...0–0 11.0–0 Bc5! 12.Rh2 (12.Ca4 De7 13.Cxc5?! dxc5) 12...a5 13.f4 b5 14.f5!? Bu Xiangzhi-Bacrot/ Turin ITA 2006]

11.0–0 b5 [Provavelmente era mais seguro rocar 11...0–0 12.a3 (12.f4 Bc5 13.Rh2 Dd7 14.Ce2= (14.fxe5 dxe5 15.Bg5 Be7 16.Dd2 (16.Tf2 Cg4+–+) 16...Tad8 leve vantagem preta)) 12...Bc5 13.b4 Ba7 14.Be3 b5 15.a4 a5! Com equilíbrio]

12.Be3 Bc5 [abriria linhas para as brancas 12...bxc4?! 13.dxc4 Bc5 14.Ca4 Ba7 15.c5! dxc5 16.Tc1 vantagem (16.f4!?); Sólido é 12...0–0 13.Ce2 Bc5 14.Cxd4 Bxd4 15.Bxd4 exd4 16.f4 (16.e5 dxe5 17.Bxc6 Tb8 18.cxb5 axb5 19.Bg2 Te8 com equilíbrio) 16...Tb8 17.cxb5 (17.b4 bxc4 18.dxc4 Txb4 19.Dxd4 d5 equilíbrio) 17...axb5 18.Dc2 c5 19.a3 com equilíbrio]

13.b4! [lento 13.Tb1 Ce6 14.b4 Bd4; Natural mas não pressiona tanto, pois pretas sempre tem Be7 para aliviar a pressão em f6 13.f4 0–0 14.fxe5 dxe5 15.Bg5 Be7]

13...Bxb4 [se: 13...Bb6 14.a4! com pressão na ala 0–0 15.axb5 axb5 16.Txa8 Dxa8 17.cxb5 cxb5 18.Cxb5 Cxb5 19.Bxb6; ou: 13...Ba7 14.a4 0–0 15.axb5 axb5 16.cxb5 Cxb5 17.Cxb5 Bxe3 18.Txa8 Dxa8 19.Cxd6]

14.Bxd4 exd4 15.e5! Abrindo caminho ao bispo da Inglesa!

15... Cd7 [15...0–0 16.exf6 Bxc3 17.fxg7 Rxg7 18.Bxc6 Tc8 19.Dg4+ Rh8 20.Bb7 Tc5 21.Bxa6 Bxa1 22.Txa1 com compensação]

16.Ce2 Db6? [16...Tc8 17.e6!? fxe6 18.Cxd4 Bc3! 19.Cxc6 (19.Cxe6 Df6 20.Tc1 Bb2 21.Tc2 Dxe6 22.Txb2 0–0 com equilíbrio 19...Txc6 20.Bxc6 Bxa1 21.Dxa1 0–0 confuso 22.cxb5 axb5 23.Bxb5 Ce5]

17.cxb5 [17.e6 fxe6 18.Cf4 0–0 19.Cxe6 Tf6 20.Cf4 Tf7 21.Dh5 Ce5]

17...axb5 18.Db3 Bc5 19.e6! fxe6?! [19...Ce5!? lance difícil 20.f4 Cc4! 21.exf7+ Rxf7 22.dxc4 d3+ 23.Rh2 dxe2 24.Tfe1 com equilíbrio]

20.Dxe6+ Rd8 21.Cf4 g5 [21...Rc7 22.De7 (22.Dg4 g6 23.Ce6+ Rc8 24.Cxc5 dxc5 25.Tae1) 22...g6 23.Ce6+ Rc8 24.Tfc1]
22.Ch5 Rc7 23.Cg7 Ta7 24.Ce8+ Txe8 25.Dxe8 com vantagem Db8 26.De4 d5 27.Dxh7 Rb6 28.a4 b4 29.a5+ Rb5 30.Tfe1 b3 31.Teb1 Bb4 32.Df5 [32.Dg7! era melhor] etc...½–½ Bu Xiangzhi-Miroshnichenko [A28] Antwerp, 26.08.2008

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Bobby Fischer vai à Guerra

Este livro sobre o xadrez não tem uma única partida, mas sim uma batalha épica entre um americano e a máquina soviética que dominou o xadrez mundial.

O livro ainda não tem tradução em português, por isso as transcrições dos trechos que seguirão são por minha conta: “Bobby Fischer Goes to War”, de Edmons e Eidinow, com 350 páginas recheadas de entrevistas, pesquisa, relatórios, fotos, investigação, intrigas e depoimentos sobre o match de Reykjavik 1972, Fischer contra Spassky.

O livro tem como foco central os bastidores do “Encontro do Século” e paralelamente seus protagonistas. Desde a infância até o a conquista do título mundial.

Neste trajeto, me deparei com passagens curiosas, engraçadas e outras que demonstram o que os levou a se tornarem estrelas do esporte.

Também fiquei surpreso com a qualidade do trabalho dos escritores, que conseguiram deixar o livro acessível para não enxadristas. E o ritmo da narrativa consegue prender o leitor, que fica ansioso para saber o que vem a seguir na história.

E como apêndice, os autores trazem uma descoberta surpreendente. Após pesquisarem em arquivos da CIA e FBI, descobriram que a mãe de Bobby Fischer havia sido investigada pelas agências citadas por suspeita de espionagem. Vasculhando a vida dela não encontraram nada de definitivo, mas descobriram que o pai de Bobby Fischer era outro, em vez do pai de criação. E dão detalhes e provas que parecem conclusivas. Talvez seu nome real devesse ser Bobby Nemenyi, sobrenome do cientista húngaro que trabalhou no Projeto Manhattan para construção da bomba atômica americana em 1942. O pai oficial de Bobby, o alemão Hans Fischer teria rompido com Regina Fischer já em 1939. Bobby nasceu em 1943. Paul Nemenyi faleceu em 1952 e suas pesquisas e causas de morte seguem em sigilo. Fischer era vivo à época do lançamento do livro, mas não se manifestou sobre o assunto.

Cartas da mãe dele para uma amiga, encontradas um mês após a morte dele, relatam que Bobby havia rompido com a mãe por ela apoiar o regime comunista e por ele não saber ao certo sobre seu pai. Nestas cartas ela conta ainda que foi melhor para os dois que Bobby passasse a viver só aos 16 anos de idade, já que a presença dela o irritava.

Segundo Edmons, se Bobby ainda adolescente fosse a um médico nos dias atuais, talvez lhe diagnosticassem como possuidor da Síndrome de Asperger, que é um tipo de autismo caracterizado por não haver atraso na linguagem nem no desenvolvimento cognitivo, mas com dificuldades em interagir com a sociedade e com restritos e estereotipados padrões de comportamento e interesses.

Abaixo transcrevo alguns trechos selecionados:

"Eu (GM Bisguier) costumava visitar Bobby em seu apartamento todos os dias durante o Interzonal de Curaçao. Certo dia encontro o apartamento com a porta aberta e Bobby com um sapato na mão. Disse-lhe que com a porta aberta insetos tropicais iriam invadir seus aposentos. E ele respondeu: - É bem isso que eu quero!”.

"Poucos anos após a crise dos mísseis entre EUA e URSS, ocorrida em Cuba, iria acontecer o Memorial Capablanca em 1965 e Fischer fora convidado, mas o governo dos EUA nega liberar sua participação. Fischer então resolve jogar por telex. Cuba usa a participação de Fischer como uma vitória política. Bobby se irrita e avisa Fidel que não jogará mais se continuarem usando o nome dele para outros fins. Mas Fidel saiu-se muito bem dessa: 'Não existe necessidade de propaganda de vitória. Mas se você está assustado... então será melhor achar outra desculpa para não jogar' Fischer jogou”.

"Uma curiosidade misteriosa é o livro Die Blendung (Auto da Fé, na edição inglesa!), escrito por Canetti em 1935 (muito antes de Fischer nascer). O personagem central do livro era um enxadrista fanático chamado Fischerle, que sonhava em derrotar o campeão do mundo. Fischerle passava a maior parte de sua vida num tabuleiro e possuía potente memória além de um estilo furioso”.

"Spassky nasceu na época do Grande Terror de Stalin e logo depois suportou os ataques alemães a Leningrado até 1944. Cerca de 1 milhão morreram. Uma pequena parte pelas bombas, a maioria de fome e frio. Os sobreviventes mal tinham forças para enterrar os mortos e o canibalismo era endêmico. Korchnoi relata que provavelmente sobreviveu porque muitos de seus parentes morreram, deixando aos sobreviventes suas rações de comida”.

"Em meio às ruínas da cidade, o xadrez foi para Spassky sua conexão com a sociedade e o meio de manter o senso de ordem”.

"Aos onze anos Spassky era a salvação de sua família, recebendo salário maior que o de um engenheiro. A casa em que moravam tinha 14 metros quadrados, passando para 24 após a fama do menino. Nesta época, Spassky interrompeu por 15 minutos uma simultânea que dava, pois ficara abalado ao perder uma partida para um oficial, após permitir que este voltasse uma jogada".

"Aos 21 anos, Spassky precisava vencer Tal no Campeonato Soviético para se classificar para o Interzonal. Ele perdeu e chorou. Petrosian conta que, ao ir ver a partida, Spassky olhara para ele: - Eram olhos de um animal encurralado, lembra Tigran".

"Aos 22 Spassky se divorciara: - Éramos como bispos de cores opostas, disse”.

"No funeral de Keres todos se vestiam de preto, exceto Spassky, de vermelho. Havia milhares de pessoas na rua, mas ele era o único que podia ser visto, lembra Averbakh”.

"Após conquistar a coroa mundial, Spassky começou a dominar todos os aspectos da vida ao seu redor: - Ele até começou a dar conselhos de como cozinhar sopa! lembra sua esposa Larissa”.

"Não sei o que é pior: antes ou depois de um match pelo título mundial. Num match longo, o jogador vai muito fundo dentro de si mesmo, como um mergulhador. Então ele sobe à tona muito rápido. Não interessa se ganhei ou perdi o match, fico deprimido e não consigo me conectar com as outras pessoas. Eu quero é o meu adversário de volta! Somente após um ano a dor passa" (Spassky).

"Nunca quis ser campeão mundial. Só queria jogar bem xadrez. Nos últimos seis anos não tenho fumado e nem bebido. Meu médico me disse para ficar longe da excitação dos jogos de futebol ou hockey porque preciso dos meus nervos para jogar bem xadrez. Mas o que eu posso querer desta vida?" (Petrosian).

"O match Fischer x Petrosian foi jogado em Buenos Aires. Fischer aprovou a escolha, pois lá havia a melhor oferta financeira e os melhores filés”.

"Na primeira partida do match, Fischer inesperadamente entra na defensiva quando as luzes se apagam. O relógio é parado e Petrosian sai do palco. Fischer se afasta, mas segue olhando para o tabuleiro. Petrosian reclama ao árbitro que seu adversário segue calculando com o relógio parado. Fischer então pede ao árbitro que acione seu relógio, enquanto ele segue calculando na escuridão”.

"Durante o match contra Spassky, um repórter foi a 21 bares de Nova Iorque verificar se alguém seguia na TV a partida que era mostrada ao vivo. Dezoito dos 21 mostravam xadrez e somente 3 mostravam o jogo de baseball do NY Mets”.

"Após Fischer derrotar Spassky, o Comitê Soviético de Esportes reformulou suas bases para o xadrez no país, determinando mais educação enxadrística em geral, livrarias de xadrez para as grandes cidades com publicações estrangeiras e propostas para melhorar o treinamento e nutrição dos seus melhores enxadristas”.


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Anos dourados do Clube de Xadrez São Paulo

25/12/2008
CAROLINA ARAÚJO - da Folha de S.Paulo
http://www1.folha.uol.com.br/folha/esporte/ult92u483075.shtml

"Há alguns anos, aqui era animado até de madrugada. Hoje, me dá tristeza ver o salão tão vazio"

A opinião não é de apenas um freqüentador, mas de um dos mais assíduos personagens do Clube de Xadrez de São Paulo em seus 106 anos de história.

Virgílio Agostinho Oliveira, 78, é porteiro da entidade desde 1953, quando o clube se localizava na rua 24 de Maio.

Hoje, 55 anos depois e já aposentado, "seu Virgílio", como é conhecido, segue trabalhando no clube todos os dias, mesmo que, devido aos problemas financeiros, seus salários estejam atrasados há vários meses.

Nos anos 60, ele atendia interessados em usar os serviços da barbearia do local. Também recepcionava famílias da elite paulistana que almoçavam no restaurante Torre de Prata, no quarto andar da sede da rua Araújo, que depois passavam as tardes jogando xadrez e bridge.

Nessa época, mais de 400 enxadristas freqüentavam regularmente o Clube de Xadrez de São Paulo, contra os cerca de 40 sócios que existem atualmente.

Durante cinco décadas, "seu Virgílio" viu passar pelo CXSP vários campeões mundiais, como os russos Boris Spassky e Anatoly Karpov, considerados dois dos maiores jogadores de xadrez de todos os tempos.

"As pessoas enchiam o clube para ver os grandes mestres. A garotada hoje em dia conhece os campeões pela internet"

Sobre a situação atual, ele acha que a crise que ameaça fechar as portas do CXSP ocorre pela falta de torneios. "Ninguém paga mensalidade para vir ao clube e não ter parceiro para jogar", afirma.

"Já vi o Clube de Xadrez de São Paulo em dias bons e em dias ruins. Mas esta, com certeza absoluta, é a pior época de todas", lamenta o porteiro.

Uma noticia auspiciosa!
O Clube de Xadrez São Paulo e a SEMP-TOSHIBA assinaram um contrato de parceria que abrange todo o ano de 2009. Através dessa parceria, o CXSP e a SEMP-TOSHIBA desenvolverão diversas atividades de difusão e promoção do xadrez, dentre as quais destaca-se um programa de inclusão social: o ensino de xadrez para crianças em idade escolar do Núcleo Sócio Educacional de Heliópolis, na zona sul da cidade de São Paulo. Esse programa, inicialmente abrangendo o ensino e prática de xadrez para 120 crianças da comunidade, permitirá também a formação de instrutores de xadrez dentre os próprios colaboradores do núcleo.

Além desse programa de responsabilidade social, estão previstas outras atividades do CXSP, tais como campeonatos escolares, palestras e eventos de divulgação do jogo em universidades.

Os recursos provenientes dessa parceria serão utilizados pelo CXSP para o pagamento de parte das suas despesas operacionais e de manutenção no ano de 2009.

Xadrez

por Pedro Aladar Tonelli
O Xadrez, como vocês sabem, é um desses jogos que nos entretêm pela internet. Dizem até que antigamente, num passado não tão remoto assim, era possível se jogar xadrez sem computador! Podia-se comprar tabuleiros e peças que representavam os figurinos de hoje, geralmente eram feitos em madeira ou plástico. Depois saía-se por ai ensinando as regras aos amigos e procurando quem quisesse jogar e perder uma partida. Desnecessário dizer que esta forma do jogo trazia sempre o risco de uma manifestação violenta do adversário, em caso de derrota, acabar em lesão corporal no vencedor.

Também é obvio que a clientela habitual uma hora não veria mais a menor graça em ficar perdendo pra você (e ainda com aquela cara de ser superior) e, sem internet, você deveria ir a um "clube de xadrez". Estes eram os lugares onde se reuniam enxadristas para, principalmente, aniquilar o ego dos outros. Os pais nem se importavam, nem havia CPI´s sobre clubes de xadrez, pois estes gozavam de ótima reputação ocidental desde a idade média. Imagina se algum meliante iria a um clube de xadrez! Era um ambiente de damas e cavalheiros bem comportados. (As damas ficavam sempre ao lado dos reis!).

Mas também nos clubes de xadrez chega o dia em que seu talento já não dispõe de desafios muito grandes. Restou este hábito de ir ao clube para desfilar os argumentos arrogantes sobre posições ganhas, ética dos derrotados e aberturas condenadas. Como se estivéssemos num congresso científico.

Entre os milhões de habitantes de São Paulo, muitos jogam xadrez e passaram seu período pré-internet imersos nestes clubes de xadrez. Um templo com liturgia própria com símbolos estranhos com asseclas de todas as idades entre sete e oitenta anos fugindo das realidades mais diversas. Quase todos também passaram pelo templo-mor do culto enxadrístico em São Paulo: O CXSP, na rua Araújo. Todos têm suas figuras míticas desta época. As minhas: Antonio Rocha, Hermann Claudius, Cajal, o seo Isidoro, o seo Virgilio, o Pano (Panayote), o Filguth e o Segal! Velhos tempos.

No sábado passado, ou foi na sexta [1], a folha de S. Paulo fez uma amarga reportagem sobre o CXSP. O Clube está quase fechando e os tabuleiros (palcos de grandes e mortíferas batalhas) estão às moscas.

Bom, se você é um admirador do xadrez, não tem com que se preocupar, se você sabe xadrez é porque tem internet e um apelido para o seu alter-ego enxadrístico na rede (veja [2], por exemplo). Mas se você precisa, por algum motivo, sair de casa, fugir da realidade e exercitar ao vivo o seu sarcasmo então o xeque-mate está próximo amigo.


[1] http://www1.folha.uol.com.br/folha/esporte/ult92u483077.shtml
[2] http://www.chesscubes.com

A Lei de Murphy no Xadrez

- Toda abertura que você decora, acaba não precisando. Toda abertura que você precisa, acaba não decorando.

- sempre que você tiver tempo livre para estudar xadrez, você vai desperdiçar este tempo fazendo algo inutil.

- se você consegue manter a cabeça no lugar enquanto os outros à sua volta estão desesperados, é porque você ainda não entendeu a gravidade da sua posição.

- uma boa oportunidade para se fazer uma boa jogada, sempre acontece no momento mais inoportuno da partida.

- nunca dá para saber com antecedência o momento em que é tarde demais para fazer um bom lance.

- se você sabe que algo pode dar errado e toma precauções para que não dê, outro algo dará errado no lugar do primeiro algo.

- se uma abertura errada dá certo com freqüência, torna-se certa.

- as coisas dão erradas todas de uma vez, mas quando dão certo, é aos poucos.

- leva-se uma jogada para estragar uma posição, mas leva-se uma partida toda para conserta-la.

- a experiência habilita a pessoa a reconhecer um erro, mas somente quando ele é cometido de novo.

- esta mesma experiência nos faz cometer sempre novos erros, em vez dos antigos.

- leva menos tempo para fazer algo da maneira certa do que explicar porque foi feito errado.

- não há jeito certo de fazer a coisa errada.

- se você soubesse, durante a partida, a bobagem que está fazendo, provavelmente ficaria muito chateado.

- só porque você está chateado, não significa que você saiba o tamanho da capivarada que você está fazendo.

- se não consegue vence-los, confunda-os.

- o mais importante não é ganhar ou perder...até você perder...

- você não pode ganhar todas, especialmente se perder a primeira...

- aquele que bate peças mais alto é aquele que consegue chamar a atenção da platéia.

- se a gente soubesse exatamente o rumo que as coisas iriam tomar, nunca iríamos a parte alguma.

- qualquer lance é possível se você não sabe o que está fazendo.

- nenhuma partida é um completo fracasso, ela sempre poderá servir de exemplo negativo.

- o que quer que dê errado, sempre haverá alguém que sabia que ia dar errado antes.

- nunca discuta com um capivara, para que não achem que você é um deles.

- indecisão é a base para a flexibilidade.

- a arrogância é a mãe de todas as capivaradas!

- se uma situação requer atenção total, ela irá acontecer no momento em que você estiver distráido.

- lances brilhantes sempre aparecem disfarçados como problemas insoluveis.

- é mais fácil sugerir um lance quando você não sabe nada quando você não sabe nada a respeito do que está acontecendo.

- um grupo de mestres não é capaz de desfazer uma cagada cometida por um capivara.

- quando os outros estiverem discutindo uma posição, preste bastante atenção e depois destrua tudo com um comentário banal.

- se um capivara lhe fizer uma pergunta pertinente, encare-o como se ele tivesse perdido o juízo. Quando ele demonstrar estar atordoado, devolva-lhe a mesma pergunta, mas com palavras diferentes.

- quando o mestre conceituado e respeitado estiver em profunda concentração, ele provavelmente estará pensando no que vai comer no jantar...

- a agonia da derrota dura mais do que a excitação da vitória.

- um lance ruim bem explicado, é melhor do que um bom lance incompreensivel..

- errar é humano, mas a sensação de errar é divina.

- é simples complicar uma posição, mas é extremamente complicado torna-la simples.


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O xadrez e a pedagogia

O artigo apresentado a seguir é de autoria de Wilson da Silva, que é professor de xadrez da Fundação Cultural de Curitiba, do Colégio Expoente Boa Vista e graduado no curso de Pedagogia pela Universidade Federal do Paraná. Wilson vem fazendo um excelente trabalho de desenvolvimento do xadrez no estado do Paraná e é um dos principais defensores de sua implantação no ambiente escolar em todo o Brasil.

Introdução
Certa vez um jornalista perguntou ao grande mestre internacional Savielly Tartakower quem era o melhor enxadrista de todos os tempos e recebeu a seguinte resposta: se o xadrez é uma ciência o melhor é Capablanca; se o xadrez é uma arte o melhor é Alekhine; se o xadrez é um esporte o melhor é Lasker.

Analisaremos a seguir o xadrez relacionando-o com estas três áreas do conhecimento.

Ciência
Não está errado afirmar que o xadrez é um jogo, mas se não acrescentar nada a esta definição ela torna-se vazia pela sua pobreza de espírito, pois se trata de um jogo que educa o raciocínio desenvolvendo algumas capacidades intelectuais do indivíduo.

O xadrez tem sido investigado por áreas como a psicologia, a pedagogia, a informática entre outras; foi tomado como modelo para estudos em computação e tem uma base que se assemelha à matemática, estimulando assim significativamente o desenvolvimento de habilidades cognitivas e as operações do intelecto. Desperta o espírito reflexivo e crítico ampliando a capacidade para a tomada de decisões, dando ao aluno, uma pauta ética para a aquisição de valores morais, melhorando a segurança pessoal e a auto-estima. Desenvolve a atenção e a capacidade de concentração através de uma atividade lúdica proporcionando prazer ao praticante. Torna-se sensível, pois, sua relação com a ciência.

Esporte
O aspecto esportivo do jogo de xadrez pode ser notado tanto por seu comportamento competitivo, em forma de torneios, como por constituir uma "ginástica mental" (Goethe), o qual pode ser complemento da ginástica e de outras modalidades de atividade física que o indivíduo necessita para sua saúde corporal.

É notória, para os praticantes do xadrez, a situação em que se deve imaginar as novas posições que derivarão do movimento que se faz. Porque cada movimento prevê um contra-movimento do adversário, e cada plano deve ser feito sem que se toque nas peças, sendo comum o jogador imaginar como chegará à etapa final da partida e julgar se aquele final é vantajoso para ele ou para o adversário.

Não é casual que os grandes mestres de xadrez pratiquem esportes como tênis, futebol, natação, etc., porque no xadrez de alto nível é necessária uma grande preparação física, além de psíquica.

No nível técnico e no seu treinamento, o enxadrista deve ser tão disciplinado quanto um pugilista, porque seu combate, menos violento no campo dos músculos, resulta muito prolongado no campo das idéias. Pode um enxadrista perder mais peso em uma partida do que um lutador de boxe em um combate, bastando recordar o primeiro match pelo título mundial entre Anatoly Karpov e Garry Kasparov.

No momento em que um enxadrista participa de um torneio se converte em um desportista e vive os momentos épicos ou sofre os dissabores como qualquer outro dedicado às mais diversas modalidades olímpicas, porque alcança maior dimensão o ato de ganhar ou perder.

Arte
A maioria dos enxadristas, ao realizar uma combinação, experimenta a satisfação estética similar à sentida ante uma obra mestra da pintura ou da música.

Outro aspecto interessante a ser analisado é que, tanto no xadrez como na música e na matemática, são observadas crianças prodígios. Se compararmos estas três áreas do conhecimento com a pintura, a escultura e literatura, observaremos que nas últimas, a pequena experiência de vida não é suficiente para uma criança compor algo com valor estético. Em contrapartida, no xadrez, na música e na matemática esta experiência de vida não é fundamental. Segundo Edward Lasker, Mozart compôs e escreveu um minueto antes de completar quatro anos de idade. Gauss, aos três anos de idade, sem saber ler e escrever corrigiu uma comprida soma que seu pai fez. Reshevsky jogou dez partidas simultâneas de xadrez aos seis anos de idade. Os artistas mostram normalmente pouco interesse pelas atividades que exigem o pensamento lógico em demasia. Não negam a sua importância, mas não gostam que a lógica amarre o seu estilo. No jogo de xadrez, na abertura (fase inicial) e no meio-jogo (fase intermediária), em contrapartida com o final que é lógica pura, somente a análise lógica não basta, devido ao elevado número de possibilidades a serem examinadas. Então o enxadrista, diante da incapacidade do cálculo exato, orienta-se por princípios gerais. Ao pautar-se por esses princípios gerais o jogador de xadrez reduz as opções drasticamente a algumas a serem consideradas. Ocorre que mesmo com essa seleção prévia, ele precisa usar sua imaginação, sua intuição por assim dizer, para encontrar o melhor lance.

"A impossibilidade de conhecer o melhor lance que eleva o xadrez de um jogo científico para uma arte, um meio de expressão individual"

Conclusão
Howard Gardner em seu livro Estruturas da Mente: Teoria das Inteligências Múltiplas, apresenta a interessante teoria de que existem pelo menos sete tipos de inteligências, que se desenvolvem com certa autonomia e podem ser educadas. Ao analisar a inteligência lógico-matemática, Gardner faz menção aos enxadristas terem essa habilidade muito desenvolvida. Entretanto é na inteligência espacial que o autor cita o xadrez como um "forte candidato para ilustrar a centralidade da inteligência espacial".

Adotando a hipótese de Gardner, que foi baseada em minucioso estudo, que as inteligências podem ser desenvolvidas e considerando o que foi exposto sobre as possíveis contribuições do xadrez no âmbito escolar, parece-nos correto propor que este jogo, cuja origem perde-se no tempo, seja considerado em toda sua extensão, no que tange à educação.

Ora, se considerarmos as três esferas analisadas anteriormente (a ciência, o esporte e a arte) importantes na educação do indivíduo, parece sensato apresentar o jogo de xadrez como candidato a estimulá-las e desenvolvê-las, haja vista que um tabuleiro e um jogo de peças têm custo reduzido e muita durabilidade.

Xadrez: do jogo para a realidade

Por André Martin
O raciocínio do xadrez pode ser utilizado no dia-a-dia para facilitar escolhas, uma vez que trabalha com antecipação das jogadas e das conseqüências de cada movimento.

O xadrez desafia nossa mente com as diferentes possibilidades que cada movimento oferece. Para quem não conhece o jogo, é preciso lembrar que ele funciona como dois exércitos que se enfrentam em um tabuleiro quadriculado. Nesse parco espaço, as peças menores (peões, cavalos, torres, bispos) orbitam o casal principal: a poderosa rainha e o imponente rei, que deve ser derrotado com o famoso "xeque-mate".

Apesar das regras, o número de combinações de movimentos de peças faz com que cada partida seja única. Você até pode tentar repetir as mesmas jogadas, mas em algum momento encontrará uma situação que o forçará a agir de forma diferente. Essas características transformam o xadrez em um excelente exercício mental. Afinal, quem o joga aprende a pensar com maior agilidade.

Podemos afirmar que o xadrez ensina muita coisa para a vida prática. É comum durante a partida tentarmos antecipar duas ou três jogadas, o ideal é prever mais. Com isso, temos de imaginar o que vai, ou poderia, acontecer ao mexermos determinada peça e qual será a reação (ou reações) do adversário. Além disso, para cada caso, um novo leque de possibilidades se abre. Então, ao vislumbrar as opções e suas conseqüências, podemos escolher com mais segurança a melhor jogada e a mais indicada para aquele momento.
No cotidiano sempre nos deparamos com situações semelhantes, nas quais poderíamos nos colocar na posição de nossos oponentes, antecipando nossos lances em busca de superação. O xadrez nos treina nesse quesito e passamos a reagir automaticamente, perseguindo a melhor reação e neutralizando um movimento da concorrência que nos prejudicaria.

Mente ativa, raciocínio rápido, planejamento, reação automática mas pensada, elaboração de estratégias vencedoras, soluções de contorno e tentativa de reversão nas adversidades e situações imprevistas, além do prazer e diversão! Quantos benefícios e ensinamentos o xadrez nos traz para a vida profissional!

Se você não joga xadrez, aprenda, pratique e conheça os resultados!

O Xadrez na Escola

O xadrez não é só um jogo, não é só uma arte e nem é só uma ciência. O xadrez é a mistura de todos estes elementos com um pouco de tempero. E é por esse e por muitos outros motivos que o xadrez é considerado uma ótima matéria para ser aplicada na escola.

Você deve estar perguntando? No que o xadrez influência na educação? Abaixo estão alguns links que podem ajudar a descobrir o porque disso:

1- A criança e as atividades lúdicas
2- Por que jogar xadrez?
3- O valor educativo do xadrez
4- O xadrez como disciplina escolar

A criança e as atividades lúdicas
Em princípio, devemos entender o jogo como uma atividade que obedece ao impulso mais profundo e básico da essência animal. Essa atividade se inicia em nossas vidas com os mais elementares movimentos, complicando-se até dominar a enorme complexidade do corpo humano.

Os primeiros jogos que a criança faz são os chamados jogos de exercício, utilizando como principal objetivo seu próprio corpo. Os bebês chupam suas mãos, emitem sons e repetem diversos movimentos sem finalidade utilitária.

A transição dos jogos de exercícios para os simbólicos marca o início de percepção de representações exteriores e a reprodução de um esquema sensório-motor fora de seus contextos.

Podemos dizer que o jogo simbólico é um jogo de exercício em que o que é exercitada é a imaginação.

Ao chegar ao período das operações concretas (por volta dos 7 anos de idade) a criança, pelas aquisições que fez, pode jogar atendo-se a normas. Surgem então os jogos de regras, e ela terá que abandonar a arbitrariedade que governava seus jogos para adaptar-se a um código comum podendo ser criado por iniciativa própria ou por outras pessoas, mas que deverá acatar limites porque a violação das regras traz consigo um castigo.

Isso ajudará as crianças a aceitar o ponto de vista das demais, a limitar sua própria liberdade em favor dos outros, a ceder, a discutir e a compreender.

Quando se praticam jogos de grupo a experiência se engrandece, já que a sociabilidade é agregada à vida da criança, surgindo assim os primeiros sentimentos morais e a consciência de grupo.

Quando a criança joga compromete toda sua personalidade, não o faz apenas para passar o tempo.

Pode-se dizer, sem dúvida, que o jogo é o "trabalho da infância" ao qual a criança dedica-se com prazer. É fácil perceber, diante disso, o inegável valor educativo que a prática lúdica possui.

Muitos psicólogos afirmam que os primeiros anos são os mais importantes na vida do homem, sendo que a atividade central manifestada é o jogo. É notável o que se pode aprender construindo seus próprios jogos, utilizando conceitos de plano inclinado, polias, velocidades etc., coisas que só serão ensinadas muito depois no período escolar.

O erro que muitos professores cometem é não valorizar em toda sua extensão essa atividade, extraindo o que ela contém de educativo. Podemos sentir na criança que seu ingresso na escola é algo muito diferente de tudo que ela fez até então, que terá obrigações a cumprir, que sua vida dedicada ao jogo terá uma mudança brusca.

Temos que aprender a diferenciar o que significa o jogo para o adulto e para a criança. Para nós adultos, porque assim nos educaram, o jogo é o que fazemos quando não se tem alguma coisa mais importante e desejamos preencher horas vazias com algum lazer. Para as crianças é todo um compromisso no qual lutam e se esforçam se algo não sai como querem.

Por que jogar xadrez?
O xadrez é o segundo esporte mais praticado no mundo, abaixo apenas do futebol. É um grande impulsionador da imaginação, que também contribui para o desenvolvimento da memória, da capacidade de concentração e da velocidade de raciocínio. Foi constatado que o xadrez desempenha um importante papel socializante, por ensinar a lidar com a derrota e com a vitória, mostrando que a derrota não é sinônimo de fracasso nem vitória é sinônimo de sucesso.

O xadrez é capaz de mostrar as conseqüências de atitudes displicentes, que não tenham sido previamente calculadas e, por conseguinte, estimula o hábito de refletir antes de agir, além de ensinar a arcar com as responsabilidades dos próprios atos.

O xadrez é uma arte de grande beleza e apresenta imensa riqueza de possibilidades. É um passatempo agradável e instrutivo que entreteve grandes personalidades de nossa história como Napoleão, Einstein, Voltaire, Goethe, Montesquieu, Benjamin Franklin, Victor Hugo, Machado de Assis e Monteiro Lobato – para citar apenas alguns. E hoje é um esporte que pode ser jogado não presencialmente, através de redes de computadores como a Internet, estando o adversário em qualquer lugar do planeta, e por isso o que mais cresce em adeptos, sendo já considerado o esporte do novo milênio.

Se quisermos também uma explicação científica que mostre os benefícios práticos que podem ser alcançados pela prática desse esporte, poderíamos apresentar opiniões e pesquisas de pedagogos, psicólogos, intelectuais e instrutores de xadrez. Resumindo os resultados, conclui-se o xadrez contribui para o desenvolvimento das faculdades mentais.

Num estudo realizado na ex-Alemanha Oriental, comparando o desenvolvimento de grupos de estudantes de diversas idades, separando-os em dois grupos: os que jogavam e os que não jogavam Xadrez, concluiu-se que:
* O xadrez estimula a atividade intelectual e estabiliza a personalidade de crianças e jovens durante seu crescimento. Isso é evidente, sobretudo, na puberdade: crianças que jogam xadrez apresentam menos crises decorrentes das transformações dessa fase etária do que as que não jogam.
* O raciocínio lógico e a capacidade de cálculo são estimulados, produzindo excelentes resultados no desempenho escolar, com destaque particularmente notável nos casos da Física e da Matemática.
* Em aspectos gerais, os alunos que jogam xadrez apresentam nítida superioridade em força de vontade, tenacidade, memória e concentração.
* O xadrez ensina a criança a avaliar as conseqüências dos seus atos, tornando-as mais prudentes e responsáveis.

Também em pesquisas realizadas na Inglaterra, chegou-se à conclusão de que a concentração e a habilidade em formular e posteriormente concretizar planos no tabuleiro contribui significativamente para a tomada de decisões e execução das mesmas no jogo muito mais importante, que é o jogo da vida.

No caso das crianças e jovens, o xadrez estimula o desenvolvimento intelectual; no caso dos adultos e idosos, o xadrez contribui preservando por mais tempo a agilidade mental.

Educar o raciocínio
O xadrez merece crédito, porque ensina às crianças o mais importante na solução de um problema, que é saber olhar e entender a realidade que se apresenta.

E, além disso, aprender que as peças no xadrez não têm valores absolutos, que se deve controlar a posição das demais peças, tanto as próprias quanto as do adversário, para armar uma estratégia. Ter a percepção de flexibilidade e reversibilidade do pensamento que ordena o jogo.

Quantas vezes podemos notar crianças fracassando em matemática, por exemplo, ao não entenderem o que o enunciado do problema lhes diz? Não sabem analisá-lo, aprendem fórmulas de memória; quando encontram textos diferentes não acham a resposta correta.

Deve-se conseguir que as crianças encontrem seu próprio sistema de ação e, para isso, tem-se que evitar, sempre que possível, as soluções mecanizadas.

Assim, na escola secundária, com os dados de um teorema e sua idéia, a demonstração pode ser encontrada pelo aluno, porém, para que isso aconteça, é importante um certo treino na escola fundamental.

Nossa idéia é que em uma época na qual os conhecimentos nos ultrapassam em quantidade e a vida é efêmera, a melhor ferramenta que a criança pode obter em sua escolaridade é um pensamento organizado.

O valor educativo do xadrez
Partindo da premissa de que o desenvolvimento do raciocínio é elemento fundamental para que a cidadania se efetive, apresentamos o jogo de xadrez como complemento à educação escolar.

Esta atividade proporciona não apenas mais uma opção de lazer, mas a possibilidade de valorizar o raciocínio através de um exercício lúdico. Segundo Charles Partos, mestre internacional suíço, o aprendizado e a prática do xadrez desenvolvem as seguintes habilidades:
1. a atenção e a concentração;
2. o julgamento e o planejamento;
3. a imaginação e a antecipação;
4. a memória;
5. a vontade de vencer, a paciência e o autocontrole;
6. o espírito de decisão e a coragem;
7. a lógica matemática, o raciocínio analítico e sintético;
8. a criatividade;
9. a inteligência;
10. a organização metódica do estudo;
11. o interesse pelas línguas estrangeiras.

Deve-se ter em mente que o xadrez reproduz uma situação de guerra, mas num contexto lúdico. Cada jogador funciona como um general na condução de um exército. Suas decisões são fundamentais para ganhar ou perder a partida, reproduzindo em escala diminuta o que poderia acontecer em uma batalha.

Acreditamos que o projeto Xadrez na Escola pode desenvolver as habilidades cognitivas citadas, bem como democratizar este jogo-arte-ciência, cuja origem e história perdem-se no tempo.

Atualmente no Brasil, a transcendentalidade no currículo escolar tem sido um dos aspectos mais positivos para a educação integral. Nesse aspecto, o Xadrez tem demonstrado, nos países em que é adotado como disciplina curricular, ser tão importante quanto as disciplinas artísticas e científicas, pois enquanto esporte desenvolve habilidades; enquanto arte estimula a imaginação diante de inúmeras possibilidades que se apresentam; enquanto ciência exige acurado estudo teórico e a elaboração de cálculos precisos.

QUADRO COMPARATIVO DAS CARACTERÍSTICAS DO XADREZ E SUAS IMPLICAÇÕES EDUCATIVAS

Características do xadrez:
* Concentração enquanto imóvel na cadeira
* Fornecer um número de movimentos num determinado tempo
* Movimentar peças após exaustiva análise de lances seguintes
* Encontrado um lance, procurar outro melhor
* De uma posição em princípio igual, direcionar a uma conclusão brilhante (combinação)
* O resultado indica quem tinha o melhor plano
* Entre várias possibilidades, escolher uma única, sem ajuda externa
* Um movimento deve ser conseqüência lógica do anterior, devendo apresentar o seguinte.

Implicações nos aspectos educacionais e de formação do caráter:
* Desenvolvimento do autocontrole psicofísico
* Avaliação da hierarquia do problema e a locação do tempo disponível
* Desenvolvimento da capacidade para pensamento abrangente e profundo
* Empenho no progresso contínuo
* Criatividade e imaginação
* Respeito à opinião do interlocutor
* Capacidade para o processo de tomar decisões com autonomia
* Capacidade para o pensamento e execução lógicos, autoconsistência e fluidez de raciocínio.

"A impossibilidade de conhecer o melhor lance em uma partida de xadrez é que eleva o xadrez de um jogo científico para uma forma de arte, um meio de expressão individual”.John R. Bowman (físico)

Como estimular a inteligência de seus filhos

"Quando se ensina com amor, alegria e respeito, a inteligência se desenvolve mais" - M. Jimenez

Autor: Dr. M. Jimenez - mestre FIDE
Recentemente encontramos algumas anotações técnicas a esse respeito, em um tema certamente muito extenso, já que grande parte da herança que deixarmos a nossos filhos depende do alicerce que oferecermos nesse aspecto. Adicionamos também os comentários de nossa amiga Martha Flores, especialista em comportamento infantil.

Se pensarmos um pouco nos daremos conta de que nada está tão relacionado ao desenvolvimento das crianças como seus próprios pais. Eles são, sem dúvida alguma, os educadores mais significativos em todos os aspectos da vida do ser humano.

Como pais, é lógico que queremos o melhor para nossos filhos, com o objetivo de que eles sejam os melhores em tudo: os primeiros da classe, os mais criativos, os melhores jogadores de xadrez!

É um desejo legítimo e perfeitamente possível. Nós podemos fazer com que nossos filhos se desenvolvam muito. Mas, em que medida? Quanto podemos apoiar seu desenvolvimento intelectual?

Os pais são a fonte mais rica de informação. E, sem exageros, são os que mais podem estimular o desenvolvimento intelectual e físico de seus filhos.

Existem várias recomendações que os especialistas nas novas correntes ressaltam como importantes e seguindo-as talvez possamos criar um pequeno gênio dentro de casa, e somente com nosso apoio. Estas recomendações não são complicadas, tão pouco se exige que sejam adquiridos quaisquer tipos de materiais em livrarias ou papelarias.

O mais importante é ter tempo para orientar e estimular as crianças. É mais fácil do que se imagina.

Para estimular a inteligência
Educar uma criança, como todos nós sabemos, é uma tarefa diária em que só faz falta uma boa dose de bom senso, muito amor – não dependência – e qualidades morais.

1- Quando falarmos com ela, não importa a idade, devemos utilizar um vocabulário amplo, rico e avançado.
Por exemplo, usar palavras como enorme, descomunal e gigantesco, ao invés de apenas dizer grande. A criança ampliará seu vocabulário ao conversar. Sempre devemos fazer com que ela note detalhes tanto em objetos como em situações. Dessa maneira ela desenvolverá uma atenção seletiva e reterá em sua memória o importante e os aspectos de maior interesse, o que lhe será muito útil ao longo de sua carreira, no xadrez e na vida.

2 - Para estimular sua capacidade de observação, apresente problemas para que ela os resolva.
A criança precisa comprovar dados e informações. Dessa forma, certos exercícios a estimulam a atuar e resolver, o que além de ser fascinante para a maioria das crianças, é importante para seu desenvolvimento intelectual. Exercícios como montar quebra-cabeças, resolver enigmas, problemas matemáticos, ou jogar xadrez!

3 - Quando realizar uma atividade, respeitar sua concentração e, mais ainda, estimular que ela se concentre.
Crianças concentram-se tanto no que estão fazendo que o mundo desaparece ao seu redor. Sendo assim, não devemos interrompê-las e sua tarefa merece todo o respeito. Temos que permitir sua independência quando deseja fazer as coisas por si mesma. A independência nos leva a desenvolver um pensamento criativo. Ao experimentar, explorar e provar idéias, aprendemos mais. Isto sem mencionar a importância de desempenhar atividades em grupo, como o xadrez, e aprender a compartilhar e trocar conhecimentos com os demais.

4 – Devemos fazer com que a criança se interesse pela leitura.
Essa atividade trará como conseqüência uma necessidade de ler constantemente sobre qualquer tema. Uma vez criado o habito e o gosto pela leitura, nos surpreenderemos ao ver a criança, por si só, pegar seus livros e começar a ler. A leitura é a base do conhecimento. Quanto mais amor a criança venha a desenvolver pela leitura, mais a aprendizagem é facilitada.

5 – Fazer com que a criança não tenha pavor das ciências exatas.
Se observarmos um pouco veremos que a criança sempre está buscando algo novo e excitante para fazer.

Quando observarmos que nossos filhos esgotaram suas possibilidades em uma área devemos fazer com que procurem outra atividade. Aprender é a grande aventura da vida, é desejável, vital e o jogo mais excitante. O amor envolvendo a aprendizagem é um laço forte entre pais e filhos, mantendo-os unidos por toda a vida. Quando se ensina com amor, alegria e respeito, a inteligência se desenvolve mais.

O xadrez como disciplina escolar

Prof. Antônio Villar Marques de Sá, bacharel e licenciado em Matemática pela Universidade de Brasília

Segundo Charles Partos, mestre internacional e professor do departamento da instrução pública do cantão do Valais (Suíça), o aprendizado e a prática do xadrez desenvolvem várias habilidades:
a. A atenção e a concentração;
b. O julgamento e o planejamento;
c. A imaginação e a antecipação;
d. A memória;
e. A vontade de vencer, a paciência e o autocontrole;
f. O espírito de decisão e a coragem;
g. A lógica matemática, o raciocínio analítico e sintético;
h. A criatividade;
i. A inteligência;
j. A organização metódica do estudo e o interesse pelas línguas estrangeiras.

Entretanto, o imenso mérito do xadrez é que ele responde a uma das preocupações fundamentais do ensino moderno: dar a possibilidade de cada aluno progredir segundo seu próprio ritmo, valorizando assim a motivação pessoal do escolar.

Piaget mostrou quais eram as etapas da formação da inteligência da criança. Observando-se grupos de crianças jogando xadrez constata-se que os progressos atingidos nestas etapas seguem ritmos extremamente diferentes, o que permite concluir da importância de se aplicar uma pedagogia de níveis preferencialmente a uma pedagogia orientada para classes da mesma idade.

Enfim, numa época onde o sonho confesso de uma revolução pedagógica é aquele de eliminar a barreira professor-aluno, é preciso reconhecer no xadrez esta virtude: ele não aceita nem o respeito da idade nem aquele da notoriedade. O ensino enxadrístico pode inverter a relação professor-aluno, colocando em xeque as hierarquias instituídas na sala de aula.

Experiências realizadas em diversos países demonstram que o xadrez, quando utilizado como terapia ocupacional, contribui para a reinserção familiar e social de crianças, adolescentes e mesmo adultos infratores ou em liberdade assistida.

Além disso, quando ele é introduzido nas classes de baixo rendimento escolar, auxilia ao desenvolvimento do sentimento de autoconfiança visto que apresenta uma situação na qual os alunos têm a oportunidade de descobrir uma atividade onde podem se destacar e paralelamente progredir em outras disciplinas acadêmicas.

Xadrez como suporte pedagógico para outras disciplinas

Prof. Antônio Villar Marques de Sá, bacharel e licenciado em Matemática pela Universidade de Brasília

Trabalhos em psicopedagogia demonstram que o xadrez é um precioso coadjuvante escolar, e até psicológico. Assim, pode-se utilizar inicialmente a motivação quase espontânea do aluno em relação ao xadrez visando provocar ou facilitar a sua compreensão em outras disciplinas. Em uma segunda etapa, extrapola-se o universo artificial criado pelas regras do jogo como modelo de estudos de situações concretas. Isto pode aplicar-se a todos os campos do conhecimento - à história, à sociologia, ao direito, à jurisprudência, à literatura, à epistemologia entre outros - e, sobretudo à matemática e à pedagogia.

No que concerne à pedagogia, o xadrez permite repensar a relação professor-aluno. A estratégia do ensino é bem próxima da estratégia do xadrez, pois dialética e autocrítica ocupam um lugar primordial e o vencido se enriquece mais que o vencedor.

Além disso, o xadrez apresenta-se como um excelente instrumento na formação de futuros professores das mais diversas disciplinas uma vez que ele favorece a compreensão da estrutura do pensamento lógico, o que desenvolve a adequacidade de transmissão dos conhecimentos aos seus alunos.

No que concerne à matemática, podemos afirmar que o xadrez é um dispositivo eficaz para a aprendizagem da aritmética (noções de troca, valor comparado das peças, controle de casas, enquanto exemplos de operações numéricas elementares...), da álgebra (cálculo do índice de desempenho dos jogadores, que é assimilável a um sistema de equações com "n" incógnitas...) e da geometria (o movimento das peças é uma introdução às noções de verticalidade, de horizontalidade, a representação do tabuleiro é estabelecida como um sistema cartesiano...).

As aplicações xadrez-matemática são bastante vastas e não são necessariamente de nível elementar, já que elas podem concernir:

a. A análise combinatória e o cálculo de probabilidades;
b. A estatística;
c. A informática, e isto em dois níveis: aquele da gestão dos torneios e aquele da programação propriamente dita do jogo;
d. A teoria dos jogos de estratégia.

Entretanto, é no domínio da heurística que o futuro parece ser mais promissor. Se grandes matemáticos como Euler (1707-1783) e Gauss (1777-1855) trabalharam matematicamente problemas originários do xadrez - respectivamente o percurso do cavalo sobre as 64 casas do tabuleiro e o problema da colocação de oito damas sobre o tabuleiro - é possível adotar-se uma postura inversa. Assim, as regras e os métodos que conduzem à descoberta da solução de um problema enxadrístico podem ser aplicadas didaticamente à resolução de um problema de matemática. Isto permite qualificar o xadrez como um instrumento motivador de primeira grandeza para a educação matemática, na medida em que ele fornece uma reserva inesgotável de situações variadas de resolução de problemas.

Xadrez: um meio pedagógico a ser explorado

Publicação: Suplemento escolar "Aula" do diário - El Mundo.
Oviedo (Espanha)

Um simples jogo ou algo mais? O xadrez é considerado de forma unânime como um entretenimento profundamente intelectual. No entanto, muitos estudiosos indicam que este esporte é também uma poderosa ferramenta educativa. A capacidade do cálculo, da concentração, a responsabilidade, e a tomada de decisões, são algumas das habilidades que a prática do xadrez na infância ajudam a reforçar. E rapidamente pode vir a se tornar – como a música – uma disciplina opcional; o Senado já deu um parecer favorável.

Há mais de dois séculos, Goethe definiu o xadrez como “um excelente exercício mental”. Desde então, milhares de investigações têm estudado a relação entre este jogo e o intelecto humano. Os resultados delas têm sido bem similares: o xadrez influi positivamente na formação da personalidade, e sua prática ajuda os estudantes a assimilarem novos conhecimentos.

Um dos problemas mais preocupantes para os educadores em nossos dias, e que causa a maior parte dos fracassos escolares, é o fenômeno da dispersão que sofrem os alunos. Em um contexto que cada vez oferece estímulos mais rápidos e superficiais (televisão, computadores, videogames...), e que pedem menos concentração, muitos jovens encontram problemas quando se deparam com atividades que exigem um esforço mental, como um exame e o próprio estudo das matérias. O xadrez, de uma forma lúdica – já que não deixa de ser um jogo – é um excelente treinamento neste sentido, pode ajudar os alunos a disciplinar sua capacidade de concentração para poder aplicá-la nos momentos necessários.

Mas as vantagens do xadrez não param por aí: “Aprender a analisar sistematicamente os problemas, expor idéias, conclusões e soluções, avaliar antecipadamente as vantagens e inconvenientes de uma decisão, aprender a planejar, responsabilizar-se por seus atos e assumir suas conseqüências, aumentar a autonomia e controlar a impulsividade são apenas algumas das contribuições do xadrez na construção do caráter de uma pessoa”, opina José Angel Lopez de Turiso, professor e monitor experiente de xadrez no Colégio Mirabal, em Madrid. “Mesmo que sua utilização no sistema educacional esteja ainda em seus início, tem um grande potencial e um futuro esplêndido”, conclui.

O parecer favorável do Senado Espanhol e da Unesco.
A presença do xadrez na grande maioria dos centros educativos é hoje uma realidade. Seja por meio das associações de pais, de clubes esportivos, escolas municipais, de algum professor com interesse pelo xadrez, ou inclusive através de academias privadas, raramente há um colégio que não tenha algum tipo de aula de xadrez de forma extracurricular. “É uma situação de fato e não de direito”, afirmou o representante da Coalición Canária frente ao Senado, “é preciso dar um caráter formal e legal à prática do xadrez nos centros de ensino”. Sua proposta de convencer o governo a recomendar a inclusão do xadrez como disciplina opcional nos centros secundários só recebeu votos a favor, com uma única abstenção, por motivos exclusivamente políticos, do Partido Popular (então na oposição). A primeira jogada já está feita, e agora é estar junto ao governo e às comunidades autônomas, nas que recaem as competências educativas. Por sua parte, a Unesco, também recomendou a inclusão do xadrez nos planos educativos de todos seus países membros.

O xadrez e as inteligências múltiplas

De 1995 a 2002 lecionei no Colégio Fafibe, em Bebedouro/SP. A escola implantou a modalidade xadrez na grade curricular e então convivia semanalmente com os alunos do ensino fundamental e médio ao visitar a instituição para ministrar as aulas.

Há três anos um fato curioso aconteceu. No primeiro dia de aula, ao entrar na sala da 1ª série do ensino fundamental, me deparei com uma linda loirinha, olhos castanhos, de nome Rebeca. Logo no primeiro contato observei que ela era diferente das demais crianças de sua turma, pois tinha uma profundidade e brilho no olhar cativantes.

Em conversa com sua mãe Ester, ela me revelou que de fato a filha sempre surpreendeu os pais com sua busca por conhecimento. Começou a andar cedo, falou precocemente (e o que era mais curioso, pronunciava corretamente as palavras e até as colocava no plural quando necessário), aprendeu a ler sozinha, observando as letras e fazendo as inúmeras combinações para formar as palavras.

Extremamente curiosa, Rebeca tinha um senso de observação ímpar, demonstrando muita responsabilidade, além de uma tendência a estar em contato com pessoas acima de sua idade. Adorava conversar com as amigas de sua irmã Giovana, que já estavam cursando a 6ª série. Outro traço curioso da personalidade da jovem criança-prodígio era o seu interesse pela religião. De família evangélica, já havia lido duas vezes uma extensa bíblia infantil e conseguia reproduzir com precisão e entendimento vários trechos do livro.

Seus gostos eram variados. Nas artes, possuía muita sensibilidade para a música, tendo optado por piano e flauta. Já na área esportiva preferia natação e xadrez.

Nas aulas de xadrez, adorava resolver exercícios de mate. Enquanto os demais alunos de seu grupo solucionam com dificuldade cerca de dez diagramas, ela raramente resolvia menos de cinqüenta, acertando praticamente todos!

Entretanto, cerca de um mês após o início das aulas as primeiras dificuldades aparecem. Rebeca estava muito acima nas matérias curriculares e em maturidade, em relação aos seus colegas de classe. Para que ela não perdesse o entusiasmo pela atividade escolar, a diretoria da escola encontrou uma saída: com a aprovação da Delegacia de Ensino, decidiu fazer uma avaliação e caso conseguisse a pontuação necessária, passá-la diretamente para a série seguinte, onde certamente, encontraria maiores desafios. E não foi surpresa para ninguém. A jovem fez os exames e no dia seguinte passou a freqüentar a 2ª série.

Frente a tamanha superioridade de uma pessoa sobre as outras, devemos nos perguntar: o que faz, por exemplo, uma menina de apenas sete anos de idade demonstrar o conhecimento de um adolescente ou até mesmo de um adulto? O que Rebeca possui de tão especial em sua inteligência para torná-la diferente?

Foram aspectos como esse, da personalidade humana, que motivaram o americano Howard Gardner a pesquisar anos a fio. Ele queria saber porque os testes de QI (quociente de inteligência), usado quase que exclusivamente, até então, para descobrir se um indivíduo era ou não inteligente, prediziam com considerável exatidão o desempenho escolar, mas não mostrava de maneira satisfatória seu sucesso numa profissão depois de uma instrução formal.

E indagava ainda: "será que um jogador de xadrez, um violinista ou um atleta que se destacam são inteligentes nessas atividades? Se eles são, então porque os testes de inteligência não conseguem identificá-los? Se não são, o que lhes permitem conseguir esses feitos espantosos?”

O cientista encontrou uma resposta satisfatória: a das inteligências múltiplas. A inteligência seria um potencial biopsicológico, combinando, portanto, herança genética e propriedades psicológicas.

O talento - como é o caso de Rebeca - seria um sinal desse potencial, fazendo com que ela se desenvolvesse mais rapidamente. Gardner comprovou sua teoria de forma empírica e catalogou sete inteligências que considerou principais. São elas:

Lingüística: refere-se, naturalmente, ao domínio da linguagem. Os escritores e oradores, geralmente têm essa capacidade bastante desenvolvida.

Lógico-matemática: diz respeito ao senso de dedução, observação, capacidade de cálculo, entre outros. Os que se dedicam às ciências exatas a possuem em alto grau.

Musical: facilidade que as pessoas apresentam para o canto, lidar com instrumentos musicais etc. Mozart seria um dos maiores representantes desse domínio.

Corporal-cinestésica: capacidade de usar o próprio corpo para expressar uma emoção (como na dança ou no teatro) e realizar atividades esportivas (tênis, basquete...).

Espacial: solução de problemas espaciais são necessários na navegação, ao visualizar um objeto ou na criação de mapas.

Intrapessoal: o conhecimento dos aspectos internos de uma pessoa: sentimento da própria vida e das emoções. A pessoa com boa inteligência intrapessoal possui um modelo viável e efetivo de si mesma.

Interpessoal: baseia-se na capacidade de perceber distinções entre os outros, em especial, contrastes em seus estados de ânimo, temperamentos, motivações e intenções. Em formas mais avançadas, permite a uma pessoa perceber as intenções e desejos dos outros, mesmo que elas os escondam.

Entramos nesse assunto porque o xadrez tem papel importante no desenvolvimento direto em pelo menos duas das inteligências citadas acima: espacial (fundamental na análise do controle territorial) e a lógico-matemática (em função do cálculo de variantes e deduções de caráter posicional que são empreendidos durante uma partida).

Esse lado pedagógico do xadrez tem feito com que muitos educadores vejam na modalidade um excelente meio de apoio a difícil arte de aperfeiçoar o intelecto dos estudantes.

Para encerrar, não preciso nem dizer que Rebeca foi uma das melhores enxadristas de sua escola naquele ano, chegando a estar entre os cinco primeiros do ranking interno, que reunia mais de 100 alunos com idade variando entre seis e dezessete anos.

Referência bibliográfica: GARDNER, Howard - Inteligências múltiplas - a teoria na prática. Porto Alegre: Artes médicas, 1995.

Alfabetização e xadrez

"Deixe" a criança errar, já que o erro faz parte do processo de aprendizagem...”

por Prof. Roberto Calixto
Repita comigo: ba - be - bi - bo - bu, o menino repete, a professora pergunta: – Agora me diz o que é isto? O menino olha, demora um tempão e diz que esqueceu ou não sabe.

Esta situação muito comum nas escolas brasileiras, com alunos repetentes e que não conseguem memorizar nem se concentrar, traduz-se no jargão científico como déficit de atenção infantil, que pode ter causas emocionais ou físicas, sendo em 90% dos casos (ainda bem) emocionais.

Tendo trabalhado como professor primário há mais de dez anos e lidado com essas crianças, tentei alfabetizá-las lendo e utilizando todas as teorias. Muitas vezes obtive sucesso outras não.

Em minhas leituras li uma frase de Piaget que dizia “...a linguagem não desenvolve as capacidades cognitivas, mas é uma grande auxiliar do desenvolvimento destas”.

Meditando a respeito cheguei a conclusão de que eu precisaria desenvolver nessas crianças, primeiro essas capacidades cognitivas que estavam em defasagem, ou seja, concentração e memorização, e como sou enxadrista desde os doze anos, sabendo dos benefícios da prática do xadrez, resolvi fazer um trabalho de ensino e pratica de xadrez com essas crianças.

Qual não foi minha surpresa ao constatar que... elas também não aprendiam xadrez!

Então tive que adaptar o ensino de maneira a facilitar ao máximo sua aprendizagem, e pacientemente, dia após dia, semana após semana, ensiná-los.

E, como eu fiquei contente e realizado quando eles aprenderam! E o interessante é que as crianças não sentiam desinteresse em relação ao xadrez, ao contrário, seu tempo mais prazeroso era no qual eles passavam frente ao tabuleiro jogando com seu coleguinha.

E a professora, depois de três meses, disse que as crianças estavam começando a aprender a ler.

Deixo aqui meu relato como um estímulo à pratica do jogo de xadrez no âmbito escolar brasileiro, por onde a criança passa e muitas vezes não aprende.

De preferência, coloque uma criança que sabe mais para ensinar outra que sabe menos, estimule jogarem com o colega o mais rápido possível mesmo não sabendo, pois isto dá incentivo a aprenderem.

Uma dica é começar somente com os peões no tabuleiro e vá colocando as outras peças aos poucos, estando sempre presente para corrigir os erros.

Procure ser sempre paciente e persistente. Saiba que nada resiste a um esforço pequeno mas contínuo. Os resultados aparecerão. Dê um tempo para as crianças praticarem e jogarem, pois em um certo momento elas aprenderão com os erros. "Deixe" a criança errar, já que o erro faz parte do processo de aprendizagem...”

Nota sobre o autor: Roberto Carlos Calixto tem formação em pedagogia pela Usp, Unesp e Puc. É professor primário e de xadrez da Escola Estadual Octacílio de Oliveira Ramos, de Catanduva/SP

Uma dica é começar somente com os peões no tabuleiro e vá colocando as outras peças aos poucos, estando sempre presente para corrigir os erros.

O xadrez na educação para a diversidade

por Lígia Mumic Silveira Neves
http://www.clubedexadrez.com.br/menu_artigos.asp?s=cmdview1003

O Projeto Xadrez nas Escolas de São Sebastião do Paraíso/MG, que é mantido pela Prefeitura Municipal, foi implantado na Escola Estadual "Mariana Marques" - Educação Especial - APAE em 1997 e desde então as aulas vêm sendo ministradas por professores do projeto, que fazem uma adaptação na metodologia para facilitar a aprendizagem dos nossos alunos especiais.

Aos estudantes DM (deficientes mentais) são usados recursos didáticos como murais, tabuleiros e peças, histórias, vídeos, dramatizações, utilizando o xadrez como um apoio interdisciplinar que contribui para o desenvolvimento da memória, capacidade de concentração, velocidade de raciocínio, além de ser um excelente impulsionador da imaginação.

Como professora de portadores de deficiência mental com dificuldade de aprendizagem, pude constatar a melhoria no processo ensino-aprendizagem que o xadrez proporciona, respeitando o comprometimento e os níveis das deficiências dos nossos alunos.

Vou citar como exemplo positivo o ex-aluno Juliano Duarte Barreto, que hoje está com 24 anos, cursa o ensino supletivo de 5ª a 8ª séries, freqüenta um curso de computação e trabalha numa fábrica.

Tem como passatempo favorito ler todo o assunto que relata o tema xadrez, como o livro Xadrez Básico, de Orfeu D’Agostini, edições das revistas Lance e Xadrez Alternativo. Atualmente está lendo Mequinho – O perfil de um gênio, escrito por Rubens Filguth.
Mas o que Juliano aprecia mesmo é jogar e hoje já apresenta um vasto currículo no panorama enxadrístico, conquistando medalhas, troféus e títulos importantes em torneios locais e regionais, além de já ter atuado em campeonatos de expressão estadual e nacional fora de São Sebastião do Paraíso.

Juliano freqüentou a APAE durante 10 anos, com o seguinte diagnóstico clínico: deficiente mental leve, apresentando os seguintes sintomas:
- Distúrbio articulatório;
- Dificuldade de aprendizagem;
- Alterações na leitura e escrita;
- Raciocínio lento;
- Desatenção.

Quando foram iniciadas as aulas de xadrez na APAE pelo Prof. Gérson Peres Batista, Juliano demonstrou tanto interesse que, a partir daí, não parou mais de estudar e jogar a modalidade, tomando parte constantemente em eventos enxadrísticos e monitorando aulas em nossa escola.

Com o desenvolvimento das atividades intelectuais que o xadrez estimula, o jogo se tornou um instrumento pedagógico eficaz para o progresso de sua aprendizagem na rapidez de raciocínio, aquisição de estratégias para resolver problemas, interpretação, seqüenciação de fatos e principalmente para o “aumento da capacidade de concentração”, como enfatiza Juliano.

E assim, com muito esforço e dedicação, Juliano alçou vôos na arte do tabuleiro e da vida, mostrando que o xadrez não tem barreiras. É para todos que gostam, embora algumas pessoas relutem em aprender o esporte, por considerá-lo difícil.
Se na concepção de Goethe "O xadrez é a ginástica da inteligência", para Juliano "O xadrez é um jogo fascinante que abre diversos caminhos".

Xadrez escolar: uma lição gostosa de aprender

“Que nossas crianças leiam livros, joguem mais futebol e pratiquem mais xadrez...”

Por Taís Julião
O papel da escola na formação de cidadãos conscientes, sem dúvida é algo a ser pensado e discutido quando pais responsáveis preocupam-se com o futuro de seus filhos.

Hoje, a escola que não oferece atividades extras que dinamize e acrescente conteúdo e experiências diferenciadas a seus alunos, não é vista com bons olhos, tanto pela opinião pública quanto pelos pais.
Nessa busca por melhorias na grade curricular, o ensino do xadrez surge como uma boa opção, unindo o espírito inovador das instituições educacionais e a forte imagem de intelectualidade que o esporte-arte oferece.

Os benefícios que a prática do xadrez proporcionam, principalmente nas crianças, tem sido de grande valia para o desenvolvimento deste esporte em nível escolar. O exercício de pensar e a concentração exigida colaboram para uma sensível melhora no comportamento das crianças, em especial no ambiente escolar.

Atenção, raciocínio lógico e capacidade de resolver problemas, favorecem o desempenho escolar daqueles que o praticam e acrescenta na criança um sentimento de combatividade e superação saudáveis.

Entretanto, é importante ressaltarmos o papel relevante dos pais para que haja um aprendizado consciente e produtivo, sem distorções que prejudiquem as crianças e os adolescentes, anulando os benefícios que o xadrez proporciona.


Por maior que seja a boa vontade e didática aprimorada do professor, seria hipocrisia acreditar que, em uma escola onde o xadrez é visto cerca de uma ou duas vezes por semana, poderão surgir centenas de campeões e mestres. No xadrez, assim como em qualquer outro esporte, por exemplo, o futebol, existe aqueles que o praticam profissionalmente e outros por lazer.

É justamente essa realidade que os pais precisam compreender. Não pressionar a criança é essencial para que ela se sinta à vontade e motivada a praticá-lo. Haverá aquela com maior afinidade, e outros desinteressados, mas isso não deve soar como uma sentença de sucesso ou fracasso, que será, de certa forma, atitude de responsabilidade dos pais. Muito além de buscar prestígio e conquistas no competitivo mundo do xadrez, os filhos devem ser incentivados a praticar o esporte por si só, pela sua essência intelectual, porém divertida e sadia.
Como nos ensina a sabedoria popular, "Corpo são e mente sã". Que nossas crianças leiam livros, joguem mais futebol e pratiquem mais xadrez...

A escola que adotar esta idéia estará, com certeza, acrescentando em sua instituição um diferencial sem precedentes, exercendo amplamente seu papel na sociedade e fazendo jus à sua função básica: formar cidadãos. Uma verdadeira demonstração de responsabilidade social.

Fonte: jornal escolar Kuca Legal, dirigido pelo Prof. José Carlos Gonçalves Pereira