quinta-feira, 14 de maio de 2009

Um ator que amava o xadrez

(by: Javier Cordero Fernández)
Não está mais entre nós, fomos surpreendidos com a sua morte em janeiro do ano passado, mas foi uma pessoa que amava e desfrutava o jogo de xadrez.
Estamos nos referindo a Heath Ledger, ator que alcançou fama mundial com o filme Brokeback Mountain, desempenho com o qual foi indicado para um Oscar.

Heath veio ao mundo na cidade australiana de Perth, em 4 de abril de 1979. A vocação para a interpretação veio ainda quando criança, mas antes que isso acontecesse já tinha descoberto um jogo cheio de profundidade e beleza que lhe cativou e nunca mais o deixou... o jogo de xadrez.

Nosso protagonista participou de vários torneios de xadrez infantil, chegando a vencer o campeonato estadual sub-10. Mas isso não durou muito, pois Heath decidiu deixar a sua “carreira nos tabuleiros” para dedicar-se a outra profissão: a de ator. Todos sabemos como é difícil o percurso a ser percorrido para converter-se em um jogador profissional de xadrez profissional, por isso não é de se estranhar que Heath visse mais futuro situando-se por trás das câmeras. O xadrez foi relegado a um segundo plano, mas nunca abandonou sua prática ao nível de amador.

O seu inicio no cinema não foi muito brilhante, algo que acontece com a maioria dos atores. Os papéis que recebia não eram muito brilhantes e a fama, naquele momento, recusava-se a visitá-lo. Por isso decidiu fazer uma mudança drástica na situação e, assim sendo, resolveu se mudar para os Estados Unidos, país onde acreditava existiriam muito mais oportunidades para poder triunfar.

O trabalho e a perseverança começaram a dar frutos, especialmente através de papéis de ator coadjuvante que lhe permitiram tornar-se conhecido. O ano de 2005 é o ano da sua explosão, protagonizando nada menos do que 4 filmes, incluindo entre eles Brokeback Mountain, filme que marcaria a sua carreira e a sua vida. Como sabem, este filme é sobre a relação de dois vaqueiros homossexuais nos anos 60, sem dúvida uma história difícil, especialmente para certos setores da sociedade americana que enraizada de preconceitos desde muitas décadas atrás. Como eu disse anteriormente, foi indicado para um Oscar pela atuação neste filme, além de receber vários prêmios, incluindo o de melhor ator de 2005 (prêmio outorgado pelos críticos de Nova York) e o mesmo prêmio, outorgado pela academia australiana.


Sua fama cresceu e em 2007 teve seu primeiro papel em uma superprodução, dando vida ao vilão Coringa no filme "The Dark Knight", o mais recente sobre o herói Batman. A grande interpretação deste famoso vilão o ajudou a ganhar o Oscar de melhor ator, além de muitos outros prêmios, alguns deles postumamente (como o Globo de Ouro).

O peso da fama começou a interferir na sua vida, pois nem todas as pessoas podem suportar perder sua independência e anonimato. Basta ver quantos astros da musica, do esporte e do cinema que fogem o tempo todo de repórteres e fotógrafos. Heath Ledger morreu na manhã do dia 22 de janeiro de 2008 por uma overdose de pílulas para dormir, sem que tenha sido possível demonstrar que foi um suicídio.

Mas vamos falar um pouco a respeito da sua paixão pelo xadrez, um vício, segundo suas próprias palavras. Apesar de abandonar a prática do xadrez de torneios, seguiu praticando o jogo na sua vida diária, informação passada por ele em muitas entrevistas, afirmando que jogava ao menos uma partida por dia. Heath tinha o hábito de freqüentar o parque Washington Square, em Nova Iorque, para jogar xadrez.

Neste parque existem muitas mesas com tabuleiros pintados em sua superfície, de modo que qualquer pessoa pode jogar ao ar livre, algo muito comum nos Estados Unidos e deveria ser imitado em nosso país, já que é muito difícil ver este tipo de mesa em parques ou outros locais públicos nas cidades brasileiras.

As pessoas que compartilhavam o tabuleiro com o ator comentam que ele não tinha um nível muito alto, mas que jogava com muito entusiasmo e alegria. Seguindo a tradição do local, costumava apostar alguns dólares cada partida (dizem inclusive, que esta era a forma que Humphrey Bogart sobreviveu durante momentos difíceis de sua vida).

Ledger era uma pessoa que desfrutava o xadrez jogando com muita alegria e também com algum sarcasmo, já que gostava de fazer comentário irônicos a seus adversários (tais como: "oh, muito bom este lance... se queres perder, é claro”).

Querendo mostrar seu agradecimento ao jogo que tantas horas de boa diversão lhe dava, Ledger estava trabalhando em um projeto (que seria a sua estréia como diretor) intitulado "O Gambito da Dama", uma adaptação do romance de Walter Tevis, que conta uma estória estreitamente relacionada ao jogo de xadrez, mostrando uma menina órfã que se torna um gênio do xadrez, mas infelizmente sua morte prematura nos privou do filme.

Após a sua morte, em sua cidade natal, com o objetivo de prestar-lhe uma homenagem, 3 esculturas do artista Ron Gomboc foram colocadas na praia onde ele costumava jogar xadrez.

Duas delas relacionadas ao jogo de xadrez (como se vê na foto) e a terceira o símbolo de yin e yang, associado à sua crença na filosofia oriental.

Além disso, na última escultura pode ser lida a seguinte inscrição, a partir de uma carta de Khalil Gibran (também relacionado com a filosofia oriental):

Somente quando beber do rio do silencio cantarás a verdade.
Quando tiveres alcançado o alto da montanha, então iniciará a subida.
Quando a terra firmar seus pés, então, realmente dançarás.

O que os fãs do xadrez podem aprender com Heath Ledger é o seu entusiasmo para com o jogo. Existem momentos em que, por uma ou outra razão, não sabemos como desfrutar dos nossos passatempos favoritos. Heath quando se sentava em frente a um tabuleiro e começa a mover as peças, desfrutava do jogo certo de que ao menos naqueles momentos todos os seus problemas desapareciam.

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