O artigo apresentado a seguir é de autoria de Wilson da Silva, que é professor de xadrez da Fundação Cultural de Curitiba, do Colégio Expoente Boa Vista e graduado no curso de Pedagogia pela Universidade Federal do Paraná. Wilson vem fazendo um excelente trabalho de desenvolvimento do xadrez no estado do Paraná e é um dos principais defensores de sua implantação no ambiente escolar em todo o Brasil.
Introdução
Certa vez um jornalista perguntou ao grande mestre internacional Savielly Tartakower quem era o melhor enxadrista de todos os tempos e recebeu a seguinte resposta: se o xadrez é uma ciência o melhor é Capablanca; se o xadrez é uma arte o melhor é Alekhine; se o xadrez é um esporte o melhor é Lasker.
Analisaremos a seguir o xadrez relacionando-o com estas três áreas do conhecimento.
Ciência
Não está errado afirmar que o xadrez é um jogo, mas se não acrescentar nada a esta definição ela torna-se vazia pela sua pobreza de espírito, pois se trata de um jogo que educa o raciocínio desenvolvendo algumas capacidades intelectuais do indivíduo.
O xadrez tem sido investigado por áreas como a psicologia, a pedagogia, a informática entre outras; foi tomado como modelo para estudos em computação e tem uma base que se assemelha à matemática, estimulando assim significativamente o desenvolvimento de habilidades cognitivas e as operações do intelecto. Desperta o espírito reflexivo e crítico ampliando a capacidade para a tomada de decisões, dando ao aluno, uma pauta ética para a aquisição de valores morais, melhorando a segurança pessoal e a auto-estima. Desenvolve a atenção e a capacidade de concentração através de uma atividade lúdica proporcionando prazer ao praticante. Torna-se sensível, pois, sua relação com a ciência.
Esporte
O aspecto esportivo do jogo de xadrez pode ser notado tanto por seu comportamento competitivo, em forma de torneios, como por constituir uma "ginástica mental" (Goethe), o qual pode ser complemento da ginástica e de outras modalidades de atividade física que o indivíduo necessita para sua saúde corporal.
É notória, para os praticantes do xadrez, a situação em que se deve imaginar as novas posições que derivarão do movimento que se faz. Porque cada movimento prevê um contra-movimento do adversário, e cada plano deve ser feito sem que se toque nas peças, sendo comum o jogador imaginar como chegará à etapa final da partida e julgar se aquele final é vantajoso para ele ou para o adversário.
Não é casual que os grandes mestres de xadrez pratiquem esportes como tênis, futebol, natação, etc., porque no xadrez de alto nível é necessária uma grande preparação física, além de psíquica.
No nível técnico e no seu treinamento, o enxadrista deve ser tão disciplinado quanto um pugilista, porque seu combate, menos violento no campo dos músculos, resulta muito prolongado no campo das idéias. Pode um enxadrista perder mais peso em uma partida do que um lutador de boxe em um combate, bastando recordar o primeiro match pelo título mundial entre Anatoly Karpov e Garry Kasparov.
No momento em que um enxadrista participa de um torneio se converte em um desportista e vive os momentos épicos ou sofre os dissabores como qualquer outro dedicado às mais diversas modalidades olímpicas, porque alcança maior dimensão o ato de ganhar ou perder.
Arte
A maioria dos enxadristas, ao realizar uma combinação, experimenta a satisfação estética similar à sentida ante uma obra mestra da pintura ou da música.
Outro aspecto interessante a ser analisado é que, tanto no xadrez como na música e na matemática, são observadas crianças prodígios. Se compararmos estas três áreas do conhecimento com a pintura, a escultura e literatura, observaremos que nas últimas, a pequena experiência de vida não é suficiente para uma criança compor algo com valor estético. Em contrapartida, no xadrez, na música e na matemática esta experiência de vida não é fundamental. Segundo Edward Lasker, Mozart compôs e escreveu um minueto antes de completar quatro anos de idade. Gauss, aos três anos de idade, sem saber ler e escrever corrigiu uma comprida soma que seu pai fez. Reshevsky jogou dez partidas simultâneas de xadrez aos seis anos de idade. Os artistas mostram normalmente pouco interesse pelas atividades que exigem o pensamento lógico em demasia. Não negam a sua importância, mas não gostam que a lógica amarre o seu estilo. No jogo de xadrez, na abertura (fase inicial) e no meio-jogo (fase intermediária), em contrapartida com o final que é lógica pura, somente a análise lógica não basta, devido ao elevado número de possibilidades a serem examinadas. Então o enxadrista, diante da incapacidade do cálculo exato, orienta-se por princípios gerais. Ao pautar-se por esses princípios gerais o jogador de xadrez reduz as opções drasticamente a algumas a serem consideradas. Ocorre que mesmo com essa seleção prévia, ele precisa usar sua imaginação, sua intuição por assim dizer, para encontrar o melhor lance.
"A impossibilidade de conhecer o melhor lance que eleva o xadrez de um jogo científico para uma arte, um meio de expressão individual"
Conclusão
Howard Gardner em seu livro Estruturas da Mente: Teoria das Inteligências Múltiplas, apresenta a interessante teoria de que existem pelo menos sete tipos de inteligências, que se desenvolvem com certa autonomia e podem ser educadas. Ao analisar a inteligência lógico-matemática, Gardner faz menção aos enxadristas terem essa habilidade muito desenvolvida. Entretanto é na inteligência espacial que o autor cita o xadrez como um "forte candidato para ilustrar a centralidade da inteligência espacial".
Adotando a hipótese de Gardner, que foi baseada em minucioso estudo, que as inteligências podem ser desenvolvidas e considerando o que foi exposto sobre as possíveis contribuições do xadrez no âmbito escolar, parece-nos correto propor que este jogo, cuja origem perde-se no tempo, seja considerado em toda sua extensão, no que tange à educação.
Ora, se considerarmos as três esferas analisadas anteriormente (a ciência, o esporte e a arte) importantes na educação do indivíduo, parece sensato apresentar o jogo de xadrez como candidato a estimulá-las e desenvolvê-las, haja vista que um tabuleiro e um jogo de peças têm custo reduzido e muita durabilidade.
Introdução
Certa vez um jornalista perguntou ao grande mestre internacional Savielly Tartakower quem era o melhor enxadrista de todos os tempos e recebeu a seguinte resposta: se o xadrez é uma ciência o melhor é Capablanca; se o xadrez é uma arte o melhor é Alekhine; se o xadrez é um esporte o melhor é Lasker.
Analisaremos a seguir o xadrez relacionando-o com estas três áreas do conhecimento.
Ciência
Não está errado afirmar que o xadrez é um jogo, mas se não acrescentar nada a esta definição ela torna-se vazia pela sua pobreza de espírito, pois se trata de um jogo que educa o raciocínio desenvolvendo algumas capacidades intelectuais do indivíduo.
O xadrez tem sido investigado por áreas como a psicologia, a pedagogia, a informática entre outras; foi tomado como modelo para estudos em computação e tem uma base que se assemelha à matemática, estimulando assim significativamente o desenvolvimento de habilidades cognitivas e as operações do intelecto. Desperta o espírito reflexivo e crítico ampliando a capacidade para a tomada de decisões, dando ao aluno, uma pauta ética para a aquisição de valores morais, melhorando a segurança pessoal e a auto-estima. Desenvolve a atenção e a capacidade de concentração através de uma atividade lúdica proporcionando prazer ao praticante. Torna-se sensível, pois, sua relação com a ciência.
Esporte
O aspecto esportivo do jogo de xadrez pode ser notado tanto por seu comportamento competitivo, em forma de torneios, como por constituir uma "ginástica mental" (Goethe), o qual pode ser complemento da ginástica e de outras modalidades de atividade física que o indivíduo necessita para sua saúde corporal.
É notória, para os praticantes do xadrez, a situação em que se deve imaginar as novas posições que derivarão do movimento que se faz. Porque cada movimento prevê um contra-movimento do adversário, e cada plano deve ser feito sem que se toque nas peças, sendo comum o jogador imaginar como chegará à etapa final da partida e julgar se aquele final é vantajoso para ele ou para o adversário.
Não é casual que os grandes mestres de xadrez pratiquem esportes como tênis, futebol, natação, etc., porque no xadrez de alto nível é necessária uma grande preparação física, além de psíquica.
No nível técnico e no seu treinamento, o enxadrista deve ser tão disciplinado quanto um pugilista, porque seu combate, menos violento no campo dos músculos, resulta muito prolongado no campo das idéias. Pode um enxadrista perder mais peso em uma partida do que um lutador de boxe em um combate, bastando recordar o primeiro match pelo título mundial entre Anatoly Karpov e Garry Kasparov.
No momento em que um enxadrista participa de um torneio se converte em um desportista e vive os momentos épicos ou sofre os dissabores como qualquer outro dedicado às mais diversas modalidades olímpicas, porque alcança maior dimensão o ato de ganhar ou perder.
Arte
A maioria dos enxadristas, ao realizar uma combinação, experimenta a satisfação estética similar à sentida ante uma obra mestra da pintura ou da música.
Outro aspecto interessante a ser analisado é que, tanto no xadrez como na música e na matemática, são observadas crianças prodígios. Se compararmos estas três áreas do conhecimento com a pintura, a escultura e literatura, observaremos que nas últimas, a pequena experiência de vida não é suficiente para uma criança compor algo com valor estético. Em contrapartida, no xadrez, na música e na matemática esta experiência de vida não é fundamental. Segundo Edward Lasker, Mozart compôs e escreveu um minueto antes de completar quatro anos de idade. Gauss, aos três anos de idade, sem saber ler e escrever corrigiu uma comprida soma que seu pai fez. Reshevsky jogou dez partidas simultâneas de xadrez aos seis anos de idade. Os artistas mostram normalmente pouco interesse pelas atividades que exigem o pensamento lógico em demasia. Não negam a sua importância, mas não gostam que a lógica amarre o seu estilo. No jogo de xadrez, na abertura (fase inicial) e no meio-jogo (fase intermediária), em contrapartida com o final que é lógica pura, somente a análise lógica não basta, devido ao elevado número de possibilidades a serem examinadas. Então o enxadrista, diante da incapacidade do cálculo exato, orienta-se por princípios gerais. Ao pautar-se por esses princípios gerais o jogador de xadrez reduz as opções drasticamente a algumas a serem consideradas. Ocorre que mesmo com essa seleção prévia, ele precisa usar sua imaginação, sua intuição por assim dizer, para encontrar o melhor lance.
"A impossibilidade de conhecer o melhor lance que eleva o xadrez de um jogo científico para uma arte, um meio de expressão individual"
Conclusão
Howard Gardner em seu livro Estruturas da Mente: Teoria das Inteligências Múltiplas, apresenta a interessante teoria de que existem pelo menos sete tipos de inteligências, que se desenvolvem com certa autonomia e podem ser educadas. Ao analisar a inteligência lógico-matemática, Gardner faz menção aos enxadristas terem essa habilidade muito desenvolvida. Entretanto é na inteligência espacial que o autor cita o xadrez como um "forte candidato para ilustrar a centralidade da inteligência espacial".
Adotando a hipótese de Gardner, que foi baseada em minucioso estudo, que as inteligências podem ser desenvolvidas e considerando o que foi exposto sobre as possíveis contribuições do xadrez no âmbito escolar, parece-nos correto propor que este jogo, cuja origem perde-se no tempo, seja considerado em toda sua extensão, no que tange à educação.
Ora, se considerarmos as três esferas analisadas anteriormente (a ciência, o esporte e a arte) importantes na educação do indivíduo, parece sensato apresentar o jogo de xadrez como candidato a estimulá-las e desenvolvê-las, haja vista que um tabuleiro e um jogo de peças têm custo reduzido e muita durabilidade.
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