domingo, 31 de agosto de 2008

A verdadeira perda de qualidade

Por Paulo Sérgio de C. Oliveira

Dando uma 'mirada' no que restou dos meus livros, constantemente devorados pelos bichinhos mutantes que tenho aqui (coluna de janeiro de 2005), puxei 'The Chess Encyclopedia', obra excelente de Nathan Divinsky. Folhando-a aleatoriamente, deparei-me com o quadro do torneio de Carlsbad de 1929. Fiquei com a vista parada ali, sem conseguir desviá-la.

Comecei a pensar sobre o que era estranho naquele quadro. A nominata era encabeçada por Ninzowitsch, seguido de Capablanca e todos os outros daquela época de ouro, à exceção de Alekhine e Lasker, então supostamente aposentado (não foi Kasparov quem inventou isto). Era isto, o segundo lugar de Capablanca? Não. Continuei olhando a lista, até que tive consciência do que era. Depois de Capablanca seguiam, por ordem de classificação, Spielmann, Rubinstein, Becker, Euwe, Vidmar, Bogoljubow, Grünfeld, Canal, Mattison, Colle, Maroczy, Taratkower, Treybal, Sämisch, Yates, Johner, Marshal, Gilg, Thomas, Menchik. 22 participantes, e jogaram todos contra todos, foram 22 rodadas!

O tempo de jogo foi de 30 lances em duas horas e então 15 lances por hora. Ninzowitsch perdeu só uma! Foi para Yates, o 17º colocado.

Carlsbad era um famoso SPA centro-europeu, considerado uma Mecca para a doença e um Paraiso para a saúde. Era parte do império austro-húngaro até 1918. Agora está na Tchecoeslováquia e é chamado Karlovy Vary. Fica a 80 milhas a oeste de Praga, perto da fronteira alemã-tcheca.

Hoje, quando se joga um torneio de 9 rodadas, já é uma raridade. E isto com um tempinho mixuruca, de uma hora para cada lado, ou semelhante. Joguei uns poucos de 12 rodadas. São excelentes, porque apontam um campeão de verdade. Um dos últimos campeonatos mundiais terminou num pingão. É ridículo! Aliás, esta última disputa da elite (parte dela), entre Topalov e Kramnik, também terminou num pingão. Boa parte das partidas destes torneios atuais carece de qualidade. São repletas de erros e inexatidões. Isto na opinião dos próprios mestres da elite atual, segundo tenho lido na mídia especializada internacional.

É claro que a exigüidade do tempo trouxe o fator espetáculo para o xadrez, que ficou até televisivo. Mas aumentou o valor do fator sorte, diminuindo o fator racional.

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