Por Roberto Telles
Logo após o início da rodada, um jogador procurou o árbitro para uma reclamação:
- Senhor, meu adversário está jogando sem rei.
Esse fato ocorreu durante os Jogos da Juventude do Paraná, estado brasileiro onde as mais inusitadas situações enxadrísticas ocorrem. A modalidade em disputa era xadrez relâmpago, cinco por cinco. O árbitro, bastante experiente, porém surpreendido com o fato, dirigiu-se à mesa e constatou que a reclamação era procedente, pois o condutor das brancas estava com duas damas. Solicitou então que fosse providenciado um rei para corrigir o evidente erro.
O jogador sem-rei interpelou educadamente o árbitro:
- O senhor vai me desculpar, mas a partida tem que continuar nestas condições.
- Como assim? Mais uma vez surpreendido.
O jovenzinho de Guarapuava, um garoto magro com seus 16 ou 17 anos, ruivo, mas bem ruivo, do tipo “enferrujado”, argumentou com a firmeza própria de quem estava absolutamente seguro de sua opinião:
- Leia o regulamento que está afixado no mural onde estão as normas da competição. Ela impede que haja qualquer alteração das peças e/ou da posição, após o início da partida.
O árbitro, que era de outro estado, não havia lido o regulamento e apenas limitou-se a ler as normas do sistema classificatório. Mesmo assim recorreu ao regulamento da FIDE, em que o árbitro pode eventualmente decidir o que é melhor para uma competição.
Mais uma vez o guarapuavense enferrujado argumentou:
- Isso também não se aplica aqui no Paraná. Leia o regulamento e verá que lá está escrito: As regras da FIDE somente serão usadas no que não colidir com o presente regulamento.
Após uma leitura mais atenta, confirmou-se que havia essa clara subversão quanto à escala de poderes. O Paraná estava acima da lei. Há mais distância entre o xadrez paranaense e a FIDE do que possa supor nossa vã filosofia. Shakespeare que me desculpe, mas eu também quero subverter.
- Não tem conversa, o erro tem que ser corrigido e posteriormente você lutará por seus direitos apelando no tribunal de recursos. Oras, jogar sem rei! Isso não é xadrez, isso é um absurdo!
Ato contínuo, o árbitro fez a devida correção, porém acrescentou a sua fala algo desnecessário:
- Mesmo porque sem o rei, você nunca perde!
O enferrujadinho de Guará estava tão preparado para aquela situação que prontamente respondeu:
- Perco sim... Pelo tempo!
Realmente o enferrujadinho estava ferreamente preparado para enfrentar até mesmo a comunidade internacional.
4 comentários:
Muito legal esse texto! Quem tiver um tempinho e quiser prestigiar outros blogs de xadrez, acesse meu blog: http://heavenlychess.blogspot.com Abraços a todos os enxadristas!
Engraçado texto... Abraço e mantenha o blog ativo... abraço
Parabéns !!! Abraços do blog xadrezdapraia !!!
Mudei de blog! Aos amigos e colegas enxadristas, agora eu escrevo no blog: http://fernandochessblog.zip.net
Quem puder prestigiar, eu agradeço.
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