domingo, 29 de março de 2009

A Partida Perfeita

(por Paulo Sérgio de Castro Oliveira)

Este é um dos subtítulos da terceira parte do excelente livro 'The Fireside Book of Chess', de Irving Chernev e Fred Reifeld. O livro de xadrez para se curtir à frente da lareira. Traduzo a seguir parte da introdução ao conjunto de partidas correspondente daquela obra.

'Definir perfeição no tabuleiro de xadrez é mais difícil do que explicar o que não é perfeição. Uma partida na qual nenhum lado tenha feito um erro não lhe aumenta a perfeição; em tais partidas achamos somente uma monotonia estéril em que falta qualquer qualidade memorável.
Assim nós temos um paradoxo: a perfeição no xadrez somente é possível pelos erros do oponente.

Quão especializadamente são estes erros explorados? Quão profundos são os planos para levar vantagem dos erros? Quão impecável é a execução destes planos?

Quando temos a resposta para estas questões, sabemos se uma partida é ou não é perfeita.

Em algumas partidas obtemos uma intimidade com a perfeição, que vem da consistência de aço do plano do vencedor. Em tais partidas, como Capablanca-Mieses, Bogolyubov-Reti, e Reshevsky-Treystman, tem-se o sentimento - tão irreal quanto irresistível - de que o perdedor não fez um erro, de que ele simplesmente tinha que perder, não importa que lances tivesse feito. Nestes encontros o jogo do vencedor é tão poderoso, que procurar o erro conclusivo é como tentar descobrir a primeira causa sem causa!'

Mais adiante, depois de falar de outros tipos de partidas perfeitas, os autores opinam que a obra prima de Parr - Wheatcroft tem direitos bem baseados para ser considerada a melhor partida de ataque de todos os tempos. Decidi comentá-la, juntamente com a de Capablanca citada acima e uma produção própria contra um Mestre Internacional.

Partida numero 1
Capablanca, José Raul - Mieses, Jacques [E91 – Kings Indian: Classical 6.Be2, unusual replies including 6…c5 and 6…Bg4] Berlim, 1913

1.d4 Nf6 2.Nf3 c5 3.d5 d6 4.c4 g6 5.Nc3 Bg7 6.e4 0–0 7.Be2 e6 8.0–0 exd5 9.exd5
Uma captura interessante. Quando comecei a aprender algo sobre xadrez posicional, ensinaram-me a tomar com o outro peão, depois puxar o cavalo de f para d2, levando-o em seguida a c4. Para impedir que ele fosse dasalojado viria um conveniente a4. E no momento certo, f4, Bf3 e um e5 final pré-glorioso. Mas Capablanca é muito mais simples, e colunas abertas servem para colocar torres (PSCO)!

9...Ne8! 10.Re1 Bg4 11.Ng5
Capablanca não se preocupa sobre o possivel enfraquecimento da sua estrutura de peões, por Bc3. Ele está mais interessado em tomar o controle da coluna do rei aberta (IC&FR).

11...Bxc3?
É provavelmente o único erro da partida. Mas Mieses deve tê-lo feito em cima do fato de que as brancas não podem explorar o tema Grande Diagonal (a1–h8 )(PSCO).

12.bxc3 Bxe2 13.Qxe2
Colocando mais lenha no fogo (PSCO)!

13...Ng7
Agora nos damos conta de que trocando o valoroso bispo que estava em g7, Mieses deixou as suas casa pretas vulneráveis ao ataque e ocupação. Capablanca então começa a explorar esta fraqueza, ao mesmo tempo fazendo bom uso da mobilidade superior de suas torres. O fato de que seus peões dobrados são teoricamente fracos não tem importância (IC&FR).

14.Ne4! 14...f6
E não 14...Re8? 15.Bg5! e as brancas ganham a qualidade (IC&FR)!

15.Bf4! 15...Ne8 16.Bh6 Ng7
As jogadas espertas de bispo ganharam um tempo inteiro para as brancas (IC&FR)

17.Rad1!
A magia das torres, nas mãos do mestre Capa. Entra em cena o tema Ação das Torres Adiante da Cadeia de Peões (PSCO).

17...Na6 18.Rd3
A torre tem três possíveis casas vantajosas nesta fileira: e3, f3 ou h3 (IC&FR).

18...f5 19.Ng5
Ameaçando no mínimo ganhar a qualidade, com 20.Bg7, etc (IC&FR). Observem a temporária inexpugnabilidade das peças menores brancas, em função da debilidade negra nas casa pretas (PSCO).

19...Nc7 20.Qe7!


Uma 'proposta' de trocas, cuja aceitação é inevitável pela ameaça de mate em g7 (PSCO).

20...Qxe7 21.Rxe7 Nce8 22.Rh3!
A despeito da ausência das damas, o branco tem um ataque matador (IC&FR).

22...f4 23.Bxg7 Nxg7 24.Rxh7 Nf5 25.Re6 Rfe8 26.Rxg6+
Mieses abandonou aqui, pois se: 26...Ng7 [26...Kf8 27.Rf7#] 27.Rhxg7+ Kf8 [27...Kh8 28.Nf7#] 28.Nh7# 1–0

No prefácio desta partida, os autores de Fireside escrevem: o comentário padrão sobre uma típica partida de capablanca é: "Muito simples". Ou então: "Muito óbvio". E finalmente: "Mas como ele faz isto?".

Partida numero 2
Parr, Frank – Wheatcroft, George Ashcombr [D71 – Fianchetto Grunfeld 3.g3 d5 variantes e 5.cxd5 (sem Nf3)] London, England, 1938

1.d4 Nf6 2.c4 g6 3.g3 Bg7 4.Bg2 d5 5.cxd5 Nxd5 6.Nc3 Nxc3 7.bxc3 c5
À primeira vista as pretas parecem ter uma partida boa, com a sua pressão temática na grande diagonal. Mas o alvo desta pressão, o peão da dama branco, pode ser solidamente protegido. O que realmente importa é que o desenvolvimento do branco será mais rápido e mais harmonioso (IC&FR)

8.e3 0–0 9.Ne2 Nc6 10.0–0 cxd4 11.cxd4 e5 12.d5 Ne7 13.Ba3 Re8 14.Nc3 Qa5 15.Qb3 e4?
O negro está com problemas pela poderosa concentração de forças do seu oponente convergindo no centro. Ele decide embarcar num plano tático, mas acha o branco bem preparado para as complicações que virão (IC&FR). 16.Nxe4! Falso sacrifício de qualidade, pois seria rapidamente mortal para as negras a ausência do seu bispo de g7 na defesa. E depois o peão de d5 também não poderia ser capturado, pelo futuro Td1 branco (PSCO)

16.Nxe4 Nxd5 17.Rac1 Be6 18.Rc5 Qb6 19.Rb5 Qa6 20.Nc5!
Se agora: 20...Qc6 21.Nxe6 fxe6 22.Rxd5! +-; ou 20...Qd6 21.Nxe6 +- (IC&FR).

20...Nxe3!?
Contra-ataque. Se 21.Nxa6 Bxb3 22.fxe3 Bc4 23.Nc7 Bxb5 24.Nxb5 Rxe3

21.Nxe6! Nxf1
Ainda lutando. Se 22.Nc7 Nd2! (IC&FR)

22.Ng5!!
Se: 22.Nc7 Nd2! (IC&FR)

22...Nd2 23.Qxf7+ Kh8
As brancas não estão preocupadas com a sua desvantagem material: elas lutam pelo rei negro (IC&FR)

24.Bd5!!
Uma jogada de ataque perfeita. Ao mesmo tempo em que ameaça um bonito mate, Parr deixa uma casa em g2 para o seu rei proteger-se (PSCO).

24...h6 25.Bb2!
Alguns ataques beiram o atrevimento. Com exceção da dama e do bispo, todas as peças brancas estão no ar. Todas sem proteção, mas todas com uma função no ataque (PSCO)!

25...Rg8 26.Qd7!! Qa4
Se: 26...hxg5 27.Qh3#; 26...Qxb5 27.Nf7+ Kh7 28.Qxb5 (IC&FR)

27.Bb3!
As pretas ameaçavam mate em 2 (IC&FR)!

27...Nxb3
O lance 27...Qa6 permite este bonito final: 28.Qh3! 28...h5 29.Qxh5+!! 29...gxh5 30.Nf7+ Kh7 31.Bc2+ Ne4 32.Bxe4+ Qg6 33.Rxh5+ Bh6 34.Rxh6#

28.Nf7+ Kh7 29.Rh5!! 29...Qa5 30.Rxh6+!
Wheatcroft abandonou, pois se: 30...Bxh6 31.Ng5# 1–0

Partida numero 3
De Oliveira, Paulo Sérgio - Tempone, Marcelo [B19] Uruguai, 1982

1.e4 c6 2.d4 d5 3.Nc3 dxe4 4.Nxe4 Bf5 5.Ng3 Bg6 6.h4 h6 7.Nf3 Nd7 8.h5 Bh7 9.Bc4
A teoria recomenda 9.Bd3, e depois das trocas a monotonia típica da Caro-Kann parece aumentar. 'Acostumado' a jogar esta sonolenta abertura com o mestre Luiz Ney Menna Barreto, um dos seus ferrenhos defensores, resolvi sair da rotina e tentar colori-la. Karpov também usa a Caro-Kann, mas o faz de uma forma dinâmica, inclusive atacando ferozmente.

9...e6 10.Bf4 Qa5+ 11.c3 Ngf6 12.Qe2
Esta pressão sobre o ponto e6 é meio padrão nesta abertura, e contra principiantes costuma ser mortal. A idéia primata é jogar um cavalo em e5, sacrificando-o em seguida em f7. Aí a dama entra triunfal, capturando em e6 com um xeque geralmente mortal. Mas aqui estava jogando contra um MI argentino, é claro que ele sabia tudo isto.

12...Be7 13.Ne5 Nxe5 14.Bxe5 0–0 15.f3 Nd7 16.Bf4 Bg5 17.Bd6!
As trocas também acontecerão assim, mas de uma forma mais vantajosa para as brancas.

17...Rfe8 18.f4 Be7 19.Bxe7 Rxe7 20.0–0–0!?
Persistindo na idéia de 'colorir' a Monoto-Kann.

20...b5 21.Bb3 c5 22.d5!
Isto mostra a posição temporariamente desvantajosa da torre negra em e7.

22...c4 23.Bc2 Bxc2 24.Kxc2 Qxa2
Após esta captura, que foi um sacrifício consciente, as negras só conseguem dar mais um xeque. Aí ficarão necessitando de um tempo para matar o rei branco até o final.

25.Nf5!
De novo aparece o problema da torre de e7. Depois de 25...Te8, 26.Dg4!+-

25...Qb3+ 26.Kb1 Ree8 27.dxe6 Nf6 28.exf7+ Kxf7 29.Qf3!
O cavalo branco vale mais do que uma torre. Não vale a pena trocá-lo agora, e assim as brancas ameaçam mate após 30.Db7!

29...Ne4 30.Nd6+!
30...Nxd6 31.Rxd6
Agora sim as trocas favoreceram as brancas, porque o cavalo negro era muito eficiente na defesa do seu rei. O domínio principalmente sobre as casas brancas que a minha dama tem, não pode ser enfrentado à altura pela dama negra, aprisionada por seus próprios peões. E ainda por cima o rei preto deverá perder alguns tempos para tentar colocar-se em segurança.

31...Kg8 32.Rd7 Kh8 33.Qg4
Por que aqui? Você entenderá melhor no lance 35.

33...Rg8 34.Rhd1 b4 35.Rb7!
Ao mesmo tempo em que defende o mate de forma sutil, esta torre deixa caminho livre para a sua companheira. E ainda ameaça ganhar a dama inimiga! Repare que este lance só é possível porque a dama branca está em g4, defendendo a torre de d1...

35...a5 36.f5 Raf8 37.Rd6 Rf6
Única maneira de parar o mortal f6 branco, mas...

38.Rdd7
Mais rápido seria: 38.Rxf6 gxf6 (38...g6 39.Rh7+ Kxh7 40.Rf7+ Rg7 (40...Kh8 41.Qd4+ Rg7 42.Qxg7#) 41.Qxg6+ Kh8 42.Qxg7#) 39.Qd4 Rg7 40.Qd8+ Kh7 41.Rb8 Qxb2+ 42.Kxb2 Rxg2+ 43.Kc1 Rg1+ 44.Kd2 Rg2+ 45.Ke3 Rg3+ 46.Kf4 Rg4+ 47.Kxg4 b3 48.Qe7#

38...bxc3
Tempone poderia ter abandonado aqui. Mas deve ser duro para um provável discípulo de Grau perder desta forma.
39.Rxb3 cxb3 40.bxc3 Ra6 41.Qa4 Rb8 42.Qd4 Rg8 43.Rf7 a4 44.f6 Rxf6 45.Rxf6 gxf6 46.Qxf6+ Kh7 47.Qf5+ 1-0

domingo, 15 de março de 2009

Estude os clássicos!

Por: Paulo Sérgio de C. Oliveira

Tenho testemunhado durante todos esses anos em que aprendo a Arte de Caissa, um conselho comum de enxadristas e treinadores de elite: 'Devemos estudar os Clássicos'!

Dvoretsky e Shereshevsky, por ex., também recomendam. Mas nunca li uma explicação bem clara sobre o porquê de fazê-lo. Para mim bastava sentir o efeito de tal estudo, que sempre foi positivo. É como acender a luz, alguém lhe disse alguma vez no passado; 'ligue o interruptor'! Basta, para quem quer luz...

Agora se você é do tipo investigativo, recentemente li a seguinte explicação (parcial): '...para evitar que alguém invente a roda novamente...'.

A questão do modelo é crucial, pois os antigos deixaram muitos modelos sólidos, que hoje são apenas repetidos por Kasparov ou Kramnik. Inventar algo novo é muito difícil e os bancos de dados estão aí para checar isto. Os ancestrais deixaram estratégias, manobras padronizadas, finais, exemplos, atitudes. A nossa ignorância disso é terrível e desrespeitosa. Costumamos ignorar modelos de enxadristas brasileiros e dos nossos velhos campeões. Mas eles só não chegaram lá, no Campeonato Mundial, porque tinham outras prioridades. E haviam nascido no lugar errado, onde as chuteiras eram o intelecto permitido.

Walter Osvaldo Cruz foi um desses campeões marcantes. Filho do famoso médico sanitarista Osvaldo Cruz, também escolheu a Medicina como carreira, na especialidade de Hematologia. Não sei como conseguiu também ser 6 vezes Campeão Brasileiro de xadrez, e naquele tempo não havia 'marmelada'! Ou melhor, tinha, mas era servida como doce mesmo!

Eram provas duras, com adversários de alto nível e longo tempo de jogo, além de suspensões eventuais. Cruz foi campeão nos anos de 1938, 1940, 1942, 1948, 1949 e 1953. Em provas internacionais, empatou com Alekhine e vários jogadores de altíssimo nível.

Cruz, Walter Osvaldo - Apsheniek, Fritzis
Buenos Aires, Olimpíada Mundial, 1939 [C68: Ruy Lopez, variante das trocas]

Comentários de Roberto Grau

1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Bb5 a6 4.Bxc6
Esta variante das trocas é relativamente pouco usada, apesar de ser muito interessante. Leva a uma partida pausada, de posição, na qual as brancas têm que tratar de explorar a sua vantagem de peões na ala do Rei, enquanto o negro tem que aproveitar a existência de seus dois bispos para obter uma compensação. É sugestivo o fato de que o segundo jogador tem que tratar de ganhar, porque não pode jogar para empate, já que a maioria de peões contra um jogo passivo, iria se impor inexoravelmente.

4...dxc6 5.d4
A jogada de Lasker, para entrar imediatamente no final desejado. A jogada proteladora 5.Cc3, ameaçando 6.Cxe5, tem a bonita resposta de Berstein 5...f6!

5...exd4 6.Dxd4 Dxd4 7.Cxd4 Cf6
Superficialmente jogado. O desenvolvimento rotineiro do cavalo o deixa mal colocado, já que a sua melhor casa nesta variante é e7, para depois de c5 transladar-se via c6 a d4. Roberto Grau sugere que a melhor jogada parece ser 7. ..Bd6, mas Oscar Panno corrige: a melhor defesa se baseia em 7...Bd7 (7...c5 8. Ce2 Bd7 é uma sugestão de Pachman) 8.Be3 O-O-O, com chances equilibradas.

8.f3 Bc5 9.Be3 O-O 10.Cf5 Bxe3 11.Cxe3
E agora, destruído o par de bispos do negro, a vantagem do branco é teoricamente decisiva, mas tem que fazê-la efetiva, e isto é o que faz em estilo clássico o mestre brasileiro. A partir deste momento sua tarefa é impecável e a audácia e a beleza da concepção final da partida é notável.

11...Be6 12.Cc3 Tad8 13.O-O Tde8 14.Tad1 Bc8 15.Tfe1 g6 16.Rf2 Rg7 17.g4 h5
Típico do empreendedor mestre Letão. Mas o branco calculou um plano profundo para opor-se à projetada invasão pela coluna “h”.

18.h3 Th8 19.Rg3 Cd7 20.f4 Cc5 21.e5 a5 22.Cc4
Ao mesmo tempo em que trata de valorizar a sua maioria de peões, Cruz aproveita a oportunidade brindada pela última jogada de Apcheniek para melhorar a situação de um cavalo e provocar o adversário. O Tema de Capablanca: 'limpar a folhagem' da posição para aproveitar as vantagens de forma pura, sem rebuscamentos.

22...b6 23.Cd2
Rumo à melhor casa para esta peça, ou para a sua 'irmã'!

23...Th7 24.Cde4 hxg4 25.hxg4 Cxe4+ 26.Cxe4 Teh8 27.Cf2!
A chave da defesa do branco.

27...Be6 28.b3
Quiçá seja mais exato 28.a3.

28...a4 29.Th1 Txh1 30.Cxh1 axb3 31.axb3 Ta8
Já que a entrada é impossível por outra parte, vai pela coluna “a”. Mas o branco, que viu muito longe, tem reservada uma manobra oculta, que não só anula o plano do mestre europeu como também assegura ao brasileiro um notável triunfo.

32.Cf2 Ta2 33.Ce4!

Entregando o peão, que não pode tomar-se por causa de 34.Td8 e o mate é inevitável. PS: o mate se evita com 34...f5, também perdendo, porém com complicações. Mas 34.Cf6! transpõe para o que aconteceu na partida.

33...Bd5 34.Cf6 Txc2
E o negro tomou o peão. Mas agora a invasão é pela coluna a. Talvez o melhor para o segundo jogador fosse voltar a a8, mas depois de 35.c4 Be6 36. Tf1, ou simplesmente 35.Cxd5 cxd 36.Txd5, o branco deveria ganhar igualmente.

35.Ta1 Tc3+ 36.Rh4 Bg2!
Muito engenhoso, para evitar o mate ameaçado voltando com a torre para h8.

37.Ta8 Th3+ 38.Rg5 Th8 39.Ce8+ +-
Se: 39.Txh8 Rxh8 40.e6! (ameaçando e7) fxe 41.Rxg6 também ganha, mas não teria a bonita variante que segue.

39...Rh7 40.Rf6 c5 41.Rxf7! Tf8+
Evidentemente não 41...Bxa8, por causa de 42.Cf6+ seguido de g5++. Por outro lado, se 41...Rh6, então 42.g5+ e Cf6+ dão mate ou ganham a torre.

42.Rxf8 Bxa8 43.Cf6+ Rh8 44.f5 g5
Se 44...gxf 45.g5! seguido de g6 e g7++! Quem precisa de modelos de mestres estrangeiros?!

45.e6 Bc6 46.Cd7 1-0
Um trabalho finíssimo.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Estudando Partidas de Mestres

Eu particularmente, gosto muito de trabalhar com meus alunos a partir de partidas analisadas. Acho mais fácil para a compreensão do aluno, pois a analise (quando bem feita) vai mostrando o “passo a passo” do plano de jogo, elementos táticos e estratégicos, assim como o aluno terá a oportunidade de ver todas as fases da partida: abertura, meio-jogo e final.

É muito legal quando estamos jogando uma partida e nos defrontamos com uma posição extensamente analisada em uma das aulas, pois podemos aplicar na pratica os conhecimentos adquiridos naquele estudo.

Recentemente jogando na internet uma partida seguindo o plano estratégico do Sistema Colle (pressão sobre a casa “e4”) acabei entrando na mesma variante [na verdade cheguei praticamente na mesma posição] da partida jogada entre Colle e Delvaux em 1929 - veja nos diagramas abaixo.

Partida Jogada Por Colle:
Colle, Edgard x Delvaux [D05 - Abertura do peão da Dama - Sistema Colle] GandTerneuzen, 1929
1.d4 d5 2.Nf3 Nf6 3.e3 e6 4.Bd3 c5 5.c3 Nc6 6.Nbd2 Be7 7.0–0 c4 8.Bc2 b5 9.e4 dxe4 10.Nxe4 0–0 11.Qe2 Bb7


12.Nfg5 h6 13.Nxf6+ Bxf6 14.Qe4 g6 15.Nxe6 fxe6 16.Qxg6+ Bg7 17.Qh7+ Kf7 18.Bg6+ Kf6 19.Bh5 Ne7 20.Bxh6 Rg8 21.h4 Bxh6 22.Qf7# 1–0


A partida que eu joguei
Vaz Jr - RedPhanter [D02] 15x15mins Kurnik, março de 2009
1.d4 d5 2.Nf3 c5 3.c3 e6 4.e3 a6 5.Bd3 c4 6.Bc2 Nc6 7.Nbd2 b5 8.0–0 Nf6 9.Qe2 Be7 10.e4 dxe4 11.Nxe4 Bb7 12.Re1 0–0


Neste momento a posição das peças sobre o tabuleiro é praticamente a mesma da partida do Colle, o permitiu que eu não precisasse perder tempo procurando um lance, uma seqüência, um plano, etc. Eu simplesmente segui o plano do mestre até o ponto que foi possível, adaptando daí por diante. O meu adversário, diferentemente de Delvaux, não tomou o Cavalo (16.Nxe6), preferindo mover a Dama. Mas o resultado foi o mesmo obtido por Delvaux – a derrota.

13.Nfg5 h6 14.Nxf6+ Bxf6 15.Qe4 g6 16.Nxe6 Qe7 17.Nxf8 Qxe4 18.Bxe4 Kxf8 19.Bxh6+ Bg7 20.Bxg7+ Kxg7 21.Bxc6 Bxc6 22.Re7 Bd5 23.Rd7 Be6 24.Rc7 a5 25.Re1 b4 26.Rxe6 bxc3 27.bxc3 1–0

sexta-feira, 6 de março de 2009

Estudar Sozinho

Todo jogador tem dificuldades para estudar. Seja por falta de tempo ou de material, principalmente por falta de método ou de disciplina. Diz-se que cada um deve descobrir o SEU método. Para descobrirmos o nosso, seria interessante se cada um contasse aos outros o seu próprio método de estudo. Abaixo segue uma sugestão.

Pegar qualquer partida de um livro, revista ou base de dados. Se ela estiver analisada, melhor. Se tiver analisada por mais de um jogador, melhor ainda. Mas você irá estudá-la sem ver nenhuma das análises.

Procure a partida num banco de dados e imprima-a sem as análises. Ou veja-a sem as análises no programa (Chessbase, por exemplo, conta com a opção de visualização das jogadas chamado TRAINING, que esconde as jogadas no campo da anotação!). Depois você pode comparar suas avaliações, tomadas de decisão, lances de abertura e variantes com os comentários do jogador que analisou a partida.

Mesmo que seja uma partida entre jogadores não tão fortes nem famosos. Para alguma coisa o trabalho servirá: localizar os erros e apontar correções, melhorar a defesa do lado pior, tentar inventar confusões, etc...

O principal OBJETIVO de estudar uma partida de xadrez é se acostumar a criar uma postura crítica sobre a partida e tentar FAZER PARTE DELA. Deixar de ser um mero observador para ser um consultor, avaliador, capaz de resumir os acontecimentos e sugerir melhoras.
Estudando devagar, qualquer posição, estaremos trabalhando aos poucos para melhorar nossa a capacidade de bater o olho numa posição e, rapidamente, avaliar a estrutura de peões e suas rupturas, medir a segurança dos reis, localizar peças mal colocadas, notar temas táticos possíveis, a harmonia e coordenação entre as peças, etc...

Se for uma partida entre GMs que você esteja estudando, tente localizar o que motivou a derrota de um deles (lance exato do erro, lances duvidosos ou estratégia duvidosa). Faça perguntas do tipo: - Porque jogou este e não este? Que aconteceria se jogasse este lance que parece óbvio e não foi jogado? Os lances efetivamente jogados numa partida são somente a ponta de um Iceberg. Boa parte dos acontecimentos num grande batalha acontecem nos bastidores das análises.

Seria como se você estivesse emprestando o carro de um GM. Durante a aula, o treinador pede ao aluno que sente no banco do motorista e dirija a partida pelo GM. Sem medo de cometer barbeiragens, pisar muito fundo no acelerador ou esquecer de frear a posição.

O Estudo solitário deve servir para treinar avaliação, julgamento, tomada de decisão, além de cálculo, tudo ao mesmo tempo. Ou seja, não importa muito a partida em si durante o estudo. Importa mais O QUE VOCÊ FAZ COM A PARTIDA.

É aconselhável anotar as próprias variantes, comentários, no ChessBase e pedir para o professor ou amigo mais forte avaliar ou usar software para ajudar a analisar. Mas cuidado para não cair na tentação de deixar o computador te enganar com longas variantes impossíveis de se calcular na prática. Domar a máquina é tarefa que pode demorar um pouco para se conseguir.

Para treinar sozinho seria ideal SIMULAR situações de jogo. Para isso influi o ambiente da sua casa, TV desligada, som desligado, sem perturbações... Até o barulho do tic-tac do relógio de xadrez pode ser útil para alguns (num momento posterior, até se pode incluir barulhos para testar a concentração).

Uma das principais simulações é o condicionamento a RESOLVER PROBLEMAS, mas não do tipo mate em 3 ou jogue e ganhe, mas sim problemas reais que ocorrem durante uma partida de torneio: como ocupar esta casa, como abrir linhas e evitar o plano do oponente ao mesmo tempo, qual peça desenvolver antes, troco espaço por iniciativa, troco estrutura por material, troco iniciativa por posição?

O estudo ATIVO é essencial. Não adianta pegar partidas analisadas comentadas, já mastigadas, vê-las rapidamente e sair achando que estudou ou que aprendeu alguma coisa. É necessário ROER OSSO, AFIAR OS DENTES, por conta própria. Para progredir, além do conhecimento que devemos adquirir, precisamos melhorar nossas HABILIDADES.

Um interessante treino prático é tentar ganhar partidas ganhas, enrolar partidas perdidas, defender partidas difíceis, aprender a não ser enrolado, evitar contra-jogo perigoso quando estamos no domínio.

Para isto, um bom treino é enfrentar o computador em posições montadas com grande vantagem para nós. A maioria dos livros nos ensina como conseguir vantagens nas posições, nas aberturas ou no meio jogo. Mas ganhar estas partidas com vantagem depende só do jogador.


Blog do Disconzihttp://rodrigodisconzi.blogspot.com/search?updated-min=2008-01-01T00%3A00%3A00-02%3A00&updated-max=2009-01-01T00%3A00%3A00-02%3A00&max-results=26

domingo, 1 de março de 2009

Jogando na Net

Jogar na internet é legal, mas nada se compara a jogar pessoalmente. No SESC São Caetano, aos sábados, após o torneio, ficamos jogando partidas amistosas e ao final de cada uma costumamos fazer algumas análises "post-mortem" (hehehe...) o que ajuda bastante a melhorar o nível de jogo de cada um.

Com relação a jogar na net, costumo jogar no site
www.kurnik.org, assim como uso este site no treinamento dos meus alunos. Nas minhas aulas a primeira hora é voltada à teoria do jogo (temas táticos e estratégicos de meio-jogo, finais, aberturas, etc), já na segunda hora o aluno joga ao menos duas partidas on-line.

Normalmente a primeira partida ele joga sozinho e a segunda jogamos a "quatro mãos e duas cabeças" (hehehe...) aonde procuro explicar o “plano de jogo” e os temas táticos/estratégicos que vão aparecendo. A partida que ele joga sozinho, depois da aula eu analiso e a envio por e-mail ou usamos uma parte da próxima aula para ver juntos um ou mais pontos importantes que se destacaram na partida.

O legal do kurnik é que ele guarda as partidas por até seis meses, desta forma, durante a semana posso acessar a conta dos alunos e pegar uma ou duas partidas semanais para análise. Sem duvida a net ajudou demais na agilização de minhas aulas e aumentou em muito o interesse para os alunos. Antigamente o aluno jogava comigo e isso fazia com que muitos se retraíssem e jogassem abaixo das possibilidades. Agora, o fato de ele jogar com uma pessoa que não conhece faz com que jogue mais tranqüilo e use todo o potencial.

A seguir, para vocês terem uma idéia, segue a cópia do e-mail que enviei esta semana a um dos alunos.

Olá Fábio, boa tarde! Muito boa a partida que você jogou no ultimo final de semana no site
www.kurnik.org na qual tentou usar o tema tático do sacrifício em h7 bastante analisado em uma das ultimas aulas.

Ficou claro que você estudou a lição e, o melhor de tudo, tentou coloca-la em prática tão logo foi possível. Parabéns pela tentativa, pois é jogando que você vai aperfeiçoar o ataque e descobrir todas as sutilezas que este sacrifício temático exige.

Faltou pouco, muito pouco mesmo para você “pegar o cara de jeito!”. Vamos à partida e em seguida aos comentários:

Tipichi – Mastercharlie [A46 – Sistema Colle] kurnik, 25.02.2009
1.d4 Nf6 2.Nf3 e6 3.e3 c5 4.c3 cxd4 5.cxd4 Nc6 6.a3 b6 7.Bd3 Bb7 8.Nbd2 Be7 9.Qe2 0–0 10.0–0 Qc7 11.Re1 Ng4 12.e4 d6 13.h3 Nf6 14.e5 dxe5 15.dxe5 Nd7 16.Nc4 b5 17.Nd6 Bxd6 18.exd6 Qxd6 19.Bxh7+ Kxh7 20.Ng5+ Kg8 21.Qh5 Nf6 22.Qf3 Ne5 23.Qg3 Ng6 24.Re3 Qxg3 25.Rxg3 Nh4 26.Bf4 Nxg2 27.Rxg2 Bxg2 28.Kxg2 Nh5 29.Bd6 Rfd8 30.Rd1 Rd7 31.Rd4 Rad8 32.Rh4 Rxd6 33.Rxh5 Rd2 34.b4 R8d5 35.Nf3 Rxf2+ 36.Kxf2 Rxh5 37.h4 e5 38.Ke3 f6 0–1

Vamos analisar a posição da partida após o lance 17.Nd6 das brancas:


Na posição acima “o sacrifício em h7” está praticamente desenhado, mas ainda é um rascunho... Por que?

Resposta: porque as negras têm o Bispo em “e7”, desta forma se: 16.Bxh7+ Kxh7 17.Ng5+ Bxg5 e o ataque vai pro brejo!

No ataque ao roque existem alguns métodos típicos que se apresentam com muita freqüência e, desta forma, é conveniente estudar cuidadosamente. O estudo ajuda a descobrir o caminho correto e, inclusive, as variantes que devem ser analisadas.

As condições típicas para este sacrifício estão presentes na posição:
a) o Bispo em “d3”;
b) o Cavalo que pode saltar para “g5” (apoiado pelo Bispo de “c1”);
c) a Dama preparada para entrar no jogo em seguida via “h5”.
d) também é vital a presença do peão em “e5” que além de tirar casas de escape do Rei negro, impede que as negras possam defender a casa “h7” com Nf6 quando, após o sacrifício, as brancas atacarem com Ng5 e Qh5.

Geralmente o salto do Cavalo para g5 é imprescindível para o êxito do ataque. Mas se as negras têm o seu Bispo em e7, o sacrifício quase sempre falhará. Não obstante, se as brancas não estão rocadas podem usar o peão de h para reforçar a entrada do Cavalo em g5.


Vamos analisar a posição da partida após o lance 17...Bxd6 das negras:

Comparando o diagrama 2 com o anterior verificamos que a principal diferença é que o Bispo negro de “e7” sumiu. Ou seja, o lance jogado pelas negras mostra que o adversário não tem o conhecimento necessário a respeito do tema, pois do contrário não jogaria 17...Bxd6.

Assim sendo, agora temos todas as condições para efetuar o sacrificio. Vamos lá: 18.Bxh7+! e agora, se o seu adversário prosseguisse como na partida teríamos: 18...Kxh7 19.Ng5+ Kg8 [se 19...Kg6 20.Qe4+ f5 21.exf6+ Kxf6 (ou 21...Kh6 22.Qh7#; ou 21...Kh5 22.Qh7#) 22.Qxe6#) 20.Qh5 Rfe8 [se 20...Nf6 21.exf6 Bh2+ 22.Kh1 Rfd8 23.Qh7+ Kf8 24.Qh8#] 21.Qxf7+ Kh8 22.Re4 Nf8 23.Rh4+ Nh7 24.Rxh7# 0–1

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A seguir, Fábio, segue uma partida que jogamos “a quatro mãos e duas cabeças”, também on-line no kurnik, durante uma das aulas. Nesta o plano foi perfeito e seu adversário foi “apresentado com louvor” ao temático “sacrificio em h7”.

Tipichi - Pepe395 [D04 – Sistema Colle] Kurnik, 20.02.2009
1.d4 Nf6 2.Nf3 d5 3.e3 Ne4 [era melhor: 3...e6; ou 3...c5]

4.Bd3 e6? [erro, pois perde um peão. O correto era: 4...Bf5 5.0–0 e6]

5.Nbd2 Bd6 6.Nxe4 dxe4 7.Bxe4 0–0 8.0–0 c6 9.Bd3 Nd7 10.c3 Nf6 [as negras procuram trazer o cavalo para ajudar na proteção do rei].

11.e4 [as brancas “tomam posse” do centro do tabuleiro e ameaçam um garfo em “e5”]

11...Bc7? [Mostrando um total desconhecimento do tema “sacrifício em h7”, as negras cometem um erro grave que vai lhes custar a partida. O correto era seguir com 11...Be7, pois o cavalo está prestes a ser expulso de “f6” e deixará o monarca negro “nas mãos” da terrível dama branca. Após 11...Be7 seguiria: 12.Qe2 Qc7]


12.e5! Nd5


13.Bxh7+!! Kxh7 14.Ng5+ Kg6 Kg8
se: 14...Kg6 15.h4! 15...Qe7 (15...Rh8 16.Qd3+ f5
a) 16...Kh6 17.Nxe6+ Kh5 (17...g5 18.hxg5+ Qxg5 19.Bxg5+ Kh5 20.Qf5 seguido de g4#; 17...Qg5 18.Bxg5+ Kh5 19.Nxg7+ Kg4 20.Qf3#) 18.Nxg7+ Kg4 (18...Kxh4 19.Qg3#) 19.Qg3#;
b) 16...Kh5 17.g4+ Kxg4 18.Qf3+ Kxh4 19.Qh3#;
17.exf6+ Kxf6
a) 17...Kh5 18.g4+ Kxg4 (18...Kxh4 19.Qh3#) 19.Qf3+ Kxh4 20.Qh3#;
b) 17...Kh6 18.Nf7+ Kh5 19.g4+ Kxg4 20.Ne5+ Bxe5 21.Qg6+ Kxh4 (21...Kf3 22.Qg2+ Ke2 23.Qe4+ Ne3 24.Qxe3#; 21...Kh3 22.dxe5 Kxh4 23.Qg5+ Kh3 24.Qg3#) 22.Qg5+ Kh3 23.dxe5 seguido de Qg3#;
18.Qf3+ Ke7 (18...Kg6 19.Qf7+ Kh6 20.Nxe6+ Kh7
(20...g5 21.hxg5+ Qxg5 22.Bxg5#;
20...Qg5 21.Qxg7+ Kh5 22.Qxg5#;
20...Nf4 21.g4 Qg5 22.hxg5+ Kh7 23.Qxg7#;
20...Bf4 21.Bxf4+ Nxf4 22.Qxg7+ Kh5 23.Nxf4+ Kxh4 24.Qg3#) 21.Qxg7#)
19.Qf7+ Kd6 20.Ne4#)

16.h5+ Kh6 (16...Kf5 17.g4#) 17.Qd3 Qxg5
a) 17...Rh8 18.Nxf7+ Kxh5 19.Nxh8 Qe8
a1) 19...Qd8 20.Qh3+ Qh4 21.g4#;
a2) 19...Ne3 20.Qg6+ Kh4 21.g3+ Kh3 22.Qh5+ Qh4 23.Qxh4#;
a3) 19...Nf4 20.Bxf4 Kg4 21.Qf3+ Kf5 (21...Kh4 22.Ng6#) 22.g4#;
a4) 19...g6 20.Qh3+ Qh4 21.g4#; 20.Qh3#;
b) 17...f5 18.exf6;

18.Bxg5+ Kxg5 19.Qh7 g6 20.g3 seguido de f4+]

15.Qh5 Re8 [15...Qxg5 16.Bxg5] 16.Qxf7+ Kh8 17.Qh5+ Kg8 18.Qh7+ Kf8 19.Qh8+ Ke7 20.Qxg7# 1–0

Geralmente o salto do Cavalo para g5 é imprescindível para o êxito do ataque. Se as negras têm o seu Bispo em e7, o sacrifício quase sempre falhará. Não obstante, se as brancas não estão rocadas podem usar o peão de h para reforçar a entrada do Cavalo em g5. Um bom exemplo é a partida a seguir:

Schlechter - Wolf [C13 – Defesa Francesa] Berlin, 1894
1.e4 e6 2.d4 d5 3.Nc3 Nf6 4.Bg5 Be7 5.Bxf6 Bxf6 6.Nf3 0–0 7.e5 Be7 8.Bd3 Bd7 9.h4 [ameaçando o sacrifício em h7 seguido de Ng5 e se as negras capturam o Cavalo as brancas colocam em jogo a Torre de h1 ao capturar o Bispo em g5 com o peão de h]

9...f6 [como veremos, este lance não defende nada. Tampouco serviria 9...g6 pois seguiria 10.h5 abrindo a coluna h rapidamente. O melhor era 9...h6]

10.Ng5! [10.Bxh7+ Kxh7 11.Ng5+ Kh6 era menos preciso]

10...fxg5 11.Bxh7+! Kxh7 [11...Kh8 12.Qh5 Rf6 13.Bg6+ Kg8 14.Qh7+ Kf8 15.Qh8#; 11...Kf7 12.Qh5+ g6 13.Qxg6#]

12.hxg5+ Kg8 [12...Kg6 13.Qh5+ Kf5 14.Rh3 Bxg5 15.Rf3#]

13.Rh8+! 14.Qh5+ g6 15.Qh7+ Ke8 16.Qxg6# 1–0

Abraços Fábio! Bons estudos e bons jogos.

Dicas para o ensino do Xadrez nas Escolas

Blog do Disconzi
http://rodrigodisconzi.blogspot.com/search?updated-min=2008-01-01T00%3A00%3A00-02%3A00&updated-max=2009-01-01T00%3A00%3A00-02%3A00&max-results=26

Recentemente precisei elaborar algumas dicas resumidas para professores que recém haviam sido capacitados a ensinar o Xadrez nas Escolas. Após algumas pesquisas na internet e em alguns livros, e após algumas traduções e adaptações próprias, elaborei um texto que segue abaixo.

DICAS SIMPLES PARA O ENSINO DO XADREZ NAS ESCOLAS

PROFESSOR:
1- Não precisa ser um grande jogador, pois o que os alunos querem mesmo é jogar. O segredo é saber balancear o ensino com a diversão.
2- Um professor de xadrez deve ser, antes de tudo, um motivador. Motivação para jogar, para prestar atenção na aula e, talvez, para motivar alunos a treinarem sozinhos.
3- Uma importante tarefa do professor é saber em que fase do aprendizado os alunos se encontram e qual o próximo passo a ser dado.

PARTIDAS NA SALA DE AULA:
1- São essenciais ao aprendizado do jogo. Os alunos aprendem uns com os outros.
2- Se ao término do horário de aula a partida não tiver acabado, o professor pode estabelecer a contagem de peças e depois dos pontos das peças para determinar o vencedor.
3- ATENÇÃO! È importante ressaltar que este procedimento não ocorre em campeonatos, só em amistosas na sala de aula.
4- Em partidas que um dos lados fica só com o rei, recomenda-se que o aluno comece a contar até 30 ou 50 jogadas dele, para ficar mais emocionante. Se o adversário não conseguir dar Xeque-mate em 30 jogadas, a partida empata.

AULA:
1- Toda aula deve ter uma meta a ser atingida.
2- Em cada início de aula, recapitular rapidamente o que foi aprendido nas últimas aulas.
3- Sempre que estiver contando algo ou explicando, procure MOSTRAR no tabuleiro mural.
4- Teoria (saber o quê) e prática (saber como fazer) devem andar juntos.
5- Recomenda-se 25% da aula com teoria e 75% de prática, sendo que 50% para cada seja também normal. (No início, quando se ensinam os movimentos básicos, pode ser necessário um pouco mais de teoria).
6- Ao se ensinar teoria, a criatividade do professor pode entrar em cena caso ele consiga ensinar o assunto em formato de história a ser contada, com um pouco de ficção ou história que todos conhecem.
7- Quando há tempo para isso, no início da aula o professor passa um pequeno e rápido teste para confirmar o aprendizado das aulas recentes.
8- Em países de primeiro mundo, aconselham 12 alunos por turma. Realidade bem diferente da nossa.

XEQUE MATE:
1- Postergar ao máximo possível o ensino de técnicas de Xeque Mate, para que os alunos dominem as outras habilidades básicas do jogo: MOVIMENTAÇÃO DAS PEÇAS, ameaçar, capturar e defender.
2- O Professor pode e deve ensinar o conceito de Xeque e Xeque Mate, mas não deve se preocupar se os alunos não conseguem executar xeques-mate logo no início.
3- Para os iniciantes, capturar todas as peças do oponente é uma meta saudável, pois crianças ficam fascinadas pelas capturas, mesmo quando realizam trocas desfavoráveis.

APRENDIZADO:
1- Após as primeiras lições, os alunos passam por duas fases:
1.1 – Fase Material: Captura de peças é a meta. As crianças exploram, cada uma no seu ritmo, as peças e o jeito que elas se movem pelo tabuleiro.
1.2 – Fase Espacial: Fase onde se procura dominar o conceito de Xeque-Mate e a busca pelo Xeque –Mate. Para esta fase ser efetiva, era essencial ter apreciado na fase anterior a divisão espacial do tabuleiro. Uma grande sacada seria notar que ao se mover uma peça ele ataca não só outras peças, mas também domina e controla várias casas. Essa visão espacial é essencial para o Xeque-Mate, pois se trata de limitar as casas e fuga do rei adversário, cortando-lhe saídas. Notamos isso principalmente quando é necessário dar xeque-mate de várias peças contra um rei sozinho.
2– Seria uma perda de tempo ensinar Xeque-Mate para uma criança que não sabe mover as peças.
3- Nestas fases iniciais, não é aconselhável forçar as crianças a pensar bastante antes de jogar seus lances, pois elas ainda não dominam outros fatores relevantes do jogo exceto o material. Se o jogo demorar muito, as crianças ficam entediadas e perdem o interesse. Numa fase futura, aí sim devemos sugerir maior observação da posição das peças no tabuleiro.
4– Crianças iniciantes não costumam notar se as peças estão atacadas ou não, elas gostam de mover sua peça preferida, ou de contar quantas peças capturaram ou do formato que os peões tomaram em conjunto.

PSICOLOGIA:
1- O mais notável, e talvez mais importante, seja o imediato ganho na autoconfiança dos alunos. O xadrez é geralmente relacionado como atividade intelectual, e quem joga passa a ser visto como alguém esperto.
2- Neste sentido, para o professor não devem existir alunos que jogam mal na sala de aula, e sim alunos que aprendem num ritmo diferente dos demais.
3- Para atender alunos de uma mesma sala com diferentes níveis de compreensão do jogo, sempre prepare perguntas de diferentes níveis.

DESENVOLVIMENTO COGNITIVO:
1- Xadrez é um jogo de lógica, que, segundo Piaget, crianças só desenvolvem a partir dos sete anos de idade.
2- Seguindo o modelo de Piaget, que identificou 4 níveis de desenvolvimento cognitivo, no xadrez também podemos aproveitar tal divisão:
2.1- Fase Não-Lógica
2.2- Lógica Básica
2.3- Lógica simples
2.4- Lógica Complexa

Digamos que um aluno ataca a dama de outro, que agora tem a vez de jogar.
- Se estiver na fase 2.1 ele não fará nada contra a ameaça, pois não notará a ameaça ou, pois não dará importância ao fato de que o cavalo vale menos que a dama.
- Se estiver na fase 2.2 ele irá fugir com a dama, mas sem checar se a nova casa é segura para a dama e livre de captura.
- Se estiver na fase 2.3 ele moverá a dama para a primeira casa livre e segura que encontrar.
- Se estiver na fase 2.4 ele notará todas as casas livres e seguras para a dama antes de escolher para qual deve mover.Mas também ele irá procurar outros lances que não sejam somente defensivos, como, por exemplo, atacar a dama do oponente ou buscar alguma ameaça de xeque mate (altamente efetiva idéia, pois o outro irá provavelmente querer capturar a dama ameaçada).

ALGUMAS QUALIDADES DO XADREZ ESCOLAR:
Honestidade, Tomada de decisão, Processo de Análise e aprender a Trabalhar sob pressão.

PRÊMIOS EM TORNEIOS:
1- Se possível, todos os alunos deveriam ganhar algum tipo de prêmio. No torneio escolar oficial da Inglaterra, todos os 70 mil ganham alguma coisa, nem que seja um distintivo (ou emblema) para colar uma estrelinha a cada vitória obtida. A cada 10 vitórias, uma estrela de outra cor, por exemplo.

TORNEIOS ESCOLARES:
1- Numa etapa inicial, as partidas não necessitam de relógio ou de anotação das partidas. Os alunos mais novos, ou iniciantes, jogam rápido.
2- Os alunos podem ser divididos em grupos de idade ou por ano escolar, disputando torneios separados.