domingo, 31 de maio de 2009

ADÃO - Um conto de ficção científica

Ano 2130, os robôs fazem parte do cotidiano das pessoas. A busca incessante pela inteligência artificial alavancou a produção tecnológica de tal forma que 95% da população mundial tinham algum robô em sua casa ou em seu corpo. O começo foi com órgãos artificiais implantados, máquinas controladas pelos pulsos cerebrais. Depois vieram os primeiros robôs autônomos que seguiam uma lógica pré-definida. Vieram os robôs que aprendiam, moldando sua lógica conforme sua experiência. Até que veio um robô chamado Mark.

A FIDE (Federação Internacional de Xadrez) adotara regras cada vez mais rígidas, pois houve inúmeras fraudes relacionadas às máquinas. Os campeonatos mundiais exigiam a ausência total de computadores e robôs no ambiente de jogo. Como um cérebro artificial nunca funcionou em um humano até o momento, a cabeça era escaneada para verificar se não havia ali um processador ao invés do órgão. Não que a diferença entre um humano e um robô não pudesse ser notada de cara, porém o procedimento já era utilizado prevendo novidades.

Mark era um invento secreto do CPM (Conselho Político Mundial), um robô único, o primeiro com um cérebro artificial idêntico a um humano. Em sua memória fora gravado a simulação de reações humanas a fatos, desde uma coceira no nariz se houvesse algo o irritando, até sorrisos com o êxito. Externamente seu corpo era idêntico a um humano, era aquecido a 36 graus, e o sistema de resfriamento era igual ao humano, o suor. Seu sistema se alimentava como os humanos e ele tinha baterias com autonomia para meses sem alimento.

Mark também aprendia como os outros, porém, não tinha as limitações que o impedia de tomar decisões prejudiciais aos humanos, programa comum nos robôs. Seus criadores instalaram nele um dispositivo remoto que desativaria seu cérebro caso necessário. Ele fora submetido a uma série de situações cotidianas, foi com cuidado integrado à sociedade como um humano.

Depois de dois anos vivendo como homem, Mark havia aprendido inúmeras coisas com sua curiosidade aguçada. Mesmo não tendo o programa para ser inofensivo aos humanos, não havia nenhum registro de agressividade ou animosidade. Ele ficara mais gentil e sorridente com o tempo, surpreendeu os técnicos da CPM quando resolveu comprar um cachorro e fez alguns amigos, em geral vizinhos de sua casa numa rua de classe média de Los Angeles.

Mark arrumara emprego em uma loja de roupas masculinas. Foi promovido em 6 meses, pois rapidamente se tornara o funcionário mais capaz da loja. A elegância com que se vestia e vestia os outros chegava a intrigar, afinal sua memória original não tinha nada sobre isso. Nas folgas ele aprendeu a jogar xadrez, freqüentando os Shoppings Center da cidade, local aonde enxadristas se reuniam para jogar. Com o tempo ele passou a ser um dos melhores jogadores. Os outros o encorajavam a participar de um campeonato da FIDE, pois seu xadrez era muito bom.

Porém Mark achava injusto sendo um robô, participar como homem. Ele sabia das regras que a FIDE impunha aos inscritos, restringindo o uso de máquinas de qualquer espécie. Mas o xadrez era o início do auto-questionamento em relação a sua existência. Poderia ser ele um novo humano, um novo ser que habitaria a terra em conjunto com os homens? Ele não pensava como um robô, os robôs eram totalmente dependentes de comandos, se ocorresse algo diferente do seu entendimento eles simplesmente paravam estáticos até que um humano os orientasse. Ele não, ele era independente. Ele sentia tristeza por não ser um homem, sentia um vazio existencial, sentia medo de falhar e ser desativado. Por isso procurava sempre ser gentil, sempre obedecer às leis humanas.

Com o tempo Mark passou a buscar novos desafios no xadrez, afinal ninguém iria puni-lo por ganhar, no tabuleiro ele não tinha medo, não sentia tristeza. Tomou a decisão de sua existência inscrevendo-se no torneio estadual. Era recheado de jovens estudantes que não foram páreo para ele em nenhum momento. Venceu todas as partidas que disputou e chamou a atenção dos dirigentes da FIDE que o convidaram para participar do campeonato mundial em Nova York.

Mark pediu licença de uma semana no trabalho para participar do torneio que contaria com grandes mestres do mundo todo. Ele participou das seletivas com os campeões regionais alcançando a fase final. Venceu 18 partidas de vinte a serem disputadas, empatou uma e jogaria contra o russo Pavlov o maior mestre em atividade, que tinha vencido as 19 partidas que disputou.

O jogo foi fantástico, a multidão de pessoas assistindo olhavam maravilhadas para aquele novo mestre enfrentando o maior deles. O fim de jogo foi com torre e dois peões para cada um. Mark com as pretas, estava encurralado pelo rei e peões de Pavlov que tentava de todo jeito com sua torre dar o mate. As combinações aconteceram e era o último lance de Pavlov. Ele devia mover a torre até c8 dando enfim o mate em Mark.

Porém, na hora de mexer a peça, Pavlov tocara antes em seu rei sem a intenção de movê-lo. Um movimento do rei inverteria o jogo e deixaria Mark a duas jogadas do mate. Pavlov olhou para Mark com semblante receoso, olhou para o juiz que indicou que o rei deveria ser movimentado. No momento em que Pavlov movia sua mão até o rei, Mark derrubou o seu desistindo da partida. Pavlov com um sorriso aprovou a atitude e estendeu a mão para cumprimentar Mark que esquecera que era um robô e aceitou a derrota como humano.

Ali ficou claro para ele seu papel na existência, era mostrar a humanidade o quanto suas máquinas eram humanas, passíveis de erro e dignas de respeito.

Mark pediu sua desclassificação do campeonato aos juízes alegando que trapaceou. Fora questionado sobre sua trapaça.

- Utilizei uma máquina para jogar, devo ser desclassificado.
- Mas como? Todos foram escaneados, que máquina você utilizou? –
questionou um dos juízes.
- Eu.
- Você?
- Sim, sou um robô.
- Impossível!
- Sim, sou um robô da CPM, um projeto secreto.

Naquele instante ele fora desativado pela CPM, o que pareceu um desmaio às pessoas. O vice-campeonato foi confirmado para aquele mestre de passagem tão meteórica pelo xadrez. Suas últimas palavras foram desconsideradas pois técnicos envolvidos em seu projeto passaram por médicos atribuindo o fato a um devaneio momentâneo aos juízes. Ele foi declarado oficialmente morto como homem, Mark, o Adão.

Autor: Igor Rykovski, São Paulo/SP - Brasil, 29 anos, Escritor Semi-profissional

Este conto foi igualmente publicado por José Feldman, em Singrando Horizontes, com a inclusão do quadro O quadro The Game (O Jogo) pertencente a Henryette Weijmar Schultz, retirado de Ala de Rei.

(by Mario Vaz)

sábado, 30 de maio de 2009

Os Peões e as Partidas de Xadrez

Raramente a fase final de uma partida de xadrez acontece sem a presença de peões.

Philidor (François-André Danican Philidor), Grande Mestre do passado já dizia que “o peão é a alma do xadrez”.

Mais tarde, Fine (Reuben Fine) completou esta frase dizendo que “se o peão é alma do xadrez, no final ele é também nove décimos do corpo”.

Com efeito, o peão, com sua aparência frágil e movimentos limitados, irrompe com grande força nos finais de jogo, tornando-se valioso, tanto pela possibilidade de promovê-lo a uma peça de maior valor quanto pela sua posição estratégica que normalmente dita o rumo dos acontecimentos.

Mas os peões também podem ser surpreendentes no inicio de uma partida.

Abaixo podemos ver duas partidas de xadrez em que o jogador com as peças brancas se impõe de uma forma muito rápida, mas com a nota curiosa de que o faz realizando quase que exclusivamente movimentos de peões.

Borochow, Harry - Fine, Reuben [Pasadena, 1932]

1.e4 Nf6 2.e5 Nd5 3.d4 Nc6

4.c4 Nb6 5.d5 Nxe5 6.c5 Nbc4

7.f4 e6 8.Qd4 Qh4+ 9.g3 Qh6

10.Nc3 exd5 11.fxe5 1–0


Kujoth - Bauer, Fashing (1950)

1.e4 c5 2.b4 cxb4 3.a3 Cc6

4.axb4 Cf6 5.b5 Cb8 6.e5 Dc7

7.d4 Cd5 8.c4 Cb6 9.c5 Cd5

10.b6 Dc6 11.Txa7 1-0

(by Mario)

terça-feira, 26 de maio de 2009

O sistema Elo e a primeira listagem

Foto: Arpad Elo, o criador do sistema de classificação da FIDE


Resumindo-se bastante, o sistema de pontuação Elo é um método que se utiliza para medir e calcular a força relativa e a habilidade dos jogadores de xadrez.

Também pode ser utilizado, por exemplo, para medir a força dos praticantes de outros esportes de dois jogadores, como damas ou go.

A escala para a classificação internacional começa em 2000 pontos, de maneira que a classificação de um Mestre Internacional se situa em torno dos 2400 pontos e a de um Grande Mestre Internacional supera aos 2500 pontos.

O que muita gente não sabe é que se escrevemos ELO com letras maiúsculas, o estaremos fazendo incorretamente, já que ELO não é uma sigla, mas sim a pronúncia do nome do criador do sistema, Arpad Elo (1903-1992), um professor Física, nascido na Hungria, que dava aulas em Wisconsin (Estados Unidos).

Foi no ano de 1969 que Arpad Elo calculou a primeira classificação da Federação Internacional de Xadrez (FIDE), com base nos resultados que os 210 Mestres e Grandes Mestres Internacionais obtiveram entre 1966 e 1968. Posteriormente, e de forma imediata, incorporou também os resultados das partidas disputadas em 1969. Desta forma, a primeira listagem Elo foi publicada no ano de 1970.

A primera clasificação Elo da FIDE em 1970 tinha nas primeiras cinco colocações os seguintes jogadores:

C.....Nome.......................Fed......Elo
1.....Bobby Fischer........USA....2720
2.....Boris Spassky........RUS....2690
3.....Viktor Kortchnoi......RUS....2680
4.....Mikhail Botvinnik......RUS....2660
5.....Tigran Petrossian....RUS....2650

by PEPELU

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Um ator que amava o xadrez

(by: Javier Cordero Fernández)
Não está mais entre nós, fomos surpreendidos com a sua morte em janeiro do ano passado, mas foi uma pessoa que amava e desfrutava o jogo de xadrez.
Estamos nos referindo a Heath Ledger, ator que alcançou fama mundial com o filme Brokeback Mountain, desempenho com o qual foi indicado para um Oscar.

Heath veio ao mundo na cidade australiana de Perth, em 4 de abril de 1979. A vocação para a interpretação veio ainda quando criança, mas antes que isso acontecesse já tinha descoberto um jogo cheio de profundidade e beleza que lhe cativou e nunca mais o deixou... o jogo de xadrez.

Nosso protagonista participou de vários torneios de xadrez infantil, chegando a vencer o campeonato estadual sub-10. Mas isso não durou muito, pois Heath decidiu deixar a sua “carreira nos tabuleiros” para dedicar-se a outra profissão: a de ator. Todos sabemos como é difícil o percurso a ser percorrido para converter-se em um jogador profissional de xadrez profissional, por isso não é de se estranhar que Heath visse mais futuro situando-se por trás das câmeras. O xadrez foi relegado a um segundo plano, mas nunca abandonou sua prática ao nível de amador.

O seu inicio no cinema não foi muito brilhante, algo que acontece com a maioria dos atores. Os papéis que recebia não eram muito brilhantes e a fama, naquele momento, recusava-se a visitá-lo. Por isso decidiu fazer uma mudança drástica na situação e, assim sendo, resolveu se mudar para os Estados Unidos, país onde acreditava existiriam muito mais oportunidades para poder triunfar.

O trabalho e a perseverança começaram a dar frutos, especialmente através de papéis de ator coadjuvante que lhe permitiram tornar-se conhecido. O ano de 2005 é o ano da sua explosão, protagonizando nada menos do que 4 filmes, incluindo entre eles Brokeback Mountain, filme que marcaria a sua carreira e a sua vida. Como sabem, este filme é sobre a relação de dois vaqueiros homossexuais nos anos 60, sem dúvida uma história difícil, especialmente para certos setores da sociedade americana que enraizada de preconceitos desde muitas décadas atrás. Como eu disse anteriormente, foi indicado para um Oscar pela atuação neste filme, além de receber vários prêmios, incluindo o de melhor ator de 2005 (prêmio outorgado pelos críticos de Nova York) e o mesmo prêmio, outorgado pela academia australiana.


Sua fama cresceu e em 2007 teve seu primeiro papel em uma superprodução, dando vida ao vilão Coringa no filme "The Dark Knight", o mais recente sobre o herói Batman. A grande interpretação deste famoso vilão o ajudou a ganhar o Oscar de melhor ator, além de muitos outros prêmios, alguns deles postumamente (como o Globo de Ouro).

O peso da fama começou a interferir na sua vida, pois nem todas as pessoas podem suportar perder sua independência e anonimato. Basta ver quantos astros da musica, do esporte e do cinema que fogem o tempo todo de repórteres e fotógrafos. Heath Ledger morreu na manhã do dia 22 de janeiro de 2008 por uma overdose de pílulas para dormir, sem que tenha sido possível demonstrar que foi um suicídio.

Mas vamos falar um pouco a respeito da sua paixão pelo xadrez, um vício, segundo suas próprias palavras. Apesar de abandonar a prática do xadrez de torneios, seguiu praticando o jogo na sua vida diária, informação passada por ele em muitas entrevistas, afirmando que jogava ao menos uma partida por dia. Heath tinha o hábito de freqüentar o parque Washington Square, em Nova Iorque, para jogar xadrez.

Neste parque existem muitas mesas com tabuleiros pintados em sua superfície, de modo que qualquer pessoa pode jogar ao ar livre, algo muito comum nos Estados Unidos e deveria ser imitado em nosso país, já que é muito difícil ver este tipo de mesa em parques ou outros locais públicos nas cidades brasileiras.

As pessoas que compartilhavam o tabuleiro com o ator comentam que ele não tinha um nível muito alto, mas que jogava com muito entusiasmo e alegria. Seguindo a tradição do local, costumava apostar alguns dólares cada partida (dizem inclusive, que esta era a forma que Humphrey Bogart sobreviveu durante momentos difíceis de sua vida).

Ledger era uma pessoa que desfrutava o xadrez jogando com muita alegria e também com algum sarcasmo, já que gostava de fazer comentário irônicos a seus adversários (tais como: "oh, muito bom este lance... se queres perder, é claro”).

Querendo mostrar seu agradecimento ao jogo que tantas horas de boa diversão lhe dava, Ledger estava trabalhando em um projeto (que seria a sua estréia como diretor) intitulado "O Gambito da Dama", uma adaptação do romance de Walter Tevis, que conta uma estória estreitamente relacionada ao jogo de xadrez, mostrando uma menina órfã que se torna um gênio do xadrez, mas infelizmente sua morte prematura nos privou do filme.

Após a sua morte, em sua cidade natal, com o objetivo de prestar-lhe uma homenagem, 3 esculturas do artista Ron Gomboc foram colocadas na praia onde ele costumava jogar xadrez.

Duas delas relacionadas ao jogo de xadrez (como se vê na foto) e a terceira o símbolo de yin e yang, associado à sua crença na filosofia oriental.

Além disso, na última escultura pode ser lida a seguinte inscrição, a partir de uma carta de Khalil Gibran (também relacionado com a filosofia oriental):

Somente quando beber do rio do silencio cantarás a verdade.
Quando tiveres alcançado o alto da montanha, então iniciará a subida.
Quando a terra firmar seus pés, então, realmente dançarás.

O que os fãs do xadrez podem aprender com Heath Ledger é o seu entusiasmo para com o jogo. Existem momentos em que, por uma ou outra razão, não sabemos como desfrutar dos nossos passatempos favoritos. Heath quando se sentava em frente a um tabuleiro e começa a mover as peças, desfrutava do jogo certo de que ao menos naqueles momentos todos os seus problemas desapareciam.

domingo, 10 de maio de 2009

Xeque-mate. Padrões

(by Pepelu)

Uma partida de xadrez pode terminar de várias maneiras:
- queda da seta do relógio, do nosso ou do adversário;
- empate de comum acordo ou empate técnico;
- rei afogado
;
- um dos jogadores se rende, pois percebe que tem uma posição irremediavelmente perdida.

- Mas uma das maneiras de terminar uma partida que, na maioria dos casos atrai mais o público enxadrista e, possivelmente, de muita beleza é a posição de xeque-mate.

A Wikipedia define o Xeque Mate como: "Xeque mate é uma alteração da expressão árabe [ash-]shah mat, que significa, literalmente, [o] rei está morto".

Não importa o rótulo que damos ao xadrez: ciência, arte ou esporte. Na prática do xadrez existe um objetivo claro, e que devemos perseguir, pois com ele ganhamos a partida: "Dar xeque mate no rei”.

O xeque ao nosso rei ou no rei do adversário é uma ameaça para capturar o rei. Em jogos amistosos, no geral, podemos avisar que uma das nossas peças está dando xeque no rei adversário, mas nos jogos oficiais de torneio, não é necessário alertar o cheque, uma vez que "supostamente" o adversário deve saber pela posição das peças no tabuleiro.

Para se livrar da ameaça de xeque-mate, temos várias opções:

a) Capturar a peça que está nos dando cheque.

b) Interpor uma peça própria, na coluna, linha ou diagonal de onde estão nos atacando. Sempre e quando o xeque não é dado por um cavalo, uma vez que o cavalo salta por cima das peças e não é possível colocar uma peça se interpondo ao xeque de cavalo.

c) Mover o rei para uma casa que não está sendo atacada.

Um destas três maneiras serve para evitar um xeque, mas se não podemos fazer qualquer uma dessas três ações, e não podemos eliminar a ameaça de xeque mediante uma jogada legal, então o xeque é um "Xeque Mate" e termina a partida, pois o rei não pode eliminar a ameaça de forma alguma... CAÇAMOS O REI, OBJETIVO CUMPRIDO!

No entanto, não é fácil chegar a uma posição de xeque-mate e raramente as posições de xeque-mate são uma série de ações aleatórias. Para chegar ao xeque-mate, precisamos de uma combinação de estratégia e tática. Sem esses dois elementos, nunca vamos entender o verdadeiro entremeio das combinações das peças de xadrez, não entenderemos as partidas dos jogadores profissionais, e deixaremos que o erro do adversário ou que a sorte assuma o controle do nosso jogo.

Como cita Garry Kasparov em seu livro, Como a vida imita xadrez: "A estratégia representa o fim e a tática o meio".

A estratégia é o curso de ações (seqüência de movimentos) conscientemente desejadas e determinadas que buscam uma finalidade que nos aproxime de nossos objetivos. Assim, como explicado acima, o objetivo do xadrez é capturar o rei, portanto, a estratégia no xadrez está a implementar um sistema que visa capturar o rei contrário.

A tática é o conjunto de ações específicas nas quais nossas peças se combinam para alcançar um objetivo. Digamos que a tática é a execução das nossas ameaças.

Muitas vezes em nossa vida cotidiana, necessitamos da estratégia e da tática para realizar determinadas ações. Por exemplo, para conseguir um trabalho qualitativamente melhor, precisamos de um plano (estratégia): encontrar um emprego em nosso setor, selecionar as empresas que nos interessam, um tempo adequado para a pesquisa, buscar nos melhores portais de emprego, etc. Mas também necessitamos a tática: na entrevista, temos de convencer nosso interlocutor que somos a pessoa que ele está procurando.

Não podemos esperar que o trabalho venha até nós, não fazer nada para encontra-lo ou simplesmente não planejar adequadamente a busca. O trabalho até pode chegar a nós, a sorte pode fazer que o encontremos, mas na maioria dos casos, o sucesso não chegará se não planejarmos adequadamente.

Se entendermos a importância da estratégia e táctica, não será difícil compreender porque é tão importante o estudo da teoria no xadrez, o conhecimento de posições típicas, e a análise das próprias partidas.

O melhor para entender esses conceitos comentados é colocar uma posição típica de xeque-mate.

Posição número 1

Esta posição reflete uma posição típica de mate. Para tentar englobar posições típicas no xadrez, vamos chamá-las de "temas". No caso, este é um tema tático de ataque ao roque. Se olharmos para a posição, o rei negro está isolado na casa h8. Também podemos observar que o rei não tem muitas casas para onde se mover, já que tem diante de si os peões de h7 e g7, os quais, inclusive, não estão defendidos por nenhuma peça negra. Assim podemos dizer que o roque negro é débil.

A posição do branco também é delicada, já que o rei está em uma coluna aberta sem qualquer proteção, contudo, suas peças ocupam diagonais e colunas, portanto, e dessa forma são mais dinâmicas e podem entrar em ação rapidamente.

Se nesta posição fosse a vez das negras jogar, teriam uma vantagem decisiva, pois tomariam o cavalo de “e7” e teriam vantagem material e iniciativa. No xadrez o tempo é fundamental e, para o azar das negras, o lance é das brancas.

Assim, o branco precisa de uma combinação tática, que crie uma posição favorável ou ganhadora. Para tanto, não deve hesitar em sacrificar material, se os cálculos estão corretos. Neste caso:

1.Qg8+ Rxg8 (o rei não pode capturar a dama em g8 porque está protegida pelo cavalo de e7) 2.Ng6+ hxg6 (única porque o rei não pode mover-se, está preso em h8 e não existe outra jogada legal para sair do xeque) 3.Rh1++ (xeque mate!).

Uma técnica, quando não vemos uma combinação que nos dá uma vantagem, é a de isolar do tabuleiro e da nossa mente as peças que não estão envolvidas na ação. Neste exemplo, de ataque ao roque, o tabuleiro ficaria assim:

Posição número 1 simplificada

Qual a forma mais fácil de visualizar uma combinação?

Para ter uma visão geral da partida é necessário que todas as peças que estão no jogo estejam na nossa mente e no nosso tabuleiro, mas para uma ação concreta podemos isolar as peças que estão envolvidas na combinação. A visão global e a visão específica é o mesmo que estratégia e táctica.

Para quem deseja trabalhar um pouco a visão concreta (tática) recomendo o livro Cadernos Práticos de Xadrez – Ataques ao Roque [ http://www.agapea.com/libros/ATAQUES-AL-ENROQUE-CUADERNO-PRACTICO-AJEDREZ-5-isbn-8479026251-i.htm ], de Antonio Gude.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Simultânea de Xadrez

Um grupo formado por 20 experimentados jogadores da cidade de São Caetano do Sul – SP, enfrentou o jovem Mestre Internacional Krikor Sevag Mekhitarian em uma simultânea na manhã do sábado, 25 de abril, nas dependências da unidade SESC São Caetano.
Foto (by: Fábio Zampietro) da esquerda para a direita: Paulo e Gilván. De pé: Waldomiro, Vagner, Ribamar, Toshiaki, Maraz, Elias, Krikor, Fábio, Vicentin, Mario Vaz, Erivaldo e Pedro Paulo.
O resultado final foi o seguinte:
- 1 derrota (Marcos Vicentin),
- 2 empates (Mario Vaz Jr e Elias Curiacos) e
- 17 vitórias (Luis Novazzi, Pedro Paulo Parreira, Carlos Camacho, Lourinaldo Estevan, Ribamar de Freitas, Gilvan Mascarenhas, Fábio Bernardo, Paulo Henrique Pinto, Waldomiro Machado Jr, Ricardo Maraz, Erivaldo Pegoraro, Vagner Rufino, Toshiaki Ikeda, Luiz Roberto Pereira, Ramiro Chagas, Fabio Yoshio Kashino e Fabio Adriano de Oliveira).

Muito simpático e cordial, ao final de cada partida Krikor fazia uma análise rápida comentando e incentivando comentários do próprio jogador a respeito de um ou outro lance. Terminada a simultânea agradeceu a todos e colocou-se à disposição para responder perguntas ou fazer uma análise mais completa das partidas dos jogadores que tivessem interesse.

Foto (by: Fábio Zampietro): visão parcial do salão - Krikor e os participantes

Abaixo a partida que tive a oportunidade de jogar:

Mekhitarian, Krikor Sevag - Vaz Jr, Mario [B07 - Pirc Defence: Miscellaneous Systems] Simultâmea - SESC São Caetano, 25.04.2009 [analysis by: Deep Shredder 10 UCI (1800s)]

1.e4 d6 2.d4 Nf6 3.Nc3 c6 4.f4 Qa5 5.Bd3 e5 6.Nf3 Bg4 7.Be3 Nbd7 8.0–0 Be7 9.h3 Bh5 10.g4
[10.Qe1 exf4 (10...Bxf3 11.Rxf3 Qc7 12.Ne2 d5 13.Ng3 dxe4 14.Bxe4 Nxe4 15.Nxe4 f5 16.Nd2 e4 17.Rf1 Nb6 18.c4 Bf6 19.Rc1 Qf7 20.Qe2 0–0 21.Rfd1 Kh8 22.Nb3 Rad8 23.Nc5 Rg8 24.a4 g5 25.a5 Dole-Van den Heever Cape Town, 2007 0–1 (37)) 11.Bxf4 Bg6 12.e5 dxe5 13.dxe5 Nd5 14.e6 Qb6+ 15.Kh1 fxe6 16.Bxg6+ hxg6 17.Bg5 N5f6 18.Qxe6 Qxb2 19.Bxf6 gxf6 20.Rab1 Qxc3 21.Rxb7 0–0–0 22.Rfb1 Rxh3+ 23.Qxh3 f5 24.Qh2 f4 Browne-Benjamin Modesto, 1995 1–0 (49)]

10...exf4 11.Bxf4 Bg6 12.Qd2
[12.Qe1 Qd8 (12...0–0 13.Nd5 Qd8 14.Nxe7+ Qxe7 15.Qb4 c5 16.Qxb7 c4 17.Bxc4 Bxe4 18.Rae1 Rfb8 19.Qa6 Rb6 20.Qa3 Nf8 21.g5 Qc7 22.gxf6 Qxc4 23.Rxe4 Qxc2 24.Nd2 Rxb2 25.fxg7 Ng6 26.Qxd6 Rb6 27.Qd5 Petrov-Morrison Ohrid, 2001 1–0 (32)) 13.Nh4 0–0 14.Nxg6 hxg6 15.e5 dxe5 16.dxe5 Bc5+ 17.Kg2 Re8 18.Qg3 Nd5 19.Nxd5 cxd5 20.Qf3 Bd4 21.Bxg6 Nxe5 22.Bxe5 Rxe5 23.Qxf7+ Kh8 24.Rae1 Rxe1 25.Rxe1 Qf8 26.Rd1 Qxf7 Mikac-Stubljar Nova Gorica, 2004 1–0 (40)]

12...0–0 13.Rae1 Rae8 [13...Rfe8 14.Rf2 com brancas um pouco melhor]

14.Qh2 [14.Nd5 Qxd2 15.Nxe7+ Rxe7 16.Nxd2 Re6 +-]

14...Qb4? [14...Qb6 15.Bxd6 Bxd6 16.Qxd6 com brancas um pouco melhor]

15.Bc1 [melhor seria: 15.a3!? Qb6 (15...Qxb2?? 16.Na4 Qa2 (16...Qxa3 17.Ra1 Qxa1 (17...Nxg4 18.hxg4 Qb4 19.Bd2+-) 18.Rxa1 Bxe4 19.Qe2 d5+-) 17.Ra1 Nxg4 18.Rxa2 Nxh2 19.Kxh2+-) 16.g5+-]

15...h6 [assegurando g5]

16.a3 [16.Kg2 c5 17.e5 Bxd3 18.cxd3 dxe5 19.dxe5 Nh7 com brancas um pouco melhor]

16...Qb6=

Foto (by: Fábio Zampietro): Krikor analisando a posição após 16...Qb6


17.Kh1 d5? [melhor seria: 17...c5 permitiria às negras jogar 18.Qf2 Bd8=]

18.e5 [com brancas melhor]

Foto (by: Fábio Zampietro): Krikor jogando 18.e5

18...Bxd3 [melhor seria: 18...Nh7!? 19.e6 Ndf6 20.Bxg6 fxg6 com brancas um pouco melhor]

19.exf6+- Bxf6 20.cxd3 Bxd4 21.Qd6 [21.Na4 Qa5 22.b4 Qxa4 23.Nxd4 f6+-]

21...Rxe1 22.Rxe1 Bxc3 23.bxc3 Qf2 24.Qf4 Qc2 25.Qd2 Qa4 [25...Qxd2 26.Bxd2 Nc5 27.Re7 Nxd3 28.Rxb7+-]

26.Qf4 [26.Nd4!? pode ser o caminho mais curto 26...Nc5+-]

26...Qc2


Foto (by: Fábio Zampietro): após 26...Qc2, Krikor agacha-se e faz o seguinte comentário: que Dama pentelha! rssss...


27.Re7 [melhor seria: 27.Qd2!? Qxd2 28.Bxd2+-]

27...Nc5 [com brancas melhor] 28.Qd2 Qb1 29.Re1 [melhor seria: 29.Ne1!? Nb3 30.Qb2 Qxc1 31.Qxb3 com brancas melhor]

29...Nxd3= 30.Rd1 [30.Rf1 Re8=]

30...Nxc1 [30...Nc5!? 31.Kg2 f5 com negras um pouco melhor]. As negras ofereceram empate e as brancas aceitaram ½–½. Neste momento seis partidas já tinha terminado, todas com vitórias do Krikor.


Foto (by: Fábio Zampietro): Krikor Sevag Mekhitarian e Mario Vaz Jr. Ao fundo: Estevam (camiseta azul) e Erivaldo (camiseta amarela)